Final melancólico de Roseana Sarney
Publicado por johncutrim 13.12.14
A renúncia da governadora do Maranhão a
22 dias do final do mandato põe fim, ao menos por enquanto, a um triste
período da história política, econômica e social do nosso estado. Uma
etapa que precisa ser esquecida, pois é uma demonstração de como não se
deve administrar a coisa pública. Uma sequência de equívocos que
prejudicou gerações. A ressalva acima, de ao menos por enquanto, é
porque o grupo continua vivo, é poderoso, tem forte inserção midiática e
influência em Brasília. Qualquer vacilo ou lentidão nas ações que se
esperam ser incisivas a partir de 1º de janeiro, abrirá brechas para que
eles pavimentem terreno para o regresso.
Os juízes que fizeram voltar aquele grupo
ao poder em abril de 2009 deveriam avaliar, a posteriori, as
consequências previsíveis daquele veredito que ceifou a vontade de mais
de um milhão de maranhenses que haviam escolhido livremente outro
governante. A maioria dos maranhenses havia votado ancorada no visível
circuito virtuoso de progresso que o estado experimentava no período que
começou em 2002 e se estendeu até dezembro de 2006. Um lapso de tempo
em que foi possível demonstrar que apenas gerindo a coisa pública com
seriedade é possível encontrar resultados interessantes e resgatar a
autoestima de uma população carente. Um período que mostrou e confirmou,
em definitivo, que a grande vocação maranhense é a agricultura. Mesmo
porque ela requer investimentos bem mais reduzidos para mostrar
resultados; sobretudo num estado que apresenta as evidentes carências de
qualificação da força de trabalho, como é o Maranhão. Pensar em fazer
intervenção que promova atração de setores sofisticados de transformação
e indústria com os atuais indicadores de qualificação da força de
trabalho dos maranhenses implica em trazer, junto, mão de obra
alienígena. Nos primórdios do deslanchar um processo sustentado de
desenvolvimento deve-se fazê-lo no que se tem de abundante em dotação de
recursos. No Maranhão temos uma natureza exuberante, recursos naturais,
solos, pluviosidade e gente com baixa qualificação. Então o processo
para deslanchar o desenvolvimento tem duas vertentes: no curto prazo
fazer a renda crescer no setor em que tem vantagem comparativa
(agricultura), gerar ocupação e evitar que populações emigrem de forma
desordenada. Ao mesmo tempo deve-se fomentar um processo de
radicalização da educação, preparando futuras gerações; aí, sim, para
procedimentos mais avançados de produção, tendo um setor agrícola
pujante produzindo com tecnologia alimentos e matérias primas, inclusive
agroenergéticas.
A decisão da ex-governadora é, no mínimo,
um ato de não acato aos preceitos democráticos, bastante em vigor neste
país nos últimos doze anos. A salutar alternância de poder faz parte do
revigoramento do processo democrático. Não aceitar este fato é um
desrespeito com quem de fato decide. A população que vota, de
preferência de forma esclarecida e livre de qualquer amarra.
Os atuais detentores do poder que tudo
fizeram para conquistá-lo sem o aval da população, e por via judicial,
deixam o estado em frangalhos, antes de completar o tempo regulamentar,
numa evidente demonstração de que queriam o poder para exercê-lo sem
comprometimento com as grandes carências de um dos estados mais
promissores do Brasil, mas que tem a sua população empobrecida devido a
atos como este de agora.
Além da herança maldita das contas
públicas do estado, os governantes que abandonam o barco em plena
turbulência deixam os indicadores a seguir.
Vejamos alguns dos indicadores atuais,
comparativamente ao que acontecia em 2008, um ano antes da decisão
judicial que tirou o governador democraticamente eleito, e colocou uma
governadora não eleita para promover uma sequência de desmandos no
estado. As informações brutas da análise estão nas PNAD/IBGE.
Ao final de 2008, o Maranhão tinha
841.409 analfabetos maiores de 15 anos, numa população de 4.323.775
naquela faixa etária. Portanto, a taxa de analfabetismo (19,5%) do
estado naquele ano era alta, mas vinha declinando desde 2004. Em 2013,
quatro anos depois da atual ex-governadora, os maranhenses maiores de 15
anos que se declararam analfabetos somavam incríveis 948.748 sujeitos
infelizes, ou 107.339 a mais do que em 2008. A taxa de analfabetismo dos
maranhenses ascendeu para19,8%.
Em 2008, o percentual dos domicílios
maranhenses que tinham acesso ao esgotamento sanitário era de apenas
13,4%. E este número vinha num incremento em face dos esforços do
governo que começou em 2002. Em 2013, o governo que agora decide sair de
campo antes de terminar o tempo regulamentar, conseguiu a proeza de
reduzir aquele sofrível percentual para apenas 10,4% dos domicílios.
Outro indicador que evidencia bem o
estágio em que se encontra a população maranhense diz respeito ao
percentual da população que sobrevive em domicílios cuja renda total
domiciliar varia de zero a dois salários mínimos, onde residem os
pobres. Em 2008 o percentual era de 55%. Em 2013, este percentual
ascendeu para 56,3%. Isto implica dizer que populações que estavam em
estratos de renda domiciliar superiores “migraram” para os de mais baixa
renda, por falta de oportunidades. Não é por acaso que no estado,
proporcionalmente, existe a maior população beneficiada pelos programas
de transferência de renda e apresentou a maior votação da atual
Presidente.
Poderia continuar mostrando os desastres
na produção agrícola familiar, como acesso ao PRONAF em que em 2006 o
Maranhão apresentou a segunda maior inserção no Nordeste desde que o
programa foi criado. Em 2012 ficou na sexta posição na região,
provocando queda expressiva na produção agrícola familiar. Noutra
oportunidade mostrarei esse desastre. As evidências acima sinalizam o
tamanho do problema que os maranhenses enfrentarão. Felizmente, com essa
gente, tomara que definitivamente, distante dos poderes de decisão.
(José Lemos – Professor Associado e
Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal
do Ceará. www.lemos.pro.br)
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