Larguem o osso

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Larguem o osso

CARLOS HEITOR CONY


RIO DE JANEIRO - Sem entrar no mérito do bate-boca da semana passada na Câmara dos Deputados, que provocou a renúncia do ministro de Educação, de tudo o que foi dito e berrado no plenário, apreciei o desabafo do Cid Gomes quando lançou seu grito de guerra da tribuna, exigindo que especialmente o pessoal da base aliada, que dá sustentação automática ao governo de dona Dilma:
-- Larguem o osso!
Numa generalização injusta, o brado do ex-ministro poderia servir para todos.

Mas a carapuça tinha destinação certa: a turma da base aliada que cobra o preço da aliança por favores diversos, desde um cargo no segundo escalão, uma verba para asfaltar a rua onde mora um cabo eleitoral, até uma cópia da licitação que ainda não foi publicada no "Diário Oficial da União", destinando uma verba colossal para a construção de uma usina nuclear que ainda não foi projetada.
Este é o osso lembrado pelo ex-ministro que tanto irritou os deputados comprometidos com o governo. Tem mais: o Ariano Suassuna, falecido há pouco, desmentia veementemente a sabedoria popular que garante para os cachorros a preferência pelo osso. Dizia o Ariano que, se botasse lado a lado um osso e um bife de filé mignon, o osso seria desprezado pelo cachorro.
O pedido feito pelo ex-ministro tinha endereço certo, mas incompleto. Quando o governo está mesmo interessado em fazer um viaduto ligando o Oiapoque ao Chuí, viaduto que nunca será construído, o pessoal da base aliada desprezará o osso, preferindo o bife.
Apoiado por Ariano Suassuna, meu ex-colega que tanto me ensinou, desconfio que brevemente o governo não oferecerá ossos à base aliada, mas suculentos bifes da melhor Pasadena do mercado.

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