Professor da UFMA diz que é vítima de homofobia e já sofreu ameaças
Aliny Gama
Do UOL, em Maceió
Do UOL, em Maceió
O professor da UFMA (Universidade Federal
do Maranhão) Glécio Machado Siqueira, 36, afirma que é vítima de
homofobia praticada por três alunos dentro do campus de ciências
agrárias e ambientais, localizado no município de Chapadinha (a 246km de
São Luís).
Recém-contratado, o professor relatou que
desde o início do ano letivo vem sofrendo insultos e agressões verbais
praticados por três alunos dentro e fora de sala de aula.
De acordo com Siqueira, os atos
homofóbicos já chegaram a prejudicar o conteúdo em sala de aula. “Me
chamam de bicha, de gay, e outras agressões verbais impublicáveis. Eu
não revido, pois me mantenho superior a isso tudo, mas me entristece
demais. A minha tristeza foi convertida em luta pelos direitos humanos.
Por várias vezes, tive de me retirar da sala de aula porque um
aluno-chave começou a ler meu curriculum em sala de aula e dizer que eu
não era capacitado por conta da homossexualidade”, disse o professor.
Em outro episódio, um aluno viu que o
professor estava no banheiro e entrou para agredi-lo. “Ele começou a
falar palavrões e chutar as portas. Comuniquei o fato à direção e me
sugeriram passar a usar o banheiro feminino. É muita humilhação, pois
sou um profissional e mereço respeito”, reclamou.
Segundo o professor, o caso foi
comunicado à coordenação do campus, a reitoria e a ouvidoria da UFMA,
porém nada foi feito. O professor também comunicou o problema ao MEC
(Ministério da Educação). Procurada pela reportagem, a UFMA informou que
não foi aberta nenhuma reclamação sobre o caso até a tarde da
sexta-feira (21) e que não vai se posicionar sobre o assunto.
“Comuniquei aos setores responsáveis na
universidade e também ao MEC e recebi o silêncio como resposta. Os
insultos só vêm aumentando e eu me sinto sozinho, pois não recebi nenhum
apoio da universidade. O que me fortalece são alunos que repudiam estes
atos de homofobia e estão me apoiando. Integrantes do DCE [diretório
central estudantil] já presenciaram essas agressões, se reuniram e
fizeram um abaixo-assinado repudiando os atos homofóbicos”, afirma
Siqueira.
O professor contou que tanto ele quanto os demais alunos já receberam ameaças de morte feitas pelos três alunos.
OAB denuncia caso
Siqueira tem dois pós-doutorados e foi
chamado este ano em um concurso da UFMA para o campus de ciências
agrárias e ambientais. Ele ministra aulas de física e biofísica para 200
estudantes dos cursos de engenharia agrícola, biologia e zootecnia.
Nesta segunda-feira (23), a Comissão de
Diversidade Sexual da OAB/MA (Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão)
esteve em Chapadinha para denunciar o caso à polícia. O professor
informou que vai ingressar com ação na Justiça.
O presidente da comissão OAB, Thiago
Viana, destacou que a UFMA não possui um estatuto prevendo punições para
alunos que comentam algum ato infracional. “Hoje existe apenas
regimento para punição de professores, mas para alunos não. Não se tem
como abrir um procedimento investigatório administrativo, porque não
existe regimento disciplinar para alunos, e essa certeza da impunidade
acarreta na ocorrência de atos de homofobia e até racismo”, disse Viana.
Ele também afirmou que a OAB está
acompanhando o caso e que iniciou nesta segunda-feira (24) ações para
combater atos homofóbicos dentro da UFMA, com a realização de palestras e
distribuição de panfletos.
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