SEXTA FEIRA-MAGRA DE CARNAVAL: APREENSÃO E DÉBITOS AMEAÇAM GRUPOS CARNAVALESCOS LUDOVICENSES (**)
Cortejo do SESC, única atração de carnaval, no Centro Histórico, E só!
Euclides
Barbosa Moreira Neto(*)
Há menos de uma semana do início dos desfiles e dos
concursos oficiais do carnaval da capital maranhense, a maioria dos grupos que
cultivam esse ciclo festivos ainda vive com a incerteza e com bastantes
dúvidas, sobretudo os organizadores dos Blocos Tradicionais do Maranhão, que se
queixam do apoio diminuído que normalmente era concedido pelo governo estadual
por meio da permuta de apresentações em espaços públicos ou outros indicados
pelos gestores da Secretaria de Estado da Cultura.
Os BTMs pertencentes ao grupo A, este ano vão ter
no máximo três apresentações pagas, incluindo a passagem pela passarela do
samba, para participar do concurso oficial do carnaval deste ano, o que
totaliza o apoio de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), ao contrário de até oito
apresentações concedidas nas gestões anteriores. “Esse valor de R$ 15.000,00 é
insuficiente para cobrir todas as despesas de produção de um grupo de BTM”,
afirma categoricamente Silvana Fontinelle, uma das poucas gestoras do gênero
feminino de BTM – “Só em uma loja do centro comercial de São Luís, estou
devendo cerca de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) e não tenho como pagar, se
esse cachê dos blocos não melhorar. Nós estamos pagando para sairmos, pois o
poder está se mostrando insensível”.
Esse é o quadro geral que a comunidade produtora
vivencia no momento. São dias de incertezas e apreensão. Quando estava a
escrever este texto foi na sexta-feira magra de carnaval, pela manhã. Tivemos
que interromper para atender a outras necessidades prementes e inadiáveis.
Retomei sua continuidade (do texto) no sábado pela manhã: agora fundamentado
com fatos novos testemunhado na noite da sexta-feira magra, e pasmem, com um
susto ao verificar que a nossa cidade parecia abalada por uma inércia operativa
que a deixou em estado crônico de tristeza. Juro que nunca tinha visto, nos
meus 58 anos de idade, uma sexta-feira magra tão sombria e tão triste como a
que verifiquei na noite deste dia 29 de janeiro de 2016. A sensação era a de
que estávamos em um lugar desabitado, melancólico, parecendo que alguém muito
importante havia morrido ou fora vítima de algum atentado. Por isso, vamos
fazer de conta que isso ocorreu em um reino imaginário. E no mundo da
imaginação, o rei Momo estava enfermo e gravemente adormecido, em recuperação
na UTI de algum hospital do reino, por isso os súditos resolveram recolher-se.
Talvez assim encontremos alguma explicação palpável.
Ainda assustado com o ocorrido, demos uma passada
nas redes sociais e encontramos alguns comentários fazendo referência a esse
fenômeno. O primeiro a reclamar foi o jornalista e pesquisador de carnaval Joel
Jacinto, que chamou atenção para a inoperância dos órgãos gestores do nosso
carnaval, que não programaram absolutamente nada, inclusive os palcos armados
no Centro Histórico estavam todos sem funcionamento. Joel menciona que a
única atividade que aconteceu na área central da cidade
foi um concurso de marchinha promovida pelo SESC, que acabou por volta das 20
horas e só!
Apoiamos seu
comentário, informando que isso era muito pouco para uma Cidade Patrimônio
Cultural da Humanidade, em que a diversidade de sua cultura é (era) o seu
carro-chefe... Por isso perguntamos: querem acabar com essa bandeira? Outro que
interagiu com o tema foi Valmir
Cruz, dizendo que era “uma Sexta
raquítica de carnaval!”, e Marcelo
Brandão, afirmando que era “uma sexta
feira triste!!! Melancólica”. Marcelo cutucou, ironizando que “Esta é a mudança
e é só o começo”, fazendo referência às promessas do novo governo estadual, que foi eleito com
promessas de mudança e melhoria. Constatado
isso, reiteramos que o ciclo carnavalesco, assim como o ciclo junino, faz parte
de uma cadeia produtiva e criativa que mobiliza centenas de pessoas, e cabe ao
poder público gerenciar essa cadeia, para que seja realmente produtiva e possa
atender aos interesses de centenas pessoas. Essas pessoas são pais de família e
precisam encontrar meios para sua sobrevivência! Essas pessoas são também
trabalhadores informais, estando entre eles, ferreiros, costureiras,
dançarinos, coreógrafos, aderecistas, vendedores ambulantes, produtores
culturais, seguranças, garçons, entre tantos outros que exercem atividades
diversificadas.
Cremos ainda que
independente do segmento cultural e dos cidadãos comuns que são beneficiados
pelo fazer criativo da cadeia produtiva do carnaval, existe ainda a cadeia
produtiva do Turismo, que mobiliza centenas de pessoas que visitam nossa cidade
e, vindo até nós, querem conhecer tudo – não somente o Centro Arquitetônico e
Histórico da Cidade. Esse visitante quer conhecer a cultura e sua diversidade,
que não cansamos de afirmar é pulsante. Mas, como pulsante, se em pleno Centro
Histórico havia um clima de velório, em plena sexta-feira magra de carnaval?
Que cultura é essa que se diz tão diversificada? Onde estava o poder público
que não teve a capacidade de programar nada para essa data tão incomum? Será
que todos os gestores que foram colocados nos equipamentos culturais de nossa
terra, pela nova gestão que assumiu o comando do Estado, vieram de fora e essa
gente não conhece a alma e a vontade do nosso povo?
Há algo de errado
no ar! E com essa inoperância não podemos silenciar. Reiteramos que torcemos
pelo novo governo e que sejam encontradas maneiras e fórmulas de atender à
demanda dos nossos produtores culturais, dos diversos grupos e manifestações
existentes, mas, por favor, não vamos repetir esse atestado de incompetência da
área cultural verificada na sexta-feira magra de carnaval! Que sejam
encontradas fórmulas, para que os gestores dos nossos grupos carnavalescos
sejam ouvidos e deem a eles o direito de existir com dignidade!
(*)O autor é Professor Mestre em Comunicação Social da UFMA e Doutorando do
Programa Doutoral em Estudos Culturais na Universidade de Aveiro – Portugal.
(**) Artigo revisado por Herbert de
Jesus Santos (jornalista, escritor, compositor de bloco e escola de samba,
boieiro, carnavalesco e pesquisador de folclore)
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