Elza Soares: com fôlego de gata
Aos 78 anos, recuperada de uma cirurgia na coluna, a cantora brilha nos palcos com uma homenagem a Lupicínio Rodrigues.
Bruna Castelo Branco
Editora do Alternativo
Editora do Alternativo
12/10/2014
Elza Soares, além de retomar a vida nos palcos
“Estou louca para ir ao Nordeste. Vamos armar esse show aí, meu amor?”,
assim Elza Soares inicia uma conversa simpática por telefone com O
Estado sobre a sua vontade de trazer para São Luís o novo trabalho, o
show Elza Canta Lupicínio, uma homenagem ao gaúcho Lupicínio Rodrigues,
um dos compositores mais importantes para alavancar a carreira da jovem
lavadeira, recém-chegada do “Planeta Fome”, como a própria diva se
definia no início da carreira.
De Lupicínio, cujo
centenário é celebrado este ano, Elza gravou canções que se eternizaram
na voz dela como Se Acaso Você Chegasse, gravada em 1960. No show, Elza
permanece sentada, pois, no início do ano ela se submeteu a uma
cirurgia na qual precisou colocar nove pinos na coluna, portanto, ainda
precisa de cautela nos movimentos. Sentadinha no centro do palco, ela
canta, dança, se emociona e emociona o público com a sua voz e sua
personalidade. Ela é sim, dura na queda, apelido que rendeu uma
composição de Chico Buarque. “Estou ainda me recuperando, mas a voz
continua maravilhosa, eu sou gostosa. Faço 15 shows por mês. A música me
dá saúde, faz parte da minha personalidade, da minha alma que é levar a
vida para o palco”, diz, para logo ressaltar a emoção que é o show. “O
show é lindo, eu costumo dizer que é Elza Canta e Chora Lupicínio, eu me
emociono demais. O show tem arranjos do maestro Eduardo Neves e uma
seleção de músicos jovens tocando de uma maneira incrível”, define.
O
show deve ser transformado em CD e DVD, em uma gravação programada para
acontecer em Porto Alegre, em novembro. Mesmo sem nenhuma previsão de
apresentar o show em São Luís, Elza não esconde a vontade de voltar a se
apresentar na capital maranhense, especialmente no Teatro Arthur
Azevedo, palco que cantou na gravação do CD e DVD do Mestre Antônio
Vieira. “Eu participei com o Zeca Baleiro, aquele show maravilhoso.
Estou doida para voltar naquele teatro”, destaca.
Além
da lembrança do show, a artista tem uma relação mística com o
teatrólogo Arthur Azevedo, antes mesmo de saber da existência dele, uma
noite ela sonhou com um homem que tinha a mesma aparência do dramaturgo.
No sonho, ele se identificava pelo nome e a levava para uma casa, uma
casa grande e rosa. “No sonho, ele me mostrava uma caixa que tinha uma
aliança e dizia que podia me ajudar. Foi um pouco antes de eu perder meu
filho. Eu contei esse sonho para o José Louzeiro (escritor maranhense e
biógrafo de Elza Soares) e ele me mostrou uma fotografia em um livro.
Eu senti um arrepio que eu nem sei explicar. Eu tenho visões, mas fiquei
muito impressionada com essa história. E o teatro é rosa, é a casa
dele. Eu me senti muito abençoada”, relembra.
Trajetória
- Elza Soares começou a carreira como cantora de rádio e, paralelo à
sua ascensão como diva da música, sofreu dificuldades financeiras,
violência doméstica, foi vítima de preconceito racial e também machista,
teve perdas irreparáveis na vida, mas sendo dura na queda sempre seguiu
em frente, buscando uma força que nem ela mesma sabe explicar de onde
vem. “Eu tenho uma proteção muito grande, algo que me dá essa força
toda”, define.
Toda a história de Elza Soares foi
contada no livro Cantando pra não enlouquecer, de José Louzeiro e
publicado na década de 1990. Agora, além da biografia, a vida da cantora
foi contada no documentário My Name is Now, da cineasta mineira
Elisabeth Martins, exibido recentemente no Festival do Rio. “O livro é
lindo, nem demoramos tanto tempo para fazer, eu fui contando minha vida.
Foi rápido. O filme também sou eu. É a Elza cantando, falando. É um
pedaço de mim. Assim eu estou, cinema, show e com saúde”, encerra.
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