Prédio desaba durante incêndio no centro de SP
Um edifício de 24
andares desabou por volta das 2h20 da madrugada desta terça-feira
(1º) depois de pegar fogo no início da madrugada no Largo do Paissandu, no
centro de São Paulo. Cerca de 150 famílias moravam nos primeiros dez andares do
prédio, que era uma ocupação irregular, de acordo com a prefeitura.
Segundo o
Corpo de Bombeiros, ao menos uma pessoa está desaparecida. É um homem que estava sendo retirado pelos bombeiros por um
cabo do alto do edifício quando houve o desabamento.
Mais cedo, a corporação disse que havia três desaparecidos, mas recuou.
Moradores relatam, entretanto, que há ao menos outras três pessoas
desaparecidas, sendo duas crianças.
Entre
possíveis desaparecidos está a mãe do mecânico desempregado Lucas Souza Sampaio,
32. Eles moravam no terceiro andar do prédio que desabou. Sampaio contou que,
quando percebeu o fogo, subiu até o 6º andar para ajudar a irmã, que está
grávida e tem um filho pequeno. Enquanto eles desciam as escadas, a parte
interna do edifício começou a ceder. Como o fogo era intenso, ele desceu
sem socorrer a mãe. "Já circulei por tudo aqui e não acho. Acho que ela
não conseguiu sair", diz ele.
A reportagem do UOL chegou ao
local pouco antes de 3h, quando os bombeiros ainda isolavam o local. Na rua,
cerca de cem pessoas, entre moradores e vizinhos dos prédios ao lado, buscavam
informações sobre conhecidos e lamentavam os pertences perdidos.
Por volta das 11h30, cerca de 130 homens do Corpo de
Bombeiros trabalhavam para contar focos de incêndio e na busca por
sobreviventes, com a ajuda de cães farejadores.
Surpreendidos pelo fogo enquanto dormiam, os moradores deixavam o prédio
em chamas quando houve o desabamento. "Estava dormindo, ouvi os gritos e
vidros caindo. Quando percebi que era fogo, chamei eles [os filhos] e saí
correndo", diz Deise da Silva Rodrigues, 31, que morava havia um
mês na ocupação, depois de ser desalojada de outro prédio, também no centro.
Descalça, Deise contou que tinha um "barraco", como eles costumam
chamar o local que ocupavam no 3º andar, com cinco filhos.
Perdi documento, perdi roupa, perdi
tudo. Só deu tempo de sair correndo e mais nada
Marinalva Alves Lemos, 45, que
morava na ocupação com o companheiro
O prédio pertencia à União e era uma
antiga instalação da Polícia Federal, ocupada irregularmente. O presidente
Michel Temer (MDB), que já estava em São Paulo, visitou o local por volta das
10h e prometeu do governo às famílias vítimas do incêndio.
De acordo com o prefeito Bruno Covas (PSDB), havia 150 famílias no
prédio cadastradas na Secretaria de Habitação para serem retiradas do edifício.
Antes do incêndio, a prefeitura afirmou que estava em contato com o governo
federal, proprietário do edifício, para que ele fosse desocupado, segundo
Covas.
O edifício era uma das oito ocupações existentes no centro de São Paulo.
De acordo com a Secretaria de Assistência Social, 248 pessoas foram
identificadas como moradores e serão levadas a abrigos da prefeitura.
Saí só com a roupa do corpo e com a
minha menina. Já morei em outras ocupações, morei na Lapa, em barraco
da Inajar de Souza [avenida na zona norte da cidade]. Nunca tive nada
de importante e agora perdi o pouco que consegui."
Gisele Félix das Neves, 18
Prédio sem
condições de moradia, diz governador
O governador do Estado, Márcio França (PSB), esteve no local
por volta das 5h e disse que, após a contenção do fogo,
cães farejadores serão empregados na busca por sobreviventes em meio aos
destroços. "É uma tragédia anunciada. Tem muita estrutura metálica, muito
lixo que é jogado no fosso dos elevadores", disse França. "É um
prédio que não tem a mínima condição de moraria. A União não podia ter deixado
ocorrer essa ocupação."
Testemunhas disseram ter ouvido um estrondo muito alto antes do
desabamento. "Parecia uma bomba. Quando olhei, já estava no chão",
diz a cozinheira e microempresária peruana Eva Vilma Sobero Pio,
57, que mora no prédio ao lado e estava acordada no momento. "Só ouvi
vidros quebrando e muitos gritos, muita gente gritando, crianças, um
horror", conta.
Ela confirma a informação de que o lixo era jogado nos fossos dos
elevadores, que não funcionavam. "Minha filha e eu já ligamos várias vezes
na prefeitura para pedir providências, porque é muita sujeira, muito
lixo", diz Eva Vilma.
Por volta das 4h15, homens da Defesa Civil começaram a reunir os
moradores para um cadastramento prévio das famílias, para identificar a melhor
forma de oferecer ajuda e abrigo. Pouco antes, um grupo de moradores cogitou
passar a noite em outro prédio ocupado, no bairro de Santa Cecília.
Segundo Cesar Hernandes, coordenador
do setor de emergências da Secretaria Municipal de Assistência e
Desenvolvimento Social da prefeitura, serão fornecidos cobertores e colchões
para os moradores dos dois prédios. Aqueles que não tiverem para onde ir devem
ser encaminhados para centros de acolhida da região. *Colaboraram Nathan Lopes e Marcelo Freire
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