Via Crucis do Samba, Sioge e Palacete Gentil Braga!

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Via Crucis do Samba, Sioge e Palacete Gentil Braga!


Via-Crúcis do Samba, Sioge e Gentil Braga!              (Sotaque da Ilha, JP Turismo, 31.1.2014)           (Execração do Iphan ao som mais
brasileiro, na Praia Grande, e banho-maria no acervo agonizante)                                                                                                                        
Herbert de Jesus Santos(*)       
                                                                                        A
cultura geral leciona que a primeira manifestação carnavalesca, no Brasil, data
de 1844, no Rio, com um  baile de
máscaras feitas de cera. Em 1850, surgiu o modelo nacional, desfilando nas ruas
cariocas, sobre uma vaca de um açougueiro português
. Este, talvez, com a insuflação do Zé-Pereira, um luso que, na festança, passou
a acordar a cidade, em 1846, ao som do seu bumbo, e virou marcha (Viva Zé-Pereira!), em 1870, até hoje, e tão sangue-bom
o gajo que, com seu sumiço, suas percussões, com a sucessão de cuíca, tamborim,
reco-reco, pandeiro e frigideira, foram introduzidas  nas escolas de samba.                        
  A
carreira artística deste apêndice fantasioso, na folgança, em São Luís, andava
azul-celeste, até que o então prefeito Epitácio Cafeteira, que nem Freud
explica, em 1966,  decretou sua proibição
nos bailes de segunda (Saravá, na Rua Senador João Pedro, e Bigorrilho, no Caminho
da Boiada,  etc., agonizantes  na casa dos 1970), onde o auge da minha
adolescência, com um pé na frente e outro atrás, não saía do ritmo, para não
errar sequer  na camuflagem do sexo de
“Eu te conheço, carnaval”! Cafifa despachou da cancha musical, pois sem o
acessório artificioso, lavadeiras, cozinheiras, operárias, etc., que, na dissimulação,
esbaldavam-se na doce ilusão, e, alvejado por um enxame de pragas, escapou
fedendo com uma marchinha tendenciosa, gravada às pressas, como se vontade
popular: “O Cafeteira não quer máscara neste carnaval/! E aí tem muita gente
que vai ficar se dando mal/! Oba, Seu Cafeteira, mande a máscara pra Lua/! Basta
aí de mascaradas,/que a gente vê todo dia pela rua!”                                                                       

Essa perseguição aos  sujeitados,
no reinado de Momo, aqui, nota-se no jornal O País, de 1876, acusando que suas
brincadeiras tinham hora para aparição; pior era contra “as danças inconvenientes”,
assim: “Pelo Ex.mo. Sr. Dr. Chefe de Polícia foi expedida esta portaria:/ N.º
823—Secretaria de Polícia do Maranhão, 14.11.1876./ Recomendo a Vmc. Muito
terminantemente, que não consinta que nesta cidade haja de hoje em diante
ensaios e danças de cheganças, congos, fandangos, turés, etc., por depoentes
contra a civilização da capital da província, fazendo dissolver estes
divertimentos, que nem sequer devem transitar pelas ruas. /Deus guarde a Vmc. —
O chefe de polícia da capital”. Já o periódico pelego foi todo regozijo: “Ao
ato acima transcrito, sendo prova de atenção a uma justa reclamação da imprensa
e dos que prezam os nossos foros de povo civilizado, merece aprovação de
todos./Que sejam permitidas essas danças nos três dias do carnaval admiti-se,
mas com o que ninguém pode concordar é que tais foliões conservem-nos em
carnaval perpétuo, fazendo os seus mascarados percorrerem as ruas todos os
domingos./Bem fez o Sr. Dr. Chefe de polícia.”                                                                       Já naquela
quadra do séc.19,  a percepção do tríduo
(domingo, segunda e terça) com as prévias carnavalescas, que ninguém de ferro,
para encarar o rojão, sem estar calejado nas antecedências. Se não saísse no
Dr. Peta de domingo passado, até Deus duvidaria que o Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) acionou a Delegacia de Costumes por que
uma roda de samba (há quase um decênio, rolando maneira na Feira da Praia
Grande, só às sextas-feiras) “facilita a deterioração do acervo arquitetônico”.
Não sei se a superintendência de Kátia Bogéa se ilustrava, entre nós, quando presunçosos
agenciadores do “reggae” presenteavam ali, com “paredões” de radiolas do
estrangeirismo, parecendo bananas de dinamite, as rachaduras. Chiamos daqui, e
os regueiros só saíram, com a polícia, sob suspeição de gorjeta, por excesso de
vandalismo, desassossego público e ameaças de morte, na bagunça.
                      

