Projeto idealizado e coordenado por Papete registra vida e obra dos amos do bumba meu boi.
Entre toadas e histórias
Figuram no livro nomes como o Coxinho, Laurentino, Leonardo, Humberto de Maracanã, Donato Alves, João Câncio, Chico Naiva, Manequinho, Manoel Tetéu, Lobato, seu Canuto, Zé Alberto e Mané Onça, só para citar alguns cantadores que marcam a cultura popular do Maranhão.
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Carla Melo
Do Alternativo 15.03.15
Do Alternativo 15.03.15
Papete, músico, percussionista e pesquisador
Uma das figuras proeminentes do bumba
meu boi, o cantador é o foco do projeto Os senhores cantadores, amos e poetas
do bumba meu boi do Maranhão, coordenado e idealizado pelo músico,
percussionista e pesquisador maranhense José de Ribamar Viana, o Papete.
Prestes a sair do forno, o trabalho que está em fase de conclusão é composto
por um livro, cuja edição é bilíngue (português e inglês) e que traz encartado
três DVDs com uma hora e meia de gravação cada um e um CD, com 40 toadas.
O projeto foi aprovado pela Lei
Estadual de Incentivo à Cultura e pela Lei Rouanet e tem o patrocínio federal
da Vale e da Caixa Econômica Federal e, na esfera estadual, da Cemar. O
lançamento será em São Luís, na última semana de maio, no Teatro Arthur
Azevedo.
Figuram no livro nomes como o
Coxinho, Laurentino, Leonardo, Humberto de Maracanã, Donato Alves, João Câncio,
Chico Naiva, Manequinho, Manoel Tetéu, Lobato, seu Canuto, Zé Alberto e Mané
Onça, só para citar alguns cantadores que marcam a cultura popular do Maranhão.
O livro reúne contribuições assinadas
por pesquisadores e amantes da cultura popular e é ilustrado por um rico acervo
iconográfico, com imagens de Márcio Vasconcelos. A obra contempla aspectos
antropológicos, festivo, religioso, sem deixar de lado a poesia que embala os
cantadores de bumba meu boi.
Assinam os textos, além do próprio
Papete, nomes como o do antropólogo Sérgio Ferretti, que fala sobre o lado
antropológico da manifestação; a pesquisadora e professora Mundicarmo Ferretti,
que destaca a questão religiosa; o pesquisador Jeová França, que fala da festa
em si; o compositor e diretor artístico da Companhia Barrica, José Pereira
Godão, que em forma de poesia aborda como o grupo da Madre Deus foi
influenciado pela manifestação; o também compositor Luís Bulcão ressalta a
figura do amo; o professor Carlos Benedito, o Carlão, aborda a negritude e o
boi bem como o diálogo da manifestação com outras vertentes culturais.
Já o cantor e compositor Josias
Sobrinho relata suas experiências, ainda criança em Cajari, interior do
Maranhão, com o bumba meu boi; a pesquisadora Heridan Guterres também narra
suas experiências no Boi da Fé em Deus. O poeta Joãozinho Ribeiro fala sobre os
cenários heterogêneros e díspares onde ocorre a manifestação. A seguir, são
apresentados os perfis, acompanhados por fotos dos amos que foram entrevistados
por Papete.
Iniciativa - O músico explica que a
ideia do projeto surgiu há alguns anos, com a morte de Coxinho. “Fiquei
pensativo sobre a forma como Coxinho, uma importante figura do bumba meu boi,
morreu. Aquilo me marcou, fiquei estupefato, um cantador do naipe dele que
viveu seus últimos dias passando privações e necessidades de toda espécie”,
relembra Papete. “Então, como músico, queria fazer algo para preservar e até
mesmo resgatar estas histórias, pois vejo que em outros estados há um culto à
chamada velha guarda, que são os guardiões da cultura”, completa.
Depois do projeto idealizado, o
percussionista, que mora em São Paulo, pôs a mochila nas costas e, acompanhado
por uma equipe de profissionais composta por 10 integrantes - entre os quais o
fotógrafo Márcio Vasconcelos – percorreu, entre os anos de 2013 e 2014,
localidades e municípios na Ilha de São Luís, região do Munim e da Baixada,
onde entrevistou cantadores dos cinco sotaques (matraca, zabumba, orquestra,
Pindaré e costa de mão) de bumba meu boi.
“Fiquei feliz, à época das gravações
consegui conversas com 80% deles e os outros 20%, que infelizmente já haviam
falecido, colhi depoimentos de familiares”, observa o músico, que conseguiu
gravar com Donato Alves e Humberto de Maracanã, que faleceram depois. “Para
mim, foi uma honra ter podido registrar estas figuras”, disse.
Papete pretende levar a obra para
embaixadas e consulados, bibliotecas de universidades a fim de divulgar a
cultura maranhense. “Este trabalho também poderá ser usado como fonte de
pesquisa por estudantes e interessados, pois é uma leitura leve e ainda temos o
recurso do audiovisual, que enriquece muito”, opina o músico.
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