Desemprego estimula empreendedorismo

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Desemprego estimula empreendedorismo

Chefes de família começam negócio como alternativa viável para garantir renda e manter as contas em dia

Com queda no emprego formal, podem crescer atividades como pirataria e também a sonegação de impostos
FOLHA DE SÃO PAULO
Fernando Lobo, 49, começou o ano engordando as estatísticas que mostram 986 mil vagas de carteira assinada cortadas nos últimos 12 meses. Agora, ele é um dos quase 20% de trabalhadores que operam por conta própria para manter as contas em dia.

Funcionário de uma empresa fornecedora de automação para barcos luxuosos, Lobo perdeu o posto depois que seu empregador foi à falência, reflexo do esmorecimento do mercado das lanchas milionárias.


Sem ter encontrado um novo patrão que assinasse seus documentos, ele teve de estimular seu lado empreendedor, em São Paulo.

Lobo agora tem, ele próprio, seus clientes residenciais e corporativos a quem presta serviços como instalação de sistemas de som, iluminação, persianas automáticas.
"Quando ouvia as notícias da onda de demissões em todos os setores, sentia muita pressão, porque tenho prestação de casa própria para pagar e a escola dos filhos."
O aspecto mais preocupante no volume de demissões, segundo Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, é a idade das pessoas que estão sendo dispensadas.

Foi na faixa etária de 25 a 49 anos que a taxa de desocupação mais cresceu em um ano, com alta de 65% entre agosto deste ano e o mesmo período do ano passado, nas principais regiões metropolitanas do país.
Entre os jovens de 18 a 24 anos, a variação não alcança os 40% na mesma base de comparação.

"O que significa perder o emprego na faixa dos 25 aos 49 anos? Significa que pode ser um chefe de família, que não pode esperar muito tempo na fila até conseguir uma vaga nova. É assim que cresce o grupo dos que estão trabalhando por conta própria", diz Azeredo.

SOBREVIVÊNCIA

Para Lobo, porém, ao menos até este momento, a experiência tem sido positiva.
"Hoje, mesmo com a economia fraca, ficou bem melhor. Consigo fechar as contas porque me esforço para ter mais contratos e ganhar mais. É diferente de ter um salário garantido todo mês. Você vai atrás. Hoje eu me sinto apaixonado pelo meu trabalho", conta Lobo.

Para o professor da Fundação Dom Cabral Rodrigo Zeidan, o momento atual vai impulsionar o "empreendedorismo de sobrevivência", um tipo muito comum em países em desenvolvimento.

"O empreendedor de oportunidade é aquele que mede o risco, o retorno, vê a oportunidade e decide arriscar seu tempo e capital. Mas aqui nós veremos mais aquele que abre o negócio como única opção para ter uma fonte de renda", diz o professor.

Segundo Zeidan, há pontos positivos nessa busca por sobrevivência na medida em que pode gerar habilidade e desenvolver produtividade.

SUBTERRÂNEO

O aumento da desocupação também pode ter um efeito colateral indesejado, que é o avanço da economia subterrânea –atividades não declaradas, como sonegação, pirataria e outras fontes de informalidade–, segundo Rodrigo Leandro de Moura, professor e pesquisador do Ibre/FGV.

O Índice de Economia Subterrânea, desenvolvido em parceria com o Etco (instituto de ética concorrencial), registrou queda de quase cinco pontos percentuais nos últimos dez anos, mas a tendência é que não repita o recuo neste ano.

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