Carnaval, nostalgia e livros

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Carnaval, nostalgia e livros

Hoje é dia de...Joaquim Itapary

26/02/2015 

O homenageado da Marambaia, jornalista Pergetino Holanda, ao lado do governador Flávio Dino 

Francamente, jamais vi São Luís tão triste como nos dias do Carnaval deste ano. A não ser alguns poucos de foliões forçando a barra para aparentar alegria, meio desenxabidos, aqui e ali, a cidade esteve até certo ponto lúgubre. Ah, sim, soubemos que o movimento se teria concentrado no Anel Viário! Na tal “passarela do samba”, que dizem ter sido apenas a medonha e grotesca imitação subdesenvolvida dos grandes espetáculos de luxo, beleza e esplendor protagonizados pelas Escolas de Samba do Rio & São Paulo.

Não passei nem perto. Portanto, não opino. Nem mesmo opinarei sobre a risonha e esfuziante rendição do nosso governador, até anteontem comunista, à simpatia do PH, outrora cronista social da oligarquia burguesa e saneysista. As incríveis fotografias desse encontro inusitado naquela mesma pista de desfiles ilustraram jornais e blogs, fartamente. E tão perfeitas, tão vivas e brilhantes foram tais imagens quanto aos detalhes das expressões faciais dos jubilosos figurantes que não deixam lugar a comentários. Quem as viu, viu tudo! Menos a foice e o martelo. Todavia, viu como ambos cumpriram o decreto de Cafeteira e,unidos na comparsaria carnavalesca, enfrentaram sem máscaras a batalha da folia. “Grande é a fé que dos olhos não duvida”, assevera o último verso de um dos belos sonetos de Odylo.
Decerto, mais surpresas nos aguardam. Entretanto, vamos a outro assunto.
Com a tristeza das ruas, recolhi meus já combalidos impulsos de folião numa sacolinha, juntamente com um punhado de confetes e um rolo de serpentinas, descorados, e fiquei a ler alguns livros e a escrever breves notas de um diarista desta tragédia social que vivemos no Brasil. Quem sabe se um dia São Luís voltará a ser alegre, como nos tempos de nossa juventude?
Entre os bons textos lidos durante os dias desse retiro compulsório, detive-me no O Discurso do Ódio, de André Gluksmann, filósofo e ensaísta francês. Hoje com 78 anos, Gluksmann é um ex-militante maoísta, recentemente galardoado pelo Papa Bento XVI com o “Prêmio Auschwitz pelos Direitos Humanos - João Paulo II”. Quando ainda aplicado assistente de Raymond Aron, na Sorbonne, André publicou a sua primeira obra sobre temas de filosofia política combatente. Hoje, a sua bibliografia soma mais de vinte títulos, nos quais versa sobre filosofia e política. É, ainda, ativo colaborador de prestigiosos diários e hebdomadários franceses. Descendente de judeus, são frequentes suas intervenções na imprensa a respeito da questão palestina. Sempre, naturalmente, a puxar brasas para as sardinhas de Israel.
O Discurso do Ódio - cuja leitura é recomendável, principalmente nesta odienta e odiosa quadra da nossa vidinha política –, mereceu a seguinte sinopse elaborada por seu próprio autor:“O ódio existe, todos já nos deparamos com ele, tanto na escala microscópica dos indivíduos como no cerne de coletividades gigantescas. A paixão por agredir e aniquilar não se deixa iludir pelas magias da palavra. As razões atribuídas ao ódio nada mais são do que circunstâncias favoráveis, simples ocasiões, raramente ausentes, de liberar a vontade de destruir simplesmente por destruir. O ódio acusa sem saber. O ódio julga sem ouvir. O ódio condena a seu bel-prazer. Esgotado, recoberto de ressentimento, dilacera tudo com seu golpe arbitrário e poderoso, Odeio, logo existo.”
Enfim, eis ai o motivo, a razão desta recomendação de leitura: Conheçamos o ódio, em todas as suas manifestações humanas, para que dele nos possamos livrar e isentar, tanto quanto possível, pelo menos nestes três anos e poucos meses de tragédia ainda por viver.

jitapary@uol.com.br

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