Laborarte: uma paixão (*)
Na década de 70,
pequenos grupos artísticos e mesmo artistas isolados vinham trabalhando para
unificar em uma identidade nossas manifestações artísticas, dentro de um
formato que expressasse a nossa realidade e tivesse a cara de nossa gente.
Numa época de repreensão e censura, quando cabeças premiadas eram postas a prêmio por simples problemas de hermenêutica, dois movimentos pontificavam com atuações permanentes em nosso meio lítero-teatral, despertando o interesse, não só junto à juventude, mas principalmente ao coletivo intelectual e artístico da cidade.
Numa época de repreensão e censura, quando cabeças premiadas eram postas a prêmio por simples problemas de hermenêutica, dois movimentos pontificavam com atuações permanentes em nosso meio lítero-teatral, despertando o interesse, não só junto à juventude, mas principalmente ao coletivo intelectual e artístico da cidade.
O Antroponáutica, nascido no Liceu Maranhense
e formado pelos novos poetas da Atenas, e o Movimento de Teatro de Férias,
criado nos palcos da paróquia da Igreja de São Pantaleão, para dar o tom ao já
desafinado canto da Verônica. Foi neste cenário, que levados pela liderança de
um jovem visionário e teatrólogo iniciante de nome Tácito Borralho, deu-se o
processo de criação do Laboratório de Expressões Artísticas – LABORARTE. Isto
em 11 de outubro de 1972.
O objetivo era congregar tendências de expressões artísticas, para desenvolver um trabalho mais atuante, num movimento que centralizasse a formação, produção e distribuição de arte, dirigido para um modelo de educação popular. Deu-se a realidade. Hoje, 43 anos depois, debruçado nas sacadas de seu casarão, o LABORARTE repassa sua trajetória de glorias, de dever cumprido, e vislumbra o elenco talentoso que cruzou seus umbrais. Salve Tácito Borralho, Regina Telles, Murilo Santos, Zé Inácio Sá, Sergio Habibe, Valdelino Cécio, Wilson Martins, Mundinha Araujo, Laura Victor, operários das primeiras obras, Nelson Brito, Teté, Felipe, Saci, Patinho e Rosa Reis, que deram continuidade a construção, e outros que misturam a massa e colocaram acabamento. Um sonho que não acordou. Dorme no sleep bag, e segue pelos caminho dos séculos no sono desta trupe.
Nos primeiros anos, a preparação para o desenvolvimento da criação artística: teorias básicas, dinâmica de grupo e cursos de arte integrada. A partir de 1974, o grupo se volta para o estudo da cultura popular, principalmente dentro do nosso contexto cultural, objetivando consolidar esses valores e suas formas didáticas e pedagógicas, a serem aplicadas nas varias manifestações de sua produção. “Todo o produto do trabalho será desenvolvido e continuado junto ao povo” (princípio básico).
Pouco tempo depois, a trupe que caminhava descalça atravessa a “Maré Memória” de sua ilha para navegar em outras águas, caminhar em outras terras, e consolidar-se entre aplausos e prêmios. Inserido no contexto, passou a ser uma referencia cultural de São Luis. Mas faltava-lhe vencer as sete léguas, os sete destinos, os sete obstáculos. E eis que surge o “Cavaleiro do Destino”, e chega à consagração dos palcos. Era o LABORARTE calçado, de botas, não de salto alto. Era a excelência.
Por volta de 1986 o grupo parte para o estudo sobre a teatralidade das festas populares de São Luis e desenvolve espetáculos que transmitem este sentimento através de manifestações como: o carnaval – “Te gruda no meu fofão”; festas juninas- “Cacuriá de D. Teté” e “Tambor de Crioula”; queimação de Judas – “Rompendo Aleluia”; e festas natalinas – “Auto da Estrela Esperança”. Passa a elaborar eventos inspirado em suas próprias experiências; “Carnaval de segunda” - para lembrar Moises e seus bailes de mascaras; “Sexta no Labô” – Bolerando nas tertúlias dos cabarés da Zona; “Tarde no Casarão” – Chá (de catuaba) das 5, com direito a sessão de arte e outros “babilaques” .
O LABÔ, além da elaboração de projetos culturais, quer sejam na área de cênicas ou na música, onde realizou inúmeros shows, também tem trabalhos sociais desenvolvidos pelos bairros carentes de nossa periferia, como o projeto “No couro da mão”, e mantém uma Escola de Capoeira Angola, que muito tem contribuído para expansão da comunidade capoeirista no Maranhão.
Este é o LABORARTE. Muito mais que um laboratório de artes, uma catedral da cultural, é uma paixão da cidade.
(*) Augusto Cesar Maia
Bacharel em comunicação, poeta, cronista e compositor, mas neste artigo apenas fazendo enredo
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