O nome do cara é Vandico da 'Turma do Vandico' e do 'Samba sem Telhado'

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O nome do cara é Vandico da 'Turma do Vandico' e do 'Samba sem Telhado'


'O maranhense já nasce ouvindo o rufar dos tambores'

Percussionista viu nascer a Turma do Vandico e entendeu que sua missão era preservar a cultura popular, o samba de raiz e o Carnaval de Rua.
Patrícia Godinho

Da equipe de O Estado

10/02/2013 00h00

Ele queria ser jogador de futebol, mas para isso teria que morar em outro estado. Um impasse da vida lhe mostrou que seu lugar era aqui, mas também soube lhe confortar: ele ganhou a música. Evandro José é casado e pai de dois filhos, mas no samba, ele é Vandico, da Turma do Vandico e dono do Samba sem Telhado.
O ludovicense nasceu na Rua de Nazaré, no centro da capital. Rodeado de histórias e casarões, ele cresceu onde tudo acontecia. Brincava de bola e esconde-esconde na Praça Pedro II. O músico tinha 5 anos quando viu o que era Carnaval pela primeira vez e se encantou. "Aquilo era Carnaval de verdade e me marcou muito. Eu presenciei nas ruas a Velha Guarda brincando o Carnaval", lembra.
Passou por algumas escolas tradicionais da época, como o Colégio Santa Teresa, onde estudou por cinco anos. Lá, o torcedor do Moto Clube foi apelidado de Zico, porque sabia jogar futebol. Quando o pai morreu tinha 12 anos e estava de malas prontas para o Rio de Janeiro porque queria transformar a brincadeira com bola em profissão.
Festa popular - Em 1986, ele encarnou uma missão: preservar a cultura popular maranhense. Mas, até então, as coisas não tinham esse tom. Era só um bloco de Carnaval de rua se reunindo na porta de casa. "O maranhense já nasce ouvindo o rufar dos tambores. Foi isso que me tornou percussionista", diz.
Quando menino, o autodidata juntava latinhas de leite e tudo mais que fizesse barulho para
usar como instrumentos musicais. Aos 18 anos, com o primeiro salário, comprou uma timba, seu primeiro instrumento. Também deixou seu recado na Banda do Colégio Santa Teresa e Escola de Música Lilah Lisboa, que antes ficava na Rua Santo Antônio. Apaixonado por Tambor de Crioula e bumba meu boi, criou o arraial junino Lua Cheia, junto com a mãe. Tudo acontecia na porta de Dona Olga.
Com 19 anos, ela o acompanhou para comprar a primeira bateria na Casa de São Jorge, um extinto endereço para instrumentos musicais. "Cheguei lá muito empolgado e saí triste. Era muito cara, mas o problema não era dinheiro. Não conseguimos fazer o pedido e fomos obrigados a desistir", conta.
Toda vez que se reunia com os amigos, a coisa começava com futebol e terminava com roda de samba. Os encontros da "Turma" se tornaram oficiais às sextas-feiras, se estenderam a cortejos até a Praia Grande e hoje percorrem a trilha da folia em São Luís ano após ano.
"Este ano, a Turma do Vandico comemora 27 anos. Hoje somos mais de 20 músicos nos cortejos. Levamos nosso estandarte - um guarda-chuva paramentado com características regionais- como símbolo de acolhimento aos artistas, turistas e maranhenses que respeitam as manifestações culturais. Cabe todo mundo", afirma.
Por que um guarda-chuva? Sua mãe surge mais uma vez. Ele lembra que quando começaram os cortejos, queria um elemento para guiar o povo e pegou o guarda-chuva dela, que, lógico, não voltou inteiro. A partir daquele dia, este se tornou a pendão do bloco.
