A escalada do dólar
Por Eden Jr.*
Nos últimos dias tomou conta do noticiário econômico a valorização do
dólar frente ao real. Contudo, apesar de aparentemente esse ser um movimento
pontual, ou que vem se intensificando apenas nos últimos tempos, dados revelam
que a ascensão da moeda americana já ocorre há alguns meses, de forma sólida, e
que divisas de outros países também vêm se enfraquecendo. Demonstrando assim,
que essa é uma tendência mais global do que local. Do começo do ano até o final
e abril, o real se desvalorizou 5,23% em relação ao dólar. É a quarta moeda que
mais perdeu valor no mundo em confronto com a divisa estadunidense, superada
pelo peso argentino (10,29%), pelo rublo russo (8,97%) e pela lira turca
(6,76%). Nos últimos 12 meses, o real perdeu 8,84% de seu valor, quando comparado
ao dólar – cotações da Economática.
Fatores econômicos internos e externos são decisivos para essa elevação.
No que diz respeito aos determinantes externos, além da “guerra comercial”
entre EUA e China, que desestabiliza toda a economia mundial, o principal é a
expectativa de que ainda este ano o Banco Central dos Estados Unidos (Fed) suba
duas vezes os juros – que estão atualmente na faixa entre 1,5% e 1,75%. Essa
alta deve ocorrer, pois a economia dos Estados Unidos está aquecida (crescendo
2,3% ao ano), o desemprego, dessa forma, está baixo (na casa dos 4%) e a
inflação (em torno de 1,9% ao ano) ameaça superar a meta de 2%. Todos esses
indicadores sugerem a alta dos juros, para conter a inflação e reprimir a
ameaça de falta de mão de obra. Com a elevação dos juros nos EUA, é natural que
ocorra uma forte migração de dólares de todo o mundo para o mercado americano,
que ainda é um dos menos arriscados e, agora, pagando juros melhores, torna-se
bastante atrativo. Tal deslocamento faz com que “faltem dólares” em muitos
países, e as moedas locais se desvalorizem.
O Brasil tem uma particularidade adicional, tendo em vista que promoveu
uma consistente queda nos juros nos últimos tempos. Saíram de 14,25% ao ano, em
outubro de 2016, para os atuais 6,5% a. a. (menos 54%). Essa conjuntura
aproximou muito a taxa brasileira da americana, fazendo com que o investidor
opte pelo mercado mais seguro, pois a diferença de juros não paga o risco de
aplicar no Brasil. Esse contexto desestimulou, inclusive, o “jogo de arbitragem”
(que traz dólares para o país), mediante o procedimento de tomar empréstimos em
dólar no exterior, onde os juros eram menores, aplicar no mercado brasileiro,
com taxas melhores, auferir o lucro, pagar o empréstimo no estrangeiro e ainda
ficar com uma boa quantia de sobra.
Ainda há dois fatores que tornam a situação brasileira mais complexa em
relação à cotação do dólar, pois afugentam investidores estrangeiros. O
primeiro: o desmantelo das contas públicas, que gera constantes déficits do
governo e leva a dívida pública ao descontrole. De acordo com o Banco Central,
a dívida bruta do país, em março, atingiu inéditos 75,3% do Produto
Interno Bruto (PIB), aumentando o risco de um “calote tupiniquim”. O segundo: a
aproximação das eleições e a possibilidade de vitória de um candidato não
comprometido com a disciplina fiscal, que não faça avançar a Reforma da
Previdência, inquieta a maioria dos analistas, potencializando o risco de
insolvência.
Se bem que essa avaliação carece de um maior rigor, posto que,
candidatos bem colocados nas últimas pesquisas, como Ciro Gomes (PDT), Jair
Bolsonaro (PSL) e Joaquim Barbosa (PSB) já se pronunciaram, diretamente ou por
emissários, favoráveis à Reforma da Previdência – por mais que essa postura
contrarie suas trajetórias políticas e os programas de seus partidos e possa
surpreender os eleitores menos atentos. E Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva
(Rede), outros nomes relevantes, não titubeiam quanto a necessidade da
reformulação no sistema de aposentadorias.
Por outro lado, a exuberante reserva internacional do Brasil, de cerca
de 380 bilhões de dólares, é uma razão para atenuar a preocupação dos
investidores. Estes sabem que, com essa poupança, fica mais fácil converter
seus reais em dólares e retirar suas aplicações do país sem perdas. Temendo
repercussões danosas para a economia, motivadas pela oscilação do dólar – como
o aumento da inflação ou a piora da situação de quem tem dívida nessa moeda – o
Banco Central atuou para reverter a tendência altista. Nesta última
quinta-feira (03), ofereceu US$ 445 milhões ao mercado, o que baixou o valor do
dólar em 0,8%, para R$ 3,52. Depois disso, é esperar que a moeda americana se
acalme e não complique ainda mais a situação dos brasileiros.
*Doutorando em Gestão do Desenvolvimento, Mestre em
Economia e Economista (edenjr@edenjr.com.br)
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