Matanca de negros
JM Cunha Santos
Uma chacina está sendo cometida contra a população negra do Brasil diante dos nossos olhos. A constatação feita pelo Ipea de que dois em cada três homicídios cometidos no país são contra negros reforça uma suspeita que assume, diante destas novas estatísticas, sua cara suja de catástrofe social. Mais de um século depois, o fim da escravidão não libertou os negros da discriminação e da asfixia econômica.
As raízes históricas de tão retumbante exclusão ainda estão nos porões dos navios negreiros. Mas os negros continuam sendo mortos, aqui e agora, porque, junto com a liberdade limítrofe da Lei Áurea ganharam também a marginalização. Sem empregos, sem escolas, sem futuro e racialmente constrangidos aos guetos do capitalismo selvagem, viraram força bruta no mercado de trabalho, almas dispensáveis no convívio social e suspeitos preferenciais da autoridade policial em toda e qualquer circunstância.
Negros, em sua grande maioria, são favelados, palafitados, sem terras e sem tetos nesse cansativo Brasil. Se duvidar, o estigma da inferioridade levou à fúria e o abandono à calamidade humana. A escravidão se foi, mas a ascensão social minguou nos braços de um racismo disfarçado e de uma miscigenação periférica que não melhorou as condições de vida de negro nenhum. Durante muito tempo um negro numa escola, ou freqüentando uma faculdade, foi mais um objeto estranho e digno de estudos sociológicos, de justificativas antropológicas e nada mais.
Essas mortes são avisos perfeitos de que à discriminação humana e social juntou-se a asfixia econômica para alojar os negros nos bolsões da miséria absoluta e da violência, sem direito a quilombos nem esperanças. Negros não têm parentes importantes, por isso estão sendo torturados, condenados, presos e mortos sem culpa ou punição. E, a julgar pelo número absurdo de homicídios cometidos no Brasil, é provável que estejamos diante de uma inconsciente, mas irrefreável limpeza étnica que ainda tem raízes num sentimento de superioridade impossível de entender.
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