O Imortal José Chagas
O Imortal José Chagas
Roda Viva
- Benedito Buzar
bbbuzar@hotmail.com
bbbuzar@hotmail.com
02/11/2014
Na
condição de membro da Academia Maranhense de Letras e confrade de José Chagas,
não pude despedir-me do grande poeta quando de seu falecimento, a 13 de maio
deste ano.
Estava
bordo de uma aeronave da TAM, que decolaria para São Paulo, quando o celular
toca. Era a sobrinha de Chagas, Deusana, que me informava sobre o triste
falecimento do tio, vitimado por um Acidente Vascular Cerebral, no Hospital
UDI, após vinte dias internado naquele estabelecimento.
Antes de
o avião decolar, comuniquei, por telefone, a Jomar Moraes o que acabara de
acontecer e pedi a ele, dado a minha impossibilidade de interromper o
compromisso agendado em São Paulo, que informasse aos confrades aquela terrível
notícia e realizasse os procedimentos que nós, da Academia, assumimos quando
morre um confrade de levar o corpo para a sede da instituição, para ser velado
e receber as merecidas homenagens póstumas, desde que a família consinta.
Lamentei
muito não estar presente no velório e no enterro de Chagas, que conheci e me
tornei amigo no final dos anos 1960, quando comecei a trabalhar no Jornal do
Dia, que o empresário Alberto Aboud acabara de vender para um grupo político.
Chagas, à
época, era figura de primeira grandeza do jornal, em cuja página principal
deliciava os leitores com primorosas e diárias crônicas, versadas
principalmente sobre São Luis, onde não nascera, mas a ela, desde que aqui
chegara, dedicava grande carinho e especial devoção, pelo que representava como
um centro produtor e irradiador de cultura.
Aquelas
fantásticas crônicas, que eu as lia da primeira à última letra e com uma
sofreguidão incomum, fazia questão de com ele comentá-las e de citar as frases
nelas contidas, algumas sarcásticas, outras floreadas de ternura.
Naqueles
tempos do Jornal do Dia, ele e eu dedicávamos grande amizade a uma
extraordinária figura humana e política do Maranhão – o deputado Henrique de La
Rocque Almeida, que, em sua ampla e confortável residência, à Rua dos Afogados,
gostava fidalgamente de receber os jornalistas de São Luis para homenageá-los e
colocar a conversa em dia.
Numa
daquelas recepções, surgiu a ideia de Chagas, já desfrutando de relevante
conceito e respeito na cidade, candidatar-se à Câmara Municipal de São Luis. A
princípio o poeta resistiu, mas a insistência e o apoio do anfitrião fizeram-no
recuar e a disputar o pleito de 1966, sendo eleito vereador pela Arena, com
grande votação.
Em outro
momento da minha vida, tive a ventura de conviver fraternalmente com José
Chagas. Corria o ano de 1990, eis que recebo convite do então presidente da
Academia Maranhense de Letras, Jomar Moraes, para candidatar-me à vaga do meu
saudoso professor Fernando do Reis Perdidão, catedrático da Faculdade de
Direito.
Como
nunca havia pensado em tão ousado projeto, tentei esquivar-me, mas Jomar e o
poeta convenceram-me a entrar para a Casa de Antônio Lobo.
Naquele
sodalício, conheci o outro lado marcante do poeta e cronista de São Luis. Ele
não parecia aquele homem que, também, resistiu ingressar na Academia Maranhense
de Letras. Surpreendeu-me pela maneira como gostava de participar das sessões
acadêmicas e de discutir com entusiasmo os assuntos em pauta.
Era dos
primeiros a chegar e dos últimos a sair às reuniões das quintas-feiras na AML.
Solidário com os confrades e sempre disposto a colaborar, pontificava e atuava
como acadêmico dedicado e pronto a lutar para a instituição honrar as tradições
de cultura do povo maranhense.
A partir
de 2010, o poeta começa a sentir o peso da idade e das doenças que o afligiam.
Algumas vezes, as crises que o atormentavam eram tão graves que só o
internamento hospitalar atenuaria o seu sofrimento. Numa das ocasiões, pensei
que ele não suportaria a crise. Sem pestanejar, busquei a ajuda do senador José
Sarney, seu amigo dileto e admirador, que imediatamente entrou em ação e
resolveu a situação, internando-o no Hospital Carlos Macieira.
Quando
ele deixou, por problemas de saúde, de freqüentar a Academia, as sessões
deixaram de contar com a sua contribuição, sob todos os pontos de vista,
valiosa e produtiva. Levamos um bom tempo para nos acostumar sem a sua presença
e suas participações, sempre em prol do desenvolvimento da cultura e das letras
maranhense, das quais era a figura emblemática e fulgurante.
Durante a
minha gestão na presidência da Casa de Antônio Lobo, o seu aniversário sempre
foi comemorado. Sem que ele soubesse, ao amanhecer do dia, entrávamos em sua
casa com um especial café da manhã para compartilhar com ele da alegria pela
data e de tê-lo como amigo, confrade e um intelectual renomado e brilhante, que
só não foi um poeta de invejável projeção nacional, porque nunca quis sair de
São Luis, terra que abraçou com acendrado amor e veneração.
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