  Ajudando os bambas (que denunciaram a
negligência do Iphan, em sua alçada, e ser o samba, agraciado pelo dito cujo, Patrimônio
Cultural Imaterial do Brasil, sem um incidente ali), ressurgimos que no dia
28.11.2009 foi aprovado pela UFMA o projeto arquitetônico, financiado pelo
Iphan, para a restauração do Palacete Gentil Braga, que sedia o DAC (Departamento
de Assuntos Culturais), e até hoje necas de sair do papel. Ali, o pró-reitor
Antônio Luiz Amaral, o arquiteto Flávio Grilo e Kátia Bogéa, que, sem ser
consultada a respeito, salientou que o seu serviço “Tem a missão de promover
cada vez mais a transparência dos gastos públicos, além disso, o governo
federal tem atuado, firmemente, no sentido de incentivar o controle social para
que as práticas da administração pública sejam pautadas pela legalidade e pela
ética”. Porque ela falou que “A participação ativa da sociedade é
imprescindível para garantir o bom uso do recurso público”, estamos aqui,
indígenas honrosos, para lembrar à cara-pálida (baiana) a relevância da engenharia
lusitana, no exclusivo exemplar, aqui, na ostentação de mirante em forma de
torre, com janelas em arco ogival, e de fachadas com azulejos dos Oitocentos, e
onde o poeta Gentil Braga trançava suas obras e firmava parcerias à
efervescência cultural da Urbe.
O santo só desconfiou da extensão da promessa: começo da
reforma em 2010, com a adição de um auditório para 140 pessoas, e Grilo
palpitando a adaptação de um espaço propício para a ascensão da cultura
maranhense. Tudo era com urgência, mas faz quatro anos essa ligeireza...              
Na tardezinha dessa segunda, assisti “in
loco” ao DAC, em desuso,
dois servidores na portaria, presenciando ao
vaivém da Rua Grande, a secretária se virando nas correspondências num vazio aonde,
até na direção do jornalista e mestre Euclides Moreira, pulsavam vernissages (de
fotógrafos, pintores, escultores), noites de autógrafo, conferências, Salão de
Charges e o escambau (péssimo, só o “ Unireggae”, sucessor fajuto do ali excelente
 Festival de Música Maranhense,  e merece a substituição por um  Concurso Literário Sousândrade, congênere de um
já feito ali). Foi de cortar o coração a
cena, só menos que a ruína do prédio do Sioge
, hoje,  “cracolândia” 
invencível, e que foi, com sua editora, jornal Vagalume e concurso literário,
etc., o órgão cultural maranhense mais conceituado pela intelectualidade
brasileira. Em comum com o Gentil Braga, a ansiosa ressurreição —falam um
museu— pela UFMA e Iphan, que se encaixou na nossa paródia da marchinha de
Cafeteira: Kátia Bogéa não quer samba
neste carnaval (bis),/ e aí muito cupim têm a maior cara-de-pau! (bis)! Fora,
Kátia Bogéa, com essa lei de estrume,/bota o Iphan pra vigiar/o nosso Centro
Histórico de costume!(bis)   (*)Jornalista
e escritor (poeta, cronista, contista, novelista e romancista)



















                

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