A Criatividade do maranhão resiste na rua do Egito com a “Bicicletinha do Samba” (*)
Após ter iniciado meu doutoramento na Universidade
de Aveiro, na cidade de Aveiro-Portugal, no curso de Estudos Culturais,
retornei à capital maranhense para iniciar a pesquisa que estou me propondo a defender
com o tema inspirado no ciclo carnavalesco de nossa cidade, mais precisamente
na manifestação cultural dos Blocos Tradicionais do Maranhão (BTM), pois de
certa forma, a minha aproximação empírica me deixava em dúvida se deveria optar
por esse tema ou ficar com o segmento de escolas de samba.
Para definir minha decisão pessoal, recorri aos
ensinamento de Gilberto Velho e Roberto da Matta quando ambos sugerem que mesmo
fazendo parte de um determinado segmento, é necessário mantermos certo grau de
estranhamento entre nossa ação com o que será objeto de estudo de uma
investigação, que, de acordo com esses autores, “Como também integramos o universo empírico que
pretendemos pesquisar, acreditamos que devamos “estranhar o que nos é familiar”,
(VELHO, 1978 e DAMATTA,
1978)”
Para minha alegria, pessoal, acabei de ler o artigo
do professor doutor Eugênio Araújo, do curso de Artes da UFMA, intitulado "Milagres do carnaval: a Banda
da Bicicletinha consegue o improvável, movimentando o centro velho da cidade no
sábado à noite", fazendo referência a uma atividade carnavalesca própria
da temporada pré-carnavalesca que está tornando vivo o centro da cidade de São
Luís: a Rua do Egito, levando centenas de pessoas àquela área de nossa capital.
Quando recorremos à nossa atividade empírica,
lembramos que fomos gestor da Fundação Municipal de Cultura, no período de 2009
a 2012 e que quando assumimos no dia 6 de janeiro de 2009, uma das primeiras
medidas que tomamos foi pleitear a sede da antiga Assembléia Legislativa do
Estado, localizado na Rua do Egito para ser sede daquela Fundação, que há época
teve a solicitação negada pelo então Presidente daquela referida Organização, o
deputado Marcelo Tavares, optando por ceder aquele prédio ao Poder Judiciário.
Nossa intenção, como gestor da FUNC, era sim
conseguir melhores condições de trabalhos para aquela Fundação, mas, sobretudo
a provocar uma ação administrativa que contribuísse para revitalizar a Rua do
Egito com projetos e atividades culturais, uma vez, que o Prefeito naquela
época já havia anunciado a compra do antigo cine Roxy, que deveria ser
transformado em Teatro (como foi realizado) e a recuperação do Edifício BEM,
onde funcionou o Banco do Estado do Maranhão para sediar parte dos equipamentos
da Prefeitura de São Luís, incluindo o próprio Gabinete do Prefeito.
Vislumbrávamos ver a Rua do Egito com equipamentos
culturais e com ações ligadas à cadeia produtiva do turismo e da cultura, que
oferecesse ao visitante aos moradores da cidade, opções de lazer cultural que
se tornasse prazerosa a convivência naquela região.
Como sonhar não custa nada, nossa utopia levava a
perceber que um dia a Rua do Egito poderia ser utilizada pelos mecanismos
publicitários como a "faixa do gozo", fazendo um trocadilho com a
"faixa de gaza" (essa tão maculada pelos constantes atentados e
conflitos entre os judeus e palestinos), mas que em São Luís, ganhava outra
conotação ligada ao lazer, turismo e a cultura da paz, numa ação criativa que
gerasse também trabalho, renda e ocupação para parte da nossa população.
Infelizmente nosso sonho vislumbrado ficou só no sonho, pois forças ocultas nos
brecaram e interrompeu o desejo do então gestor da FUNC.
Diante dessa constatação, reafirmamos que ficamos
felizes com a lembrança oportuna do professor Eugênio Araújo em nos lembrar que
podemos revitalizar parte do nosso território que é comum ou de propriedade
coletiva, como a Rua do Egito com ações de políticas publicas voltadas para sua
revitalização sem a amarras do preconceito, da punição, da perseguição, mas
estimulado o seu uso de maneira democrática e com os serviços que a população
precisa para desenvolver qualquer atividade cultural que dialogue com sua
população enquanto fenômeno dialético legitimado e reconhecido como seu.
No mais, vou dar prosseguimento ao meu projeto de
doutoramento inspirado na manifestação Bloco Tradicional do Maranhão,
intitulado provisoriamente de “FOLIA
E TRADIÇÃO NA ARENA POLÍTICA: UM ESTUDO CRÍTICO SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE O PODER
PÚBLICO E OS BLOCOS CARNAVALESCOS DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO”.
Por
outro lado, vou torcer para que a banda da Bicicletinha continue a movimentar o
centro histórico de São Luís, sendo exemplo a ser seguido para todos os
segmentos culturais de nossa cidade, ampliando nossas possibilidades de
readequação de forças convergentes que possa somar positivamente para o bem
estar coletivo.
(*)
Euclides Moreira Neto - Professor Mestre em Comunicação Social UFF-UFMA e
doutorando em Estudos Culturais na Universidade de Aveiro-Portugal.
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