A ELITIZACAO DOS ESTADIOS
A ELITIZAÇÃO DOS ESTÁDIOS

Uma das polêmicas do momento diz respeito à elitização dos estádios.
Os mais extremistas acham que está em curso uma campanha viral que visa “higienizar” os estádios (leia-se “afastar os pobres”) na ânsia da implantação de um padrão Fifa de qualidade, buscando entre outras coisas melhorar a imagem do país em nível internacional.
Os mais ponderados, porém, entendem que são os preços dos ingressos atualmente praticados – e toda uma sucessão de custos decorrentes da ida ao estádio, que vai desde o transporte e o estacionamento até os preços de bebidas e comestíveis – que estão afastando das “arenas” os menos favorecidos pela sorte.
No meu modo de ver, não é o caso de ser extremista, mas sim de analisar a questão sob o ponto de vista financeiro.
Os moderados têm razão, mas existem detalhes que merecem alguma consideração, e o principal deles é o papel da televisão, em especial da TV Globo, canal aberto apoiado nos canais pagos SporTV e Première.
De acordo com a nova distribuição de verba de patrocínio – nem um pouco equitativa, por sinal – a Globo dispende um total de 2,5 bilhões de reais por ano com o futebol da Série A.
Uma das formas de obter um retorno financeiro que compense o investimento realizado é lucrar com a venda das caríssimas cotas de patrocínio de transmissão das partidas, e vender o campeonato no “pay-per-view”.
Os índices de audiência justificam o valor dos patrocínios, e manter o público em casa para aumentar estes índices ou fazê-los assinar os canais pagos é uma estratégia comercial que está funcionando. Não é à-toa que a emissora, que administra os horários de transmissão dos jogos em consonância com a sua grade de programação, faz questão que o torcedor assista às partidas no recesso do seu lar, pouco se lixando para o público presente nos estádios.
Para fazer um “agá”, a venda de ingressos é feita para que o público se concentre num determinado lugar a fim de que a televisão mostre o torcedor animado e participativo, mesmo que a visão panorâmica das arquibancadas e cadeiras registre enormes clareiras.

Já para os clubes, esta nova filosofia de captação de recursos deixa em segundo plano as arrecadações dos estádios, pois além da verba da Globo eles também têm polpudos patrocínios com base na economia de mercado que, em teoria, deviam bastar para sustentar o espetáculo, o que só não acontece por causa da incompetência gerencial dos seus dirigentes.
Isto explica os valores absurdos dos ingressos, que podem chegar a 100 reais ou custar a bagatela de 2 reais (preço cobrado pelo São Paulo para conseguir juntar 25 mil pessoas no jogo contra o Atlético Paranaense).
A única explicação lógica para isso é que o interesse do tricolor não era ganhar dinheiro com a partida, e sim atrair o torcedor para ajudar a tirar o time da posição incômoda em que se encontra na tabela de classificação.
O ingresso caro pode manter os estádios vazios e prejudicar nas estatísticas de público presente, mas isto não é problema para os clubes, pois menos pessoas acabam correspondendo financeiramente ao mesmo valor arrecadado com um público cinco vezes maior.
O torcedor mostrado atualmente pelas câmeras de TV é o cidadão de classe média alta que tem condição de arcar com o alto custo da ida ao estádio.
Assim, o torcedor com cara de subúrbio sumiu dos estádios e pode estar enfiado em algum bar onde o dono possui a TV por assinatura e retransmite ilegalmente a partida para uma freguesia que gasta qualquer coisa entre 10 e 15 reais com direito a cerveja, tira-gosto e papo-furado.
Augusto Pellegrini
Uma das polêmicas do momento diz respeito à elitização dos estádios.
Os mais extremistas acham que está em curso uma campanha viral que visa “higienizar” os estádios (leia-se “afastar os pobres”) na ânsia da implantação de um padrão Fifa de qualidade, buscando entre outras coisas melhorar a imagem do país em nível internacional.
Os mais ponderados, porém, entendem que são os preços dos ingressos atualmente praticados – e toda uma sucessão de custos decorrentes da ida ao estádio, que vai desde o transporte e o estacionamento até os preços de bebidas e comestíveis – que estão afastando das “arenas” os menos favorecidos pela sorte.
No meu modo de ver, não é o caso de ser extremista, mas sim de analisar a questão sob o ponto de vista financeiro.
Os moderados têm razão, mas existem detalhes que merecem alguma consideração, e o principal deles é o papel da televisão, em especial da TV Globo, canal aberto apoiado nos canais pagos SporTV e Première.
De acordo com a nova distribuição de verba de patrocínio – nem um pouco equitativa, por sinal – a Globo dispende um total de 2,5 bilhões de reais por ano com o futebol da Série A.
Uma das formas de obter um retorno financeiro que compense o investimento realizado é lucrar com a venda das caríssimas cotas de patrocínio de transmissão das partidas, e vender o campeonato no “pay-per-view”.
Os índices de audiência justificam o valor dos patrocínios, e manter o público em casa para aumentar estes índices ou fazê-los assinar os canais pagos é uma estratégia comercial que está funcionando. Não é à-toa que a emissora, que administra os horários de transmissão dos jogos em consonância com a sua grade de programação, faz questão que o torcedor assista às partidas no recesso do seu lar, pouco se lixando para o público presente nos estádios.
Para fazer um “agá”, a venda de ingressos é feita para que o público se concentre num determinado lugar a fim de que a televisão mostre o torcedor animado e participativo, mesmo que a visão panorâmica das arquibancadas e cadeiras registre enormes clareiras.
Já para os clubes, esta nova filosofia de captação de recursos deixa em segundo plano as arrecadações dos estádios, pois além da verba da Globo eles também têm polpudos patrocínios com base na economia de mercado que, em teoria, deviam bastar para sustentar o espetáculo, o que só não acontece por causa da incompetência gerencial dos seus dirigentes.
Isto explica os valores absurdos dos ingressos, que podem chegar a 100 reais ou custar a bagatela de 2 reais (preço cobrado pelo São Paulo para conseguir juntar 25 mil pessoas no jogo contra o Atlético Paranaense).
A única explicação lógica para isso é que o interesse do tricolor não era ganhar dinheiro com a partida, e sim atrair o torcedor para ajudar a tirar o time da posição incômoda em que se encontra na tabela de classificação.
O ingresso caro pode manter os estádios vazios e prejudicar nas estatísticas de público presente, mas isto não é problema para os clubes, pois menos pessoas acabam correspondendo financeiramente ao mesmo valor arrecadado com um público cinco vezes maior.
O torcedor mostrado atualmente pelas câmeras de TV é o cidadão de classe média alta que tem condição de arcar com o alto custo da ida ao estádio.
Assim, o torcedor com cara de subúrbio sumiu dos estádios e pode estar enfiado em algum bar onde o dono possui a TV por assinatura e retransmite ilegalmente a partida para uma freguesia que gasta qualquer coisa entre 10 e 15 reais com direito a cerveja, tira-gosto e papo-furado.
Augusto Pellegrini
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