Por que DILMA?
FERREIRA GULLAR
Por que Dilma?
HOJE SE encerra uma das mais acirradas disputas pela Presidência do país. Se é verdade que nenhuma das disputas anteriores foi igual a outra, esta tem um fator ausente a todas as outras: um dos disputantes -no caso, uma, a Dilma-, ao que tudo indica, jamais imaginara candidatar-se ao mais alto cargo político da nação, já que nunca disputara cargo eletivo algum.
Esse fato, por si só, ainda que inusitado, seria irrelevante, se a opção a candidatar-se houvesse ocorrido a ela por decisão própria, como expressão de um desejo, que ocultara por tanto tempo e que finalmente decidira assumir. Seria estranho pelo ineditismo, mas, sem dúvida alguma, menos surpreendente do que, como foi o caso, ter que aceitá-la por imposição de seu chefe, o presidente Lula.
Não houve nisso nada de ilegal ou imoral, embora esse não seja o procedimento normal para a escolha de uma candidatura. Normal seria o partido discutir as candidaturas possíveis e optar por uma delas, como resultado de consenso ou decisão da maioria.
Não houve nada disso: o nome de Dilma foi imposto por Lula ao PT, que não teve outra alternativa senão engoli-la. Isso, certamente, desagradou a muita gente dentro do partido, mas o fato é que Lula não tem o PT como um entidade autônoma, a cujas decisões deva ele submeter-se.
Longe disso, ele o tem como um instrumento de sua ação política, que não respeita nem as regras estatutárias nem o amor próprio dos companheiros, que estão ali apenas para ouvir as ordens e cumpri-las.
Haveria exemplo mais claro disso do que a destituição, por ordem dele, em 2005, de toda a direção do partido, comprometida com a sujeira do mensalão? Foi, sem dúvida, uma medida eficaz, mas essencialmente autoritária.
A pergunta que fica sem resposta, em face da candidatura de Dilma, é por que ele a escolheu. Esta não é primeira vez que me faço essa pergunta, que pode suscitar diversas respostas.
Por que escolher para disputar a Presidência da República uma senhora que nunca disputou qualquer eleição e não dispõe de um currículo capaz de categorizá-la para ocupar tão importante cargo?
Como a hipótese de apoiar o candidato de um partido aliado estará sempre fora de cogitação, uma vez que a última coisa que Lula e o PT admitem é dividir hegemonia com alguém -restaria a alternativa de escolher um nome de seu próprio partido, não envolvido nas falcatruas do mensalão.
É certo que não havia muitos nomes viáveis nem de grande projeção nacional. De qualquer modo, mais conhecidos e tarimbados do que a Dilma havia vários.
Por que, então, não cogitou deles nem permitiu que o partido os discutisse? Por que a fixação indiscutível em Dilma Rousseff, muito menos conhecida e muito menos gabaritada que os outros?
Há, certamente, alguma razão para isso, uma vez que, como se sabe, Lula não prega prego sem estopa nem faz nada desinteressadamente por ninguém. Se ele escolheu Dilma, foi por que essa escolha, mais que qualquer outra, convinha a seus interesses pessoais.
Essa escolha implicava um risco possivelmente maior do que a de outro nome, já que, além de não ser conhecida nem ter nenhuma realização a apresentar, é destituída de charme, carisma e desenvoltura.
Por que então escolhê-la? A resposta talvez esteja no apego de Lula ao poder. Nisso, ele não constitui exceção, mas, não tendo outra qualificação pessoal que seu carisma, qual papel de relevo lhe restará fora da Presidência?
A alternativa possível seria tentar voltar, em 2014, usando a gestão de Dilma como mandato tampão, já que ela, devendo tudo a ele, não se atreveria a pretender reeleger-se.
Isso explicaria também por que essa campanha foi para ele uma questão de vida e morte, mudando-se de presidente em cabo eleitoral, sem respeitar nem seu cargo nem as leis, como se o candidato, de fato, fosse ele.
E, em última instância, era. Dilma não é mais que uma marionete, de que ele se vale para tentar voltar ao poder. A menos que as urnas, hoje, lhe digam não.
Por que Dilma?