Resistência - O percussionista também tem orgulho do Samba de Telhado, na Rua do Giz, n°161. O nome faz jus ao local. Não tem telhado e não tem fronteiras. A bandeira é a resistência do samba de raiz. "Eu faço a alegria de todo um povo. Em primeiro lugar vêm a musicalidade, a participação dos amigos e a interação do público. O dinheiro é importante, mas vem depois, muito depois", frisa.
Vandico é comprometido com o que faz porque se sente chamado a manter o Carnaval de rua. Já coordenou bailes tradicionais como o Berimbau, Bigorrilho e Saravá. Há oito anos leva à frente o Baile do Zumbidinho, para crianças. Ele considera que a melhor época para a folia de rua foi na década de 1990, porque voltou com tudo, e não considera o Carnaval de passarela como uma manifestação maranhense autêntica. "Tenho 47 anos. Entendi o que era Carnaval com 5 anos de idade. Nestes 42 anos, a data se repete, e a falta de investimento também. O curioso é que a data não é imprevisível. Precisamos de gestores que tenham cultura popular correndo nas veias", ressalta.
Ele cuida do Carnaval e a família cuida dele
Vandico diz que pode contar nos dedos as poucas namoradas que teve. Costumava manter relacionamentos longos, de quatro a cinco anos. Ele se casou com Ana Paula aos 40.
"Ela foi convidada por uma amiga a me conhecer e nem gostava de Carnaval. Na verdade, até hoje não é muito de folia. É militar [risos]. Quando eu a vi, logo soube! Fomos conversando e tudo foi acontecendo", recorda.
Quarto de seis irmãos, Vandico cuida da mãe, que hoje tem 77 anos. Além da enteada Bruna, é pai de Helena e Evandro Gabriel, de 8 meses.
Quando perdeu seu pai, viu Dona Olga sustentar a família inteira trabalhando na cozinha até que o negócio se expandiu. "Ela foi mãe e pai. Naquela época uma mulher assumir a casa era algo difícil. Elas não tinham o espaço que têm hoje. Estudava à tarde e pelas manhãs saía com meu irmão Evandro Carlos para vender pastéis no antigo Banco do Desenvolvimento do Maranhão. Eu cheguei a acompanhar os ensinamentos do meu pai. Tive uma educação muito centrada no respeito. Foi uma infância tranquila, com muito equilíbrio", observa.
É por isso que ele se desdobra entre as andanças do cortejo e a atenção aos filhos. Além de funcionário público, Vandico cuida dos negócios da mãe na rua onde nasceu e toca na noite. O público o encontra aos sábados no Hotel Pestana.
Evandro gosta de saborear bons pratos e ler livros e jornais. Sempre ouve bossa nova e nina o caçula ao som de chorinho. "Eu precisava casar. Tinha que ter alguém para entender minhas paranoias. Acredito que tem sempre alguém pra cuidar de outro alguém. Eu cuido do Carnaval de rua e Ana Paula cuida de mim", diz.
RAIO-X
Nome completo:
Evandro José Araújo Lima
FILIAÇÃO
Evandro Bessa de Lima
Olga Silva de Araújo
NASCIMENTO
29 de maio de 1965
NATURALIDADE
São Luís
FORMAÇÃO
2° grau completo
ESTADO CIVIL
Casado com Ana Paula
FILHOS
Bruna (enteada), Helena e Evandro Gabriel
RELIGIÃO
Católico
QUALIDADE
Solidário
DEFEITO
Não perdoa facilmente
ALEGRIA
Os filhos
TRISTEZA
Quando não valorizam o artista maranhense
SAUDADE
Da época em que jogava futebol
PLANOS
Estruturar a casa cultural que mantém na Rua do Giz

1 comentários:

Anônimo disse...

Essa entrevista ficou maravilhosa!
Vandico é uma das personalidades que luta pela manutenção das raízes do samba, tem uma árdua luta pela arte, música e movimento popular de nossa ilha. Parabéns Vandico, vc merece esse reconhecimento e ao Joel, obrigada pela iniciativa.

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