Para beber da fonte da cultura
popular do Maranhão
Rita
Ribeiro aproveita os últimos dias dos festejos juninos para visitar comunidades
tradicionais da Ilha, manter contato com os mestres populares e recolher
imagens para seu próximo DVD que será gravado em São Luís em setembro.
A
cantora Rita Ribeiro desembarcou na noite da última quinta-feira, 23, em São
Luís para participar dos festejos juninos. Na Ilha, ela chega para visitar os
mestres da cultura popular do Maranhão, terreiros e arraiais da cidade bebendo
da fonte direta da cultura popular. A visita também tem como objetivo registrar
imagens para um mini documentário que a cantora incluirá em seu próximo DVD que
será gravado em setembro, no Teatro Arthur Azevedo.
E para isso, tem visitado as comunidade tradicionais, onde –
acredita a artista – a cultura popular está mais enraizada. “Sempre me
alimentei da cultura popular do Maranhão e fazia um tempo que não conseguia vir
aqui neste período. Este ano, como faço aniversário dia 13 de julho, decidi me
dar de presente este tempo aqui no Maranhão, de onde sempre busquei inspiração
para o meu trabalho”, declara a cantora.
Uma das comunidades visitadas por Rita Benneditto foi o
Maracanã. No dia do batizado do novilho, realizado na véspera do dia de São
João – como é tradição entre os bois de matraca -, ela cantou uma toada ao lado
de Ribinha (filho de Humberto de Maracanã, que comandou o batalhão até o começo
do ano passado, quando faleceu). “Fiquei muito feliz até porque soube lá que eu
fui a primeira mulher a cantar uma toada no boi de Maracanã”, celebra.
Para Rita Benneditto, voltar ao Maranhão para vivenciar as
festas juninas (desta vez ela vem sem agenda de shows) é muito prazeroso.
“Elaboramos um roteiro de visitas aos nossos mestres populares porque
precisamos registrar. Alguns já morreram, como Humberto, Felipe (do tambor de
crioula), e cabe a nós levarmos para as novas gerações a importância destas
pessoas”, observa.
Além do boi de Maracanã, Rita Benneditto também visitou o
terreiro da Fé em Deus, o tambor de crioula de Mestre Felipe e o boi de Santa
Fé. “Estas manifestações são vivas porque as comunidades as mantém vivas. Não
tem crise, dificuldades na política ou outros obstáculos que impeçam estas
comunidades de se reunirem e fazerem essa cultura acontecer. Isso é lindo e é
nosso”.
O
DVD
Durante sua estada em São Luís, Rita Benneditto colhe imagens
que farão parte de um mini documentário que será incluído nos extras de seu
próximo DVD. Trata-se do registro audiovisual de “Encanto”, cujo CD foi lançado
ano passado. Ela gravará o DVD em setembro, no Teatro Arthur Azevedo e terá
entre os convidados Arlindo Cruz, Roberto Frejat e as caixeiras do Divino
Espírito Santo da Casa Fanti-Ashanti.
O DVD será o segundo passo depois do lançamento do CD homônimo,
uma exaltação do conceito de fé por meio de um repertório que bebe nas fontes
dos mais variados credos. “‘Encanto’ tem isso, essa coisa da magia, do
encantamento, da fé. Tudo isso que o Maranhão representa, por isto mesmo quis
gravar aqui o DVD. Para mostrar isto para as pessoas”, explica Rita Benneditto.
Este é o sexto disco da cantora e marcou seus 25 anos de
carreira. No repertório, releituras e músicas inéditas que mostram muito das
raízes da artista, que tem com a cultura maranhense uma forte ligação.
Um exemplo disto é a música “Canto para Yemanjá”, que traz, da
Casa Fanti-Ashanti, a música incidental para “Guerreiros do mar”, composição de
Marcio Local e Felipe Pinaud - este último, ao lado de Lancaster Lopes, assina
a produção do álbum.
O trabalho reúne ainda “Canto da Mata”, canção na qual Rita Benneditto
reverencia a cabocla Jurema, entidade presente em outros discos a exemplo do
“Tecnomacumba”, que rendeu ótimos frutos e que, de certa forma, inspirou
“Encanto”.
Entre as releituras, destaque para “Fé”, composição de Erasmo
Carlos e Roberto Carlos, sucesso na voz deste último em álbum de 1978; “Santa
Clara Clareou”, de Jorge Ben Jor; “Água”, de Djavan; e “Extra”, de Gilberto
Gil.
O Maranhão vem ainda em “Banho de manjericão”, de João Nogueira
e Paulo César Pinheiro, sucesso da cantora mineira Clara Nunes, que difundiu na
década de 1970 a música e a cultura afro-brasileiras. Pelas mãos do
percussinista maranhense Papete (falecido no fim de maio), a música ganha força
ainda com a participação do babalorixá Oboromin T’ogunjá que incorpora o Pai
Benedito das Almas de Angola.
Tem ainda a música “De Mina”, composição de Josias Sobrinho,
cujos arranjos mesclam a batida do Tambor de Mina com um solo de guitarra
executado por Roberto Frejat. “Quando as pessoas ouvem o disco ficam encantadas
com esta música. Ela é algo do mundo ao mesmo tempo em que é muito nossa. É
isto que quero mostrar no meu trabalho, essa força que o Maranhão tem e que não
deixa nunca as matracas se calarem”.
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