As famosas comédias de bumba-boi serão relembradas no Festival de
Comédias de Bumba meu Boi, que acontece hoje, às 20h, no Largo da
Barrigudeira (Monte Castelo). 

O evento é paralelo ao 20º Festival de
Bois de Zabumba. Promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) em parceria com o Clube Cultural de Bumba meu
boi de Zabumba, Tambor de Crioula do Maranhão e do Governo do Estado do
Maranhão, por meio da Secretaria de Estado da Cultura, o Festival de
Comédias faz parte do quadro de ações do Plano de Salvaguarda do Bumba
meu Boi, registrado como Patrimônio Cultural Brasileiro há três anos.
Este ano, dois grupos da Baixada Maranhense, o Bumba meu Boi Orgulho de
Pinheiro e o Bumba meu Boi Capricho de União, de Santa Helena, serão os
convidados especiais do evento.

Segundo Luciana
Carvalho, pesquisadora do Inventário Nacional de Referências Culturais
do Bumba meu Boi do Maranhão (INRC), as comédias do bumba-boi são
performances cômicas elaboradas a partir de narrativas associadas ao
universo simbólico do boi. São encenadas paralelamente à dança e à
música que são executadas pelos grupos em uma espécie de teatro cômico
popular.

“O Festival de Comédias de Bumba meu Boi
tem a finalidade de estimular os grupos de boi de zabumba a fazer
comédias em São Luís. Percebemos que muitos grupos locais não costumam
encenar o ato em suas apresentações. No interior, a situação é
diferente. Os grupos de zabumba ainda mantêm essa tradição e por isso
convidamos dois grupos da Baixada Maranhense para fazerem a abertura do
evento”, relata Izaurina Nunes, técnica em Ciências Sociais do IPHAN.

A
Superintendência do Iphan no Maranhão continuará executando, este ano,
ações voltadas para a salvaguarda do Complexo Cultural do Bumba meu boi
do Maranhão, registrado como Patrimônio Cultural do Brasil em 2011 no
livro de registro das Celebrações. “Estamos estendendo as ações do Iphan
para o interior do Maranhão. Já temos um trabalho de pesquisa em alguns
municípios e, em breve, começaremos atividades culturais por lá, como o
Encontro dos Palhaceiros, em Mirinzal, e a Oficina de Bordados, em
Viana”, relata Izaurina Nunes. 

Resgate
– Preservando a tradição das apresentações das comédias por grupos de
bumba-boi na capital maranhense, que não são habituados a realizá-las, o
Iphan realiza o Festival de Comédias dentro da programação da 20ª
edição do Festival de Bois de Zabumba. Como é de costume a apreciação
das comédias no interior do Maranhão, como nas regiões de Guimarães,
Viana e Cururupu, dois grupos da baixada foram convidados a apresentar o
ato na edição deste ano do festival. 

Lourenço
Pinto, dono do Boi Capricho de União, do município de Santa Helena,
conta que as apresentações de comédia do seu grupo são muito divertidas e
mesclam personagens tradicionais do bumba meu boi com
elementos-surpresa. “As comédias que o Capricho de União faz começam com
palhaços que fazem representações de passos de dança que lembram
pássaros. Um faz a dança do papagaio e outro a dança do urubu. É aí que
chega a Catirina grávida e passa a dançar com um deles”, diz Lourenço
Pinto. 

O Boi Capricho da União tem uma equipe de
78 pessoas, divididas em cinco colunas: bateria (28), cordão de baião
(6), cordão de baião de chita (7), as tapuias (27) e a dos vaqueiros
(10). Para não perder o público e a presença em alguns arraiais na
região da Baixada Maranhense, Lourenço salienta que foi necessário
adaptar as apresentações do boi. “Há 22 anos fundei o Capricho de União e
de lá para cá muita gente começou a dizer que o sotaque de zabumba era
só barulho. Eles começaram a dizer que o boi tinha que se renovar e foi a
partir de então que criamos o ritmo de balanço. O público gostou da
adaptação, mas ainda mantemos as nossas apresentações de zabumba, pois
esse sotaque faz parte da nossa história”, destaca Lourenço Pinto, que
herdou do pai, um apaixonado pelo bumba meu boi, o amor pela
manifestação folclórica mais representativa do Maranhão. 

Desde
1995, o Festival de Bois de Zabumba é realizado na capital maranhense
com o intuito de salvaguarda do sotaque de zabumba. ”O sotaque de
zabumba estava esquecido e víamos que, nos arraiais da cidade, sempre
que um grupo de zabumba se apresentava, as pessoas iam embora e não
davam valor para a brincadeira. Aos poucos, os grupos passaram a não ser
convidados para os grandes arraiais e, como apaixonado por esse
sotaque, não podia deixá-lo morrer. Há 20 anos, me reuni com alguns
grupos de zabumba e criamos o festival para manter viva a tradição”,
explica Basílio Durans, criador e organizador do Festival de Bois de
Zabumba. 

Este ano, o evento prestará homenagem
póstuma a Ciriaco e Francisco Coimbra, cantadores que fizeram história à
frente de bois de sotaque de zabumba. O tributo será conferido às 22h,
pelo Boi de Leonardo, da Liberdade, grupo de que os dois cantores
fizeram parte por muitos anos.

“A zabumba é a mãe
de todos os sotaques de bumba-boi. Quase todos os grupos do Maranhão
usam zabumbas em suas apresentações. Temos um lugar que é só nosso na
história do folclore maranhense e é isso que pretendemos preservar”,
ressalta Basílio Durans. 

Participam ainda do
festival de zabumba os bois Unidos Pela Fé; da Vila Passos; Capricho da
Primavera; Laço do Amor; da Vila Ivar Saldanha; de Zabumba Orquestrado;
da Vila Palmeira; Novo Capricho; Anjo do Meu Sonho; Capricho de
Oliveira; Brilho da Paz; da Boa Vontade; de Romana; Dois Irmãos; de
Guimarães; Sempre Seremos Unidos; da Fé em Deus e Unidos Venceremos.

As
comédias constituem pequenas histórias cômicas elaboradas coletivamente
pelos sujeitos associados na brincadeira, embora a maior parte da
atividade dramática seja concentrada pelos personagens dos palhaços,
conhecidos também como palhaceiros, Pais Franciscos, Catirinas, chefes
da matança ou da palhaçada. São eles quem, de fato, selecionam, elaboram
e executam as performances a partir dos fatos, em alguma medida,
experimentados pela coletividade de que participam, atuando assim como
espécies de porta-vozes do grupo.

• O quê

Festival de Comédias e 20º Festival de Bois de Zabumba

• Quando

Hoje, a partir das 20h

• Onde

Lago da Barriqueira, no Monte Castelo

• Entrada gratuita