Baile do Tereco de Caixa, comum na Baixada Maranhense, e uma tradicao ainda preservada e passada de geracao para geracao

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Baile do Tereco de Caixa, comum na Baixada Maranhense, e uma tradicao ainda preservada e passada de geracao para geracao

Tradição preservada no interior do Maranhão


Ricardo Alvarenga
Da Equipe de O Estado
18/08/2013 
É o toque das caixas de Zé de Custódia que anima a comunidade do povoado Areal, no interior do município de Bequimão, na Baixada Maranhense. As caixas são tocadas sempre para festejar momentos importantes do povoado. A comunidade se reúne para realizar a brincadeira em vários momentos do ano: no Carnaval, no Dia das Mães, no período junino e no Dia dos Pais, além de outras datas comemorativas. A última vez que o grupo se reuniu este ano foi no Dia dos Pais, comemorado no último domingo (11). O Terecô de Caixa, como é conhecida a manifestação cultural, já é uma tradição nesse dia.
No Dia dos Pais, as festividades na comunidade começaram com um culto católico, celebrado no Clube São Sebastião, ao lado da pequena capela do povoado, que nesse dia ficou pequena para tanta gente. Enquanto o povo cantava e rezava na celebração, jovens da comunidade disputavam uma partida de futebol, no campo em frente ao clube. Após o culto e a partida, todos se reuniram para o almoço. Cada família trouxe um prato e juntos partilharam o mesmo alimento. Enquanto isso, as caixas do terecô estavam de lado, com os tambores, esperando o momento certo para fazer a festa do povoado.
O Terecô de Caixa é um baile no qual a comunidade se reúne para dançar e cantar ao som de uma orquestra, formada por duas caixas, uma cabaça, um triângulo e um pandeiro. Para acompanhar os instrumentos, os cantadores tiram versos e cantigas. Essas geralmente são improvisos motivados por um mote. Esse mote determina o assunto a ser versado e assim eles passam o direto de versa de um para o outro. Animadas por essas cantigas, as pessoas dançam em pares distribuídos em um grande salão. Os ritmos tocados são basicamente dois: o forró e a valsa. Porém, alguns outros ritmos às vezes são puxados.
O Terecô ou Forró de Caixa é a principal manifestação cultural do povoado Areal e foi escolhido como objeto de estudo da pesquisadora Helyne Carvalho, do mestrado em Cultura e Sociedade, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Nas festividades do Dia dos Pais, a pesquisadora passou o dia na comunidade, realizando pesquisa de campo para a conclusão de sua dissertação.
A pesquisadora pretende apresentar uma análise do Terecô de Caixa de Bequimão por meio de uma discussão dos conceitos de festa popular, tradição e identidade. “Com a pesquisa, quero promover uma análise do Terecô de Caixa, por meio da sua caracterização, bem como dos seus elementos constitutivos: orquestra, cantigas e brincantes”, declarou a pesquisadora Helyne Carvalho.
Histórico - É provável que a manifestação tenha surgido justamente da convivência de diversos povos e culturas, que uma vez unidas construíram uma nova identidade de valores, religiões e costumes. Dessa construção nasceu o Terecô de Caixa de Bequimão. “É razoável considerar que o Terecô de Caixa reflete a influência não só de uma, mas de diversas culturas: a dos índios, os nativos da terra, a dos negros escravizados e a cultura dos europeus que aqui chegaram no período de colonização”, ressaltou Carvalho.
Segundo alguns brincantes do terecô de Bequimão, essa manifestação surgiu há muito tempo e teria sido chamada primeiramente de Orquestra dos Índios. Depois, já dentro do contexto familiar, teria se tornado o Terecô ou Forró de Caixa, como a manifestação é conhecida hoje.
Era costume das famílias se reunir para se divertirem ao som das caixas. Elas aproveitavam e ensinavam às crianças e aos adolescentes a dançar, tirar versos e tocar a caixa. “Quando eu era menino, eu achava muito bonito aquele toque, eles dançando, batendo palma. Nessa época, era só uma caixa, e eram duas pessoas tocando nela, uma do lado e uma do outro. Aí, pegava uma colher e um linho e era o triângulo. Era uma festa a noite toda. Eu olhava aquilo e eu ficava louco. Ficava com vontade”, lembrou Zé de Custódia, líder da manifestação no povoado.
O povoado Areal ainda não foi reconhecido como uma comunidade remanescentes quilombolas. Porém, o próprio forró de caixa já dá sinais dessa herança. “Apesar de a memória da comunidade de Bequimão relacionar o terecô com uma origem indígena, elementos sonoros, como a caixa, o pandeiro, o triângulo e até mesmo a forte característica rítmica indicam a presença determinante da cultura africana, que se deu, sobretudo, pelo viés da religiosidade”, afirmou Helyne Carvalho.

Abrindo o jogo: Helyne Carvalho

A pesquisadora Helyne Carvalho, em entrevista a O Estado, esclareceu alguns pontos sobre a manifestação. Ressaltou inclusive algumas peculiaridades da brincadeira, como a diferença entre o toque das caixas de Bequimão e as de outras comunidades do estado, além da participação das mulheres e a ligação da manifestação a questões religiosas.
O Estado - Qual a principal diferença entre o toque de caixa de Bequimão e o de outras comunidades do Maranhão?
Helyne Carvalho - No Maranhão, existem muitas manifestações que utilizam o toque de caixa: em Caxias, temos o lindô e o reisado. Em Tutoia, temos o caroço. Cada ritmo tem uma cadência e uma acentuação específica que determina uma sonoridade diferente. No caso do Terecô de Caixa de Bequimão, a característica é a adaptação de um ritmo clássico, que é a valsa a um instrumento popular e também a execução do forró na caixa, que tem um som peculiar.
O Estado - As cantigas da manifestação geralmente são sobre quais assuntos?
Helyne Carvalho - As cantigas trazem a
realidade rural, tratam da relação do homem com a natureza. Além disso, contam casos e sonhos de amor, retratam o modo de
viver das pessoas de
Bequimão. Algumas músicas evocam questões de identidade, trazendo africanidades e
elementos indígenas. Um detalhe importante é que uma boa parte das cantigas é feita a partir de improvisos motivados por um mote, que determina o
assunto a ser versado.

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