Em artigo, ex-jogador da seleção critica momento atual do futebol tupiniquim

RIO - Joguei descalço no paralelepípedo, no terreno baldio, na praia. Comecei com laranja, depois bola de meia, de borracha. Isso acabou. Aliás, o futebol brasileiro está acabando. Quem viu, viu. Quem não viu, vai ser difícil. Não tem mais praça, terreno baldio nem aqueles campeonatos de praia. Com a introdução da tecnologia, os garotos ficam presos o dia todo na frente do computador.

Na seleção, não há continuidade. O Mano Menezes começou uma renovação e foi derrubado. Entrou o Felipão, que já está dependendo da Copa das Confederações. Se não for bem, cai também. Não há o menor respeito pelo profissional.Tudo bem que na Europa também não há essa liberdade, mas sobra estrutura para a formação na base. Cada clube grande tem dez, 20 campos, dá condições que faltam por aqui. O futebol carioca é uma vergonha neste aspecto.

Estou totalmente decepcionado com o nosso futebol, em todos os aspectos, por causa da facilidade com que levam nossos craques e futuros craques. O objetivo dos europeus foi alcançado por enfraquecer o futebol brasileiro. Como muitos dos nossos jogadores não conseguem se enquadrar na filosofia de lá, acabamos perdendo tempo e capacidade. Os jogadores que hoje brilham aqui não são de ponta, e os uruguaios e argentinos acabam sendo os melhores porque não têm concorrência. Com todo o respeito ao grande campeão que é o Seedorf e aos estrangeiros que fazem sucesso no Brasil, sem demérito, acredito que não jogariam aqui de jeito nenhum nos tempos em que os melhores estavam em atividade no país.

Os jogadores do time campeão de 2002 que estavam na Europa, como Cafu, Rivaldo e Roberto Carlos, só saíram do Brasil depois que alcançaram prestígio e experiência por aqui. Hoje, o garoto que sai tão cedo acaba não se formando aqui nem lá. Mas é bom lembrar que o futebol brasileiro está pagando bem, não é preciso mais ir embora por qualquer proposta. O problema da formação está na facilidade de negócio.

Com a concorrência desde a base, a perda do jogo coletivo é um trauma muito grande. Antes, se conhecia primeiro o caráter e depois, a característica do atleta. Joguei 18 anos no Rio. Hoje, vemos essa falta de integração e de socialização entre jogadores do mesmo time. Por isso, a contribuição do Seedorf é tão importante, por tratar o futebol como esporte coletivo que é. Isso é que está faltando, não temos lideranças.