A resposta talvez esteja no apego de Lula ao poder. Nisso, ele não constitui exceção |
HOJE SE encerra uma das mais acirradas disputas pela Presidência do país. Se é verdade que nenhuma das disputas anteriores foi igual a outra, esta tem um fator ausente a todas as outras: um dos disputantes -no caso, uma, a Dilma-, ao que tudo indica, jamais imaginara candidatar-se ao mais alto cargo político da nação, já que nunca disputara cargo eletivo algum.
Esse fato, por si só, ainda que inusitado, seria irrelevante, se a opção a candidatar-se houvesse ocorrido a ela por decisão própria, como expressão de um desejo, que ocultara por tanto tempo e que finalmente decidira assumir. Seria estranho pelo ineditismo, mas, sem dúvida alguma, menos surpreendente do que, como foi o caso, ter que aceitá-la por imposição de seu chefe, o presidente Lula.
Não houve nisso nada de ilegal ou imoral, embora esse não seja o procedimento normal para a escolha de uma candidatura. Normal seria o partido discutir as candidaturas possíveis e optar por uma delas, como resultado de consenso ou decisão da maioria.
Não houve nada disso: o nome de Dilma foi imposto por Lula ao PT, que não teve outra alternativa senão engoli-la. Isso, certamente, desagradou a muita gente dentro do partido, mas o fato é que Lula não tem o PT como um entidade autônoma, a cujas decisões deva ele submeter-se.
Longe disso, ele o tem como um instrumento de sua ação política, que não respeita nem as regras estatutárias nem o amor próprio dos companheiros, que estão ali apenas para ouvir as ordens e cumpri-las.
Haveria exemplo mais claro disso do que a destituição, por ordem dele, em 2005, de toda a direção do partido, comprometida com a sujeira do mensalão? Foi, sem dúvida, uma medida eficaz, mas essencialmente autoritária.
A pergunta que fica sem resposta, em face da candidatura de Dilma, é por que ele a escolheu. Esta não é primeira vez que me faço essa pergunta, que pode suscitar diversas respostas.
Por que escolher para disputar a Presidência da República uma senhora que nunca disputou qualquer eleição e não dispõe de um currículo capaz de categorizá-la para ocupar tão importante cargo?
Como a hipótese de apoiar o candidato de um partido aliado estará sempre fora de cogitação, uma vez que a última coisa que Lula e o PT admitem é dividir hegemonia com alguém -restaria a alternativa de escolher um nome de seu próprio partido, não envolvido nas falcatruas do mensalão.
É certo que não havia muitos nomes viáveis nem de grande projeção nacional. De qualquer modo, mais conhecidos e tarimbados do que a Dilma havia vários.
Por que, então, não cogitou deles nem permitiu que o partido os discutisse? Por que a fixação indiscutível em Dilma Rousseff, muito menos conhecida e muito menos gabaritada que os outros?
Há, certamente, alguma razão para isso, uma vez que, como se sabe, Lula não prega prego sem estopa nem faz nada desinteressadamente por ninguém. Se ele escolheu Dilma, foi por que essa escolha, mais que qualquer outra, convinha a seus interesses pessoais.
Essa escolha implicava um risco possivelmente maior do que a de outro nome, já que, além de não ser conhecida nem ter nenhuma realização a apresentar, é destituída de charme, carisma e desenvoltura.
Por que então escolhê-la? A resposta talvez esteja no apego de Lula ao poder. Nisso, ele não constitui exceção, mas, não tendo outra qualificação pessoal que seu carisma, qual papel de relevo lhe restará fora da Presidência?
A alternativa possível seria tentar voltar, em 2014, usando a gestão de Dilma como mandato tampão, já que ela, devendo tudo a ele, não se atreveria a pretender reeleger-se.
Isso explicaria também por que essa campanha foi para ele uma questão de vida e morte, mudando-se de presidente em cabo eleitoral, sem respeitar nem seu cargo nem as leis, como se o candidato, de fato, fosse ele.
E, em última instância, era. Dilma não é mais que uma marionete, de que ele se vale para tentar voltar ao poder. A menos que as urnas, hoje, lhe digam não.
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