Cavaco, bairro de muitos nomes, hoje homenageia Nossa Senhora

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Cavaco, bairro de muitos nomes, hoje homenageia Nossa Senhora


Mais um dos bairros que nasceu durante o processo de urbanização ao longo do Caminho Grande, o hoje Bairro de Fátima tem intenso e independente centro
Jock Dean

Da equipe de O Estado
08/02/2015
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A Rua Ademar de Barros

Sítio Cavaco, Sítio Nova Olinda, Fazenda Estadual, Fazenda Real, Bairro Proletariado, Bairro Nossa Senhora de Fátima. Foram muitas as denominações dadas, ao longo do desenvolvimento de São Luís, ao Bairro de Fátima, nome pela qual a localidade é conhecida desde a década de 1950. Citado em documentos oficiais do estado desde 1863, o bairro é mais um que surgiu com o processo de urbanização ocorrido ao longo do antigo Caminho Grande, a partir da segunda metade do século XIX, e hoje figura como um dos que tem um intenso e independente centro comercial.
Apesar de tantos nomes, apenas dois se popularizam e o bairro ainda hoje é conhecido por sua antiga denominação: Cavaco. "Quando eu me mudei para cá, em 1950, o bairro ainda era chamado Cavaco. Tinha duas ou três ruas com no máximo 10 casas. O resto era mato e mangue", lembra Conceição Melo, que tem 77 anos e há 62 mora na Rua Ademar de Barros. A rua, aliás, é um dos logradouros mais antigos do Bairro de Fátima.

