Do terreiro ao estrangeiro, o samba completa cem anos de história

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Do terreiro ao estrangeiro, o samba completa cem anos de história

Aniversário

Considerada a primeira canção do gênero, "Pelo telefone" foi registrada por Donga em 1916

Do terreiro ao estrangeiro, o samba completa cem anos de história Fraga/Agência RBS


Foi há cem anos, no dia 27 de novembro de 1916, que Ernesto Joaquim Maria dos Santos, mais conhecido como Donga, registrou na Biblioteca Nacional a partitura daquele que ficaria conhecido como o primeiro samba da história: Pelo telefone. No seu glorioso centenário, o gênero se tornou o grande símbolo da música brasileira. Em Porto Alegre, a data será comemorada neste domingo (27/11) com o evento Samba das Flores – O Universo Feminino no Samba, no Vila Flores (veja detalhes no roteiro da página 10). No dia 2 de dezembro, quando será comemorado o Dia Nacional do Samba, estreia o festival Histórias de Gafieira – 100 Anos de Samba, na Sala Álvaro Moreyra.

Os bastidores da criação de Pelo telefone dão uma pista de como a história do samba tem mais nuanças do que o imaginário costuma revelar. Como explica o pesquisador Carlos Sandroni no livro Feitiço decente (Zahar/Editora da UFRJ), o próprio Donga reconheceu que não era exatamente o autor do tema, o qual teria recolhido – uma das teses é que foi composto coletivamente na casa da Tia Ciata, uma das baianas radicadas no Rio que davam memoráveis festas. Mauro de Almeida, que ganhou crédito como autor da letra, também relativizou sua própria participação, como conta Sandroni: inspirou-se em trovas populares.
Há ainda quem debata o papel de Pelo telefone, pois o que reconhecemos hoje como samba tem mais características da música que começou a ser feita nos anos 1930 no Estácio de Sá por nomes como Ismael Silva. Até hoje os estudiosos se debruçam sobre os dois tipos de samba. Em uma célebre "acareação" sobre o tema, Ismael considerou Pelo telefone um maxixe, enquanto Donga chamou Se você jurar, de Ismael, de marcha.
Hoje, sabemos que samba é tudo isso e muito mais. Senão, vejamos: samba de enredo, samba-canção, samba de breque, partido alto etc. Em suas mutações, o gênero nacional por excelência foi combinado com jazz, rock, rap e música eletrônica, apenas para citar alguns exemplos. Se há algo que o defina é a capacidade de congregar diferentes raças e classes sociais. A historiadora Maria Clementina Pereira Cunha, autora do livro Não tá sopa – Sambas e sambistas no Rio de Janeiro, de 1890 a 1930 (Editora da Unicamp), afirma:
– A despeito da síncopa africana e do peso conferido pelos anos de escravidão em seu processo de formação, o samba se constituiu como uma linguagem que, construída aos poucos e não sem conflitos, pode ser apropriada de muitas maneiras por sujeitos muito diferentes. Isso ajuda a explicar a longevidade do gênero, que transita do Carnaval para a bossa nova, da MPB de volta aos terreiros, adaptando-se sempre às variadas exigências do público, do tempo e do mercado.
Apesar de sua permanência, o samba vive hoje uma nova realidade frente à divulgação de gêneros com mais presença nos meios de comunicação, como sertanejo, forró e pagode, e observando a popularização, nas periferias, de sons como rap e funk. O crítico musical Tárik de Souza, que lançará em dezembro os livros MPBambas e Sambalanço (ambos pela editora Kuarup), observa:
– Se o samba não é mais popular e acabou confinado a uma espécie de elite informada, credite-se tal fato não à produção do gênero, que continua atuante, mas ao veto criminoso da mídia principal, que concentrou seus investimentos vultosos e excludentes no trinômio sertanejo-forró-pagode. De fato, o funk e o rap ganharam território nas periferias onde o samba era hegemônico. Mas por seu enraizamento na alma do país é difícil acreditar no seu desaparecimento.
Autor de livros como Almanaque do samba (Zahar), o historiador André Diniz complementa:
— O samba é um porta importante para entender a diversidade da cultura brasileira, as suas identidades. Acho que o samba tem as duas coisas, a construção modernista da valorização da mestiçagem e, é claro, a escolha pela própria sociedade como um gênero predileto nacional no século 20.

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