A COPA COMO ELA E
Brasil errou ao atrair Copa e OlimpIada, diz filOsofo marxista
Para Antonio Negri, 'política dos grandes eventos' é uma negação dos valores locais e da cultura das favelas
Italiano afirma que Fifa e COI são como grandes ONGs capitalistas, que não vão aos países para ajudar, mas para lucrar
Um dos mais influentes intelectuais marxistas deste início de século, o filósofo italiano Antonio Negri, 80, diz que o Brasil errou ao apostar na realização da Copa e da Olimpíada. Ele vê na "política dos grandes eventos" uma negação dos valores locais e da cultura das favelas.
Em visita ao país, Negri critica as exigências da Fifa e diz que a entidade age como um instrumento do "novo capitalismo" globalizado.
Negri fala na quinta (5), às 19h, no evento "Multitude", no Sesc Pompeia (SP). Leia trechos de entrevista à Folha.
Folha - O Brasil acaba de viver onda de manifestações contra o governo e o poder em geral. Nasceu algo novo no país?
Antonio Negri - A elite do governo e a elite da imprensa não viram que a aliança construída em torno de um grande projeto de desenvolvimento, que devia ser coroado com o sucesso e a exposição internacional do país, esquecia as novas gerações que querem se expressar, querem ser protagonistas com sua cultura.
A cultura que vem das favelas foi negada pela política dos grandes eventos, a política de Dilma. Essa política não reconheceu a prioridade das transformações revolucionárias iniciadas por Lula.
Mas foi Lula quem lutou pelos grandes eventos, aceitando as condições da Fifa e do COI.
Então isso significa que Lula errou no último período.
O Brasil viveu transformações fundamentais no povo, nas pessoas. Havia uma energia reprimida que explodiu, vinda de sindicatos e das favelas. Isso tinha que ser respeitado. Os revoltados [manifestantes] estão certos ao avaliar a política de grande eventos como um erro político.
A atuação da Fifa e do COI e suas exigências ao Brasil têm relação com o novo capitalismo que o sr. estuda?
Sem dúvida, com as novas formas do capitalismo. Com certeza, muito capital brasileiro já foi empenhado, porque as novas formas de capitalismo não são externas aos países.
Quando se fala de Fifa ou do COI, fala-se de plataformas de agenciamento de capitais financeiros em nível mundial, que atravessam as Bolsas dos países com um alvo, que nesse caso é o Brasil.
O Brasil aceitou participar com suas próprias forças, negociando diretamente a entrada de capitais. Fifa e COI são como grandes ONGs capitalistas. Mas não vão aos países para ajudar ou dar esmola, e sim para lucrar.
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