Salgueiro vai pisar de leve na Sapucaí para cantar o malandro carioca
No desfile não faltarão jogos, cabarés, botequins e gongás.
Os 'malandros' Bezerra da Silva, Dicró e Moreira da Silva serão lembrados.
A Acadêmicos do Salgueiro vai tirar o chapéu neste carnaval para saudar a malandragem carioca. Mas é bom que fique bem claro: a reverência não é para o esperto, o aproveitador, o golpista. Segundo o diretor de carnaval Dudu Azevedo, a homenagem é ao malandro batuqueiro, cria dos becos e vielas, que “rala” para sobreviver e à noite se arruma para namorar, dançar e curtir a vida.
A escolha do enredo foi da presidente Regina Celi, que queria falar do jeito carioca de levar a vida e também transmitisse uma mensagem de paz, num momento de tantos conflitos religiosos. Afinal, o malandro é uma entidade forte ligada a religiões de origem africana, como umbanda e candomblé. Segundo o diretor, a figura do malandro carioca batuqueiro é a que melhor define o componente e o torcedor salgueirense. O trabalho no barracão segue em bom ritmo e Azevedo diz que até dezembro conclui o trabalho de estrutura dos carros para inicial a decoração.
O enredo desenvolvido por João Gustavo Melo, do departamento cultural da escola em parceria com os carnavalescos Renato e Márcia Lage, teve inspiração na “Ópera do malandro”, de Chico Buarque de Holanda, trazendo a personagem romantizado dos anos 1940 habitué da Lapa, no Centro do Rio, que já “aposentou a navalha, tem mulher e filho”, trabalha duro e não perde a fé.
“O Salgueiro vai saudar malandros históricos do Rio e abre seu desfile com a rua, que é o habitat natural dos malandros. É nas ruas que eles reinam, gingam, exibem suas habilidades. Tudo com muita elegância, estilo, capricho e bem-vestir. Vai falar de seus amores, seu lazer e mostrar que é uma entidade espiritual forte e que pede paz”, disse Dudu Azevedo, lembrando que a vermelho e branco da Tijuca tem uma identificação grande com enredos que tratam de aspectos da cultura africana.
Como numa ópera, o enredo foi dividido em atos. O primeiro, segundo Melo é a apresentação do povo de rua – malandros, prostitutas, mendigos, cafetões – que se transformam em atores do que chama de a ópera do povo. E o palco dessa ópera é a rua, mais exatamente a Cinelândia.
“O segundo ato é o sonho que esse malandro tem de se tornar rei. E entra aí a referência à ópera “Nabucco”, de Verdi. E fazendo um paralelo com o rei Nabucodonosor, da Babilônia, o Salgueiro cria o rei do Morro da Babilônia, com seus becos, vielas e barracos”, explica Melo, acrescentando que o morro escolhido não foi o Salgueiro por causa das referências da ópera.Como numa ópera, o enredo foi dividido em atos. O primeiro, segundo Melo é a apresentação do povo de rua – malandros, prostitutas, mendigos, cafetões – que se transformam em atores do que chama de a ópera do povo. E o palco dessa ópera é a rua, mais exatamente a Cinelândia.
A grande homenagem à “Ópera do malandro” vem representada pelo carro que vai simbolizar os amores do malandro. E nada mais natural que eles surjam num cabaré dos anos 1920. Alas desse setor, explica João Gustavo, vão representar personagens da obra de Chico Buarque, como os malandros contrabandistas de bebida (Johnny Walker), de relógios (Big Ben), que faz gatos de luz (General Electric) e de charutos (St. James).
Jogo de dados, carteados, roleta, rinhas de galo, corridas de cavalo vão ser lembrados no setor sobre os jogos, que fazem a alegria do malandro. E óbvio, não pode faltar o bar, onde o malandro revela sua filosofia de vida.
“É numa mesa de botequim, entre uma cervejinha e outra, que o malandro faz suas observações, crias suas frases de efeito, faz poesia e samba. No setor mais divertido do desfile a escola vai fazer uma crítica social e “bater cabeça” para os três tenores da malandragem: Bezerra da Silva, Dicró e Moreira da Silva.
E a escola encerra seu desfile com uma mensagem de união e confraternização Segundo João Gustavo, as personagens do primeiro ato - o povo de rua – voltam para mostrar sua fé, sua crença em São Jorge e nos orixás nos terreiros e gongás.
“É o Salgueiro pisando de mansinho na avenida, pedindo proteção e passagem no carnaval, a festa do povo”, concluiu o diretor de departamento cultura da escola.
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