Folha de São Paulo
A dez dias da abertura, a 10ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, cancelou a participação de cerca de cem artistas entre os 402 inicialmente convidados. Segundo a organização, a mostra, com orçamento de R$ 7,5 milhões, precisou ser readequada em virtude da alta do dólar.
O número definitivo e os nomes dos artistas que não estarão mais no evento serão divulgados nesta semana, de acordo com a Fundação Bienal do Mercosul. Eles estão, a princípio, sendo avisados individualmente, após uma avaliação caso a caso.
A lista inicial incluía medalhões nacionais, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica, Alfredo Volpi e Iberê Camargo.
Entre os vizinhos latino-americanos, a seleção não ficou (ou ficaria) por menos: Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Diez, Rogelio Polesello, Joaquín Torres-García e o mexicano Diego Rivera.
Insatifeitos com os cortes, três dos cinco curadores-assistentes pediram demissão na semana passada. Fernando Davis (Argentina), Raphael Fonseca (Brasil) e Ramón Castillo (Chile) anunciaram, em carta, o desligamento do evento. No texto, eles afirmam que, às vésperas da abertura, não haviam recebido a lista final de artistas participantes.
O grupo é chefiado pelo historiador e crítico Gaudêncio Fidelis, ex-diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, e pelo curador-adjunto, Márcio Tavares. Eles continuam, ao lado de dois curadores-assistentes.
TRANSPORTE
Os três que saíram mencionam um e-mail que receberam, em 21 de setembro, anunciando as baixas na exibição: a fundação não tinha a verba necessária para custear o transporte de obras do exterior.
Sem dinheiro, seriam mantidos apenas trabalhos que foram criados especialmente para a mostra, estivessem no Brasil ou contassem com financiamento específico para o traslado.
"A alta do dólar, associada a necessidade de ajustes no orçamento, levou ao corte de artistas e da importação provisória de obras", disse a assessoria da Bienal à Folha nesta segunda (12).
Mais do que as baixas, o que incomodou os curadores-assistentes foi terem sido deixados de lado de discussão sobre como seriam os cortes –a decisão veio exclusivamente da direção, dizem, desconsiderando o trabalho de seleção e contato com os artistas.
"O problema não é para ser medido através de números, mas a partir da delicadeza do corte repentino e vertical do projeto que havia até então –e que nos levou à renúncia por incompatibilidade ética e profissional com a Fundação Bienal do Mercosul", dizem Fonseca, Castillo e Davis, em email à reportagem.
"Curadoria é um ato coletivo e onde diálogo e transparência são essenciais. No momento em que estes elementos não são respeitados, coube tomar uma postura."
A Bienal, por sua vez, afirma que todos os curadores, inclusive os assistentes, participaram da decisão.
Do orçamento de R$ 7,5 milhões, R$ 1,6 milhão foi arrecadado via Lei Rouanet –há ainda, segundo a organização, mais 1,5 milhão de patrocínios já assinados a serem utilizados; R$ 2 milhões pela lei de incentivo fiscal do Rio Grande do Sul e R$ 1,27 milhão em incentivo direto.
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