Corrupção ou complicação

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Corrupção ou complicação

Carlos Heitor Cony

RIO DE JANEIRO - É isso aí: o governo presidido por dona Dilma pode ser classificado como corrupto. Prefiro outra classificação: é um governo complicado. Outro dia, o Arnaldo Bloch escreveu uma crônica em que confessou a dificuldade de iniciar qualquer texto, tendo ou não tendo uma ideia preliminar na cabeça e nos dedos.

Embora sem qualquer autoridade para dar conselhos a qualquer outro escriba, disse-lhe que antes de ter um assunto bom ou mau bastava abrir o computador e escrever a frase com que geralmente inicio qualquer texto: "É isso aí".

O que vem depois, seja lá o que for, merece o introito que coloquei acima: "É isso aí".
Foi assim que há 62 anos consegui sobreviver num ofício que não aprecio e de quebra deu para o leite das minhas filhas. O Ruy Castro me acusa de sempre escrever sobre as guerras púnicas. Ele tem razão, apenas não está atualizado: hoje prefiro falar sobre as guerras de Peloponeso: é isso aí.


O Eça de Queiroz, quando não tinha assunto, escrevia sobre a corrupção e outros defeitos do Bei de Túnis, personagem que só existia na cabeça do autor de "A Relíquia", incluindo um fabuloso Conselheiro Acácio, que na realidade nunca existiu, mas o mundo, principalmente agora, está cheio de Acácios em todos os setores da vida pública.
É isso aí. Prefiro considerar a atual gestão complicada. Assim, evito repetir a maioria dos articulistas, ou quase todos, que prefere usar o adjetivo "corrupto".
Faço justiça à nossa presidente: ela é complicada, dependendo de uma CPI que pode incluí-la como cúmplice da corrupção generalizada que tanto lamentamos.
Chega a ser monótona a constatação de termos as nossas autoridades (com direito às fotos 3x4) acusadas de malfeitos que superam, com muitos zeros, o mensalão. É isso aí.

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