A retomada
Por Eden Jr.*
Quando no primeiro dia de setembro, como prenúncio de uma nova primavera para a nossa economia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Produto Interno Bruto (PIB) – soma de todos os bens e serviços produzidos no país – do segundo trimestre do ano tinha aumentado 0,2% em relação ao primeiro trimestre, boa parte dos analistas foi pega de surpresa. Esperava que o crescimento experimentado no primeiro trimestre, de 1%, fosse um surto, puxado, notadamente, pelo “boom” da excepcional safra de grãos, e que o resultado positivo não iria se repetir nos períodos subsequentes.
Ledo engano – ainda bem. Expansão do consumo das famílias (1,4%) e do setor de serviços (0,6%) foram os fatores determinantes para a melhora da economia. Depois de nove trimestres seguidos de queda, o consumo das famílias foi positivo, alavancado pela: desaceleração da inflação (girando em 2,46% nos últimos 12 meses, um índice civilizadíssimo); redução da taxa básica de juros (agora em 8,25% a. a., menor nível desde julho de 2013); aumento real da massa salarial e liberação das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que injetou cerca de R$ 44 bilhões no mercado. Já nos serviços, as áreas que se destacaram foram: atividades imobiliárias (0,8%), comércio (1,9%) e transporte, armazenagem e correio (0,6%). O setor industrial padece – voltou aos patamares de 2009 – e recuou mais 0,5%, influenciado pelo declínio de 2,0% na construção civil.
Outro destaque negativo foram os investimentos, que caíram 0,7%, em relação ao primeiro trimestre, a décima queda consecutiva, impactando negativamente a indústria e ficando em 15,5% do PIB, pior porcentual desde 1996. A supressão de investimentos dos governos federal, estaduais e municipais foi decisiva para essa retração, além da fragilidade na construção civil e na importação de bens de capitais. Esse dado é significativamente ruim, pois é com o aumento dos investimentos, que podemos vislumbrar uma expansão da capacidade produtiva, e, além disso, eles podem sustentar, no longo prazo, um cenário de crescimento mais consistente, ampliando a oferta e afastando episódios inflacionários, pela falta de produtos em determinados segmentos.
Sim, tecnicamente, saímos da recessão, pois houve duas ampliações consecutivas do PIB (isso depois de uma sequência de oito baques, iniciados no primeiro trimestre de 2015/IBGE), e espantamos, outrossim, alguns fantasmas deixados pela pavorosa administração dilmista, como a inflação de dois dígitos. Até mesmo o desemprego começa a trilhar trajetória de baixa. Mesmo que calcado no alargamento da informalização, o desemprego regrediu para 12,8% (estava em 13,6%) no trimestre encerrado em julho, conforme a Pnad Contínua/IBGE. Tudo isso, mostra o acerto, de modo geral, na condução da política econômica da equipe do presidente Temer. Embora, na esfera ética, o padrão ainda seja subterrâneo: os R$ 51 milhões apreendidos nesta semana em apartamento ligado ao ex-ministro peemedebista e petista, Geddel Vieira Lima, e o mais recente depoimento de prócere petista, Antônio Palocci, ao juiz Sérgio Moro, confirmando falcatruas de Lula e Dilma, não nos deixam enganar.
Embora a maioria da população desgoste, o grande entrave a resolver, para pavimentar o crescimento, é a questão fiscal, especialmente a Reforma da Previdência. Sistema que teve saldo negativo de R$ 96 bilhões até julho, sendo o principal responsável pelo rombo das contas públicas. Em realidade, sem o déficit previdenciário nossas contas não teriam ficado no vermelho.
As novas e inacreditáveis trapalhadas protagonizadas pelos delatores da “Operação Laja Jato”, Joesley Batista e Ricardo Saud, podem revigorar o governo, possibilitando a aprovação da Reforma de Previdência, recuperando, de vez, a economia. E, assim, por incrível que pareça hoje, com o Brasil crescendo a 3% no segundo semestre de 2018, fazer de Temer, que amarga atualmente recordes de impopularidade, um importante influenciador das próximas eleições presidenciais. Sobretudo se explicar, claramente para a sociedade, como recebeu a economia em frangalhos de Dilma e como a entregará a seu sucessor.
*Economista - Mestre em Economia (edenjr@edenjr.com.br)
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