Globeleza vestida na vinheta de Carnaval agrada feministas

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Globeleza vestida na vinheta de Carnaval agrada feministas

GABRIELA SÁ PESSOA
FOLHA DE SÃO PAULO
A Globeleza de 2017, Erika Moura
A Globeleza de 2017, Erika Moura

A Globeleza sambou na cara da sociedade em 2017. Logo ela, que todo ano se torna um símbolo do ziriguidum pré-Carnaval: desta vez, esteve à frente de uma bateria de discussões pois, pela primeira vez desde 1992, dançou completamente vestida na TV.

Na noite de 8 de janeiro, um domingo, o "Fantástico" (Globo) exibiu a nova vinheta com a personagem. A paulista Erika Moura, no posto desde 2015, dançou frevo, samba e outros gêneros trajando no mínimo um maiô e, no máximo, um vestido que lembra trajes do maracatu (ao lado).


No dia seguinte (9), o assunto ficou 14 horas entre entre os mais comentados no Twitter brasileiro.

A repercussão se dividiu em duas alas. A primeira festejava a novidade e via no vestuário de Moura um avanço na representação da mulher negra. A segunda, a via como um reflexo do conservadorismo de um Brasil mais careta.
Na leitura da Globo, a recepção foi positiva. "Podemos dizer que o público está entrando nesta festa conosco", disse a emissora, em nota.
A Globo afirma que a mudança não partiu de pesquisa de uma opinião ou da percepção de que a representação do corpo feminino tenha mudado em razão das discussões sobre gênero e raça.

Nos últimos cinco anos, é raro o mês em que o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) não julgue uma propaganda que envolva queixas sobre exploração do corpo feminino.

Ainda segundo a emissora, não se trata necessariamente de um novo padrão. "A tendência é mostrar a diversidade, o figurino foi apenas uma das ferramentas. Ainda não estamos trabalhando na vinheta de 2018, mas queremos surpreender."
Vivendo na Europa, o publicitário Washington Olivetto diz estar alheio ao debate. Mas pensa que, para causar impacto com alguma mudança em uma criação muito reconhecida, seja "natural" a emissora escolher "o contraste, o inverso" do que a Globeleza representa e a vista.

ME REPRESENTA

Erika Moura, 24, dança desde os 5, quando observava fascinada Valéria Valenssa, a Globeleza emérita, gingar nas vinhetas de Carnaval.
"Cresci vendo o nosso corpo como arte, como objeto de trabalho. Vejo meu corpo sendo utilizado para esse propósito. Pintada ou com roupa, não levo para a sexualidade."

A personagem tem importância diferente para quem milita pela igualdade de direitos para mulheres negras.

"Para nós, é importante. Não é apenas a Globeleza vestida, é romper a objetificação de séculos da mulher negra, sempre colocada de maneira ultrassexualizada –o que contribui para essa imagem de que ela é lasciva e justifica a violência contra nossos corpos", argumenta a pesquisadora Djamila Ribeiro.

Em 2016, ela e a ativista Stephanie Ribeiro criticaram a personagem no blog Agora É que São Elas, da Folha.

A nudez pode ser "uma libertação para a mulher branca que, de forma geral, é construída para ser 'de casa'", diz Djamila. "Para a negra, tem sempre outro caráter. Ela é colocada sempre assim, como se tivesse que servir aos desejos masculinos."

São críticas que o criador da personagem e da vinheta, o designer Hans Donner, diz não se recordar de ouvir: "Sempre senti a felicidade das pessoas por transformar o corpo em uma obra de arte".

Donner dirigiu a vinheta na era Valenssa, de 1992 a 2005 (eles são um casal desde 1994). Continuou como consultor, mas neste ano não se envolveu: "Ficou bom". O designer conta que já notava a redução progressiva da nudez –nos anos 1990 a pintura chegou a ser só um tapa-sexo.

Para Donner, a Globeleza representa um "momento especial", em que muitos esperam festa. "Virou como se fosse uma abertura de programa, um grafismo que representa o produto –no caso, a transmissão do Carnaval." 

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