A boa memória de Conceição Melo ainda traz lembranças da Rua Orlando Vieira, para a qual ela, os pais e irmãos se mudaram quando chegaram a São Luís, vindos de Pedreiras, cidade do interior do estado. "O Bairro de Fátima tinha a Rua Orlando Vieira, que dava entrada para o João Paulo, e duas estradas, e uma delas acabava no Rio das Bicas, onde ficava uma fábrica de arroz e hoje está a Igreja Católica do Parque Amazonas", disse.
História - Mas a história do bairro é bem mais antiga. Quando Conceição Melo se mudou para lá, em 1950, o bairro já era oficialmente povoado há pelo menos 87 anos. É o que mostra o Memorial de Ação Reivindicatória, publicado no Diário do Maranhão, em 27 de julho de 1908. Segundo o documento, em 1863, José de Souza Gayoso e Francisco Gomes de Souza tomaram por aforamento à Câmara Municipal, conforme o termo respectivo, lavrado em 30 de março de 1863, um terreno ao Caminho Grande, com uma área de 100 braças quadradas, contendo 200 braças de frente e 100 de fundo, além das terras adjacentes, confrontando com os sítios João Paulo, Cavaco, Texeira e outros. Sítio Cavaco foi a primeira denominação do bairro.
Mas foi apenas em 1939 que o Sítio Cavaco começou a ser visto pelo poder público. Na época, por terem sido identificadas 50 residências habitadas, o local foi incluído entre as localidades da capital que começariam a pagar o Imposto Predial (atual Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU) quanto à Taxa de Limpeza Pública. Isso trazia vantagens aos moradores, como a regulamentação da denominação das ruas, facilitando a localização de endereços, e o acesso a serviços públicos essenciais, como a higienização das ruas.
Urbanização - Mas a urbanização de fato do bairro só ocorreu a partir da década de 1960, conforme Conceição Melo. "Nessa época São Luís tinha miniprefeituras e uma delas foi instalada no bairro. Em 1960, começaram a fazer as primeiras instalações elétricas. Até então não tinha luz elétrica no bairro. A água encanada só chegou em 1963. Foi também nessa época que nossas ruas foram pavimentadas, com paralelepípedos. O asfalto veio muito depois", informou.
Conceição Melo foi ainda a primeira diretora da primeira escola pública do já Bairro de Fátima, a Unidade Integrada Estado do Amazonas, que foi inaugurada em 1962. Ela dirigiu a escola até 1992. Os serviços de saúde também chegaram na década de 1960, quando em 1966, a Prefeitura de São Luís recebeu, em cruzeiros, a doação de $1.650 dólares do Conselho das Entidades do Bairro Nossa Senhora de Fátima para a instalação de um consultório odontológico, embora, ainda em 1903, o Governo do Estado tenha adquirido um terreno para a instalação de um hospital para tratamento de pacientes com varíola, o que não ocorreu.
Crescimento urbano - A construção das avenidas Kennedy e Presidente Médici (atual Africanos) facilitaram o acesso ao bairro e os aterramentos ocorridos na área de entorno do bairro aceleraram o processo de crescimento urbano da região. Com isso, o Bairro de Fátima aos poucos se tornou um importante centro comercial, não só por situar-se entre as duas vias e estar próximo de outro bairro com forte aptidão comercial, o João Paulo, além do centro da cidade, mas por abrigar vários estabelecimentos de peças automotivas e de materiais de construção.
Foi a proximidade do bairro com o Centro que fez dele o endereço de órgãos como a Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), da Secretaria Municipal da Fazenda (Semfaz) e da Defensoria Pública da União (DPU). Hoje, no Bairro de Fátima funciona um mercado público próprio, dois ginásios poliesportivos, uma agência dos Correios, o Centro de Ensino Doutor Antônio Jorge Dino, o Centro de Ensino Médio Gonçalves Dias, a Unidade Integrada Estado do Amazonas e a Unidade Escolar General Artur Carvalho, a Biblioteca Pública José Serra, o Clube dos Oficiais da Polícia Militar do Estado, a Vila Militar e o Centro Médico Guarás.
Mais
Principais ruas do Bairro de Fátima:
Dagmar do Desterro, Ademar de Barros, Dom Pedro I, Dom Pedro II, Rua 10 ou Periá, Rua 15, Professor Mata Roma, João Vieira Filho ou Rua Maceió, da Liberdade ou Rua das Águas Verdes, Apolônia Pinto, Deputado José Rios, Neiva Moreira, do Correio, 1º de janeiro.
De Cavaco a Bairro de Fátima
Do Sítio Cavaco ao Bairro de Fátima - versão oficial
Em 1863, a área onde hoje fica localizada o Bairro de Fátima abrigava o Sítio Cavaco, propriedade de José Maria Henriques Cavaco. Mas, ao longo do tempo, ele recebeu ainda o nome Sítio Nova Olinda, que, segundo a Portaria Estadual de 27 de abril de 1903, era uma propriedade de Raimundo de Carvalho Palhano. Nesta época, era comum que as localidades e povoamentos da capital fossem conhecidas pelos nomes de sítios existentes em sua área. O Sítio Nova Olinda foi comprado pelo Governo do Estado em 1903 para a construção de um hospital, o que não aconteceu. O governo acabou construindo uma fazenda, a partir de então a área passou a ser conhecida como Fazenda Estadual, nome que não perdurou nem se popularizou e ainda teve uma tentativa de mudança do nome para Fazenda Real, que também caiu no esquecimento. A Lei Municipal nº 413 de 24/11/1928, renomeou a Fazenda Estadual de Bairro Proletariado. Outra Lei Municipal, a nº 408, de 07/10/1953, mudou o nome para Bairro Nossa Senhora de Fátima, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que acabou se popularizando como Bairro de Fátima. No entanto, de todas as denominações antigas, apenas Cavaco ainda faz parte da memória popular de São Luís.
Do Sítio Cavaco ao Bairro de Fátima - versão popular
Moradora do Bairro de Fátima desde 1950, Conceição Melo tem outra versão para a história dos nomes do bairro. Segundo ela, havia, na antiga entrada do bairro, uma serraria cujo telhado era feito com cavacos de madeira - cavaco é o termo utilizado na indústria da madeira para designar os pequenos pedaços de madeira resultantes de uma trituração - e por causa da Serraria do Cavaco a área acabou sendo conhecida como Cavaco. Outros moradores antigos da área confirmam a existência de um sítio chamado Cavaco e alegam que ele seria onde hoje fica o Centro de Ensino Médio Gonçalves Dias e há ainda uma terceira versão popular de que Cavaco era o nome de uma antiga oficina no bairro. O fato é que, em 1953, a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima visitou o bairro, Conceição de Melo já morava no bairro e lembra desse acontecimento. Foi naquele mesmo ano que o bairro passou a ser conhecido pelo nome da santa.


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