A lábia de Lula: o ex-presidente prova mais uma vez que é mestre em domínio da massa.

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A lábia de Lula: o ex-presidente prova mais uma vez que é mestre em domínio da massa.

Fabio Braga/Folhapress
Prof. Eugenio Araújo. Prof. Pós. Doc. Em Hist. da Arte, Dep. de Artes/UFMA.

Pode-se criticar o ex-presidente Lula por tudo lá o que for. Mas há que reconhecer essa que parece ser sua maior virtude: a capacidade de comunicação com as massas. Depois de ser conduzido à força para depor na 24ª fase da Operação Lava-Jato; depois de ser acordado de surpresa e retirado de casa às 6:00 da manhã; depois de passar mais de 3 horas repetindo respostas, que segundo ele mesmo, já foram dadas; depois de passar por tudo isso, o ex-presidente encontra forças para fazer um pronunciamento público que corrobora seu perfil de grande comunicador: Lula conseguiu reverter um fato negativo em positividade. Tudo isso apenas através do discurso. Não foi uma entrevista, foi um comunicado. Assim, ele já escapou de todos questionamentos. Mas não importa que os repórteres tenham sido impedidos de fazer perguntas, que ele não tenha tocado nas questões colocadas pela investigação, não importa que o cansaço, a vergonha, não importa nada. Lula tem lábia.


Se a oposição tivesse ao menos um político com a metade do carisma e da lábia de Lula, Dilma já teria caído. Se compararmos o ex-presidente com os dois nomes que concorreram com Dilma nas duas últimas eleições presidenciais, tudo fica ainda mais claro. José Serra e Aécio Neves não conseguiram,  nem no nível do discurso, derrotar uma candidata fraca como Dilma Roulssef. Lembro bem do tempo em que Lula concorreu à presidência nas primeiras campanhas. Quando Lula falava, os outros candidatos calavam. Isso não é um dom, ao contrário do que dizem por aí. A ORATÓRIA é uma disciplina tão antiga quanto a filosofia grega.

Os filósofos helenos se preocuparam, desde muito cedo, com a forma com que se fala certas coisas. A FORMA e MANEIRA de falar é tão importante quanto aquilo que se fala – o CONTEÚDO. Segundo alguns, é até mais importante. Em muitos casos, dependendo do público que escuta, é a única coisa que realmente importa. Quando a audiência é pouco educada e pouco esclarecida não adianta tentar fazer análises profundas, é melhor tentar ser direto, curto e grosso. Ser duro, ser dramático, ser emotivo. É a linguagem das massas. Lula sabe fazer isso muitíssimo bem. Não nasceu sabendo. 

Aprendeu a duras penas, na escola do sindicalismo paulista, que formatou o político esperto que chegou à presidência da república. Depois que aparou a barba desgrenhada que ostentava nas primeiras campanhas e assustava o empresariado e classe média, Lula aliou ao bom desempenho oral, uma imagem mais palatável e conseguiu ser eleito. Continuo falando bem, inclusive de improviso, no que é imbatível, como fez depois do seu depoimento na Lava-Jato. Lula não precisa de discursos pré-concebidos, como a maioria dos políticos. Lula domina a palavra. Não importa que por vezes lhe falte conteúdo, Lula é um artista da palavra falada, ele a domina pela forma, pela sonoridade, pela rima, pelo ritmo, pelas pausas. Lula é um ator.

Os gregos já sabiam do perigo daqueles filósofos menores, que mesmo tendo pouco a dizer, conquistavam muitos adeptos, simplesmente pela força dos discursos. Eram os SOFISTAS. Sofismar é considerado um exercício menos nobre da oratória e da RETÓRICA, mas não menos eficiente. O sofista é sedutor, conquistador podendo tornar-se mentor enganador e até mentiroso. Não importa, sofismar funciona bem. O sofista não segue em linha reta, não é dogmático, é plural, é imprevisível, é relativista. Num debate, o sofista é aquele que foge dos pontos principais da discussão e desvia a atenção dos ouvintes para pontos secundários, que podem até tangenciar o tema primordial, mas não o soluciona. Foge das respostas que interessam, mas cria outras perguntas às quais ele mesmo responde. Consegue usar os argumentos alheios contra seus opositores. Ainda assim pode abrir novas possibilidades de interpretação. O sofista dá voltas, entontece, hipnotiza. O sofista é um mago da palavra. Diz a lenda que eles foram os primeiros advogados. Daí vem o adjetivo SOFISTICADO, para designar coisas complexas. O legado sofista, portanto, não é só negativo e continua atuante.
Hoje Lula pode se encaixar bem nessa categoria. Seus simpatizantes não ligam para o que fala ou deixa de falar. Ficam ligados apenas na sua imagem falante. Lula é hipnotizante. Lula é um show-man da palavra!

O domínio da oratória sempre foi uma das características dos grandes líderes populistas, sejam eles considerados bons ou maus. Getúlio Vargas e Hitler foram grandes oradores e despertaram grandes paixões. Sarney é um grande orador. Barack Obama é um grande orador. Conquistam pela oralidade. Dominam sem muita força porque entendem o grande poder da palavra.

A oratória utiliza muitos recursos teatrais. Isso ficou patente no discurso de Lula logo após o depoimento da Lava-Jato. Lula foi seguro, mas gaguejou na ora certa; criticou o poder judiciário, mas contou casos pessoais em tom mais romântico; embargou a voz e quase chorou quando falou da esposa e dos filhos; rememorou dramaticamente passagens difíceis da vida, passou fome, foi preso, lutou contra a ditadura e pela democracia... tudo isso no tom de voz adequado. Subiu a voz, chamou palavrões, debochou das elites e de si mesmo ao dizer que não sabia o que era um “decantador de vinhos” – nessa passagem pediu ajuda dos jornalistas, pois nem lembrava do nome. Mas disse que tem direito a tomar os melhores vinhos.  “Sou pobre, mas tenho direito de morar num bom apartamento e de tomar um bom vinho! E quero que todos os brasileiros também tenham esse direito!”. Pronto, ganhou a plateia, ganhou simpatia e reverteu a posição de suspeito investigado para o ex-presidente injustiçado. Nem todos sabem fazer isso. Ainda mais com tal rapidez. Horas depois a presidente Dilma também fez um pronunciamento em defesa de Lula – que já nem precisava! Quanta diferença. Um discurso burocrático e sem cor. Ninguém fala como Lula!


Nesse ponto o ex-presidente é realmente admirável. Pena que não esteja mais usando essa grande poder para o engrandecimento da nação pela qual tanto já lutou – isso não podemos deixar de reconhecer. Em algum ponto do caminho Lula se perdeu. E isso é uma grande pena para o nosso país. Mesmo no seu ocaso, Lula ainda tem muito que ensinar para essa nova geração de políticos tacanhos, sem carisma e sem domínio oral. Mirem-se no exemplo desse homem encurralado, que ruge e seduz ao mesmo tempo. 

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