Relógios que fizeram parte da história, hoje, sofrem com a ação do tempo
E eles estão presentes em ruas, praças, em algumas igrejas ainda, a exemplo da Catedral da Sé e da Igreja de São Pantaleão
Eles fazem parte da história da cidade. Em tempos passados marcavam o tempo, ditavam horários, serviam de orientação para apressar ou diminuir os passos. Hoje já não ganham tanta atenção dos passantes. São meros enfeites, desprezados, alvos de vandalismo e sofrendo com a ação e desgaste do tempo. Os relógios públicos que tiveram grande função nos tempos de outrora agora guardam consigo apenas a fachada. E eles estão presentes em ruas, praças, em algumas igrejas ainda, a exemplo da Catedral da Sé e da Igreja de São Pantaleão. Mas agora apenas como ornamentação. Uma coisa é fato: ao contrário de outras cidades, São Luís não tem relógio público funcionando.
Os moradores da cidade, principalmente os mais velhos, lamentam que uma parte da história da cidade tenha sido deixada para trás. O professor Barbosa, de 62 anos, costuma fazer do Centro seu caminho rotineiro. E lembra que, quando criança, gostava de olhar para o simpático relógio do Largo do Carmo. Não esse que está lá agora. Mas um bem antigo e que ainda funcionava. “Trocaram por esse aí mais moderno, mas que não funciona. Hoje é como uma estátua. Só serve para enfeite mesmo”, lamenta o professor. De tanto tempo que não funciona, as pessoas nem se dão mais ao trabalho de levantar a cabeça. “Não sabia nem se tinha relógio aí”, diz uma apressada vendedora de roupas ao passar pela praça.
"Vontades e projetos não faltam. Há um desejo muito grande no coração que eles voltem a funcionar. Aliás, tanto os relógios, quanto os sinos que também já não tocam mais, estão todos com rachadura", Padre César, pároco da Igreja da Sé
Restauração do Relógio do Carmo
A restauração do relógio está prevista no projeto do Programa de Aceleração do Crescimento (o PAC das Cidades Históricas), uma vez que o local foi reconhecido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como parte integrante do Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade e de Utilidade Pública, conforme a Lei Municipal nº 4.098, de 30 de outubro de 2002. “Tanto a reforma da estrutura dele, quanto a recuperação/troca do mecanismo para que ele volte a funcionar, estão previstos no projeto que está em elaboração. Este projeto ainda não foi concluído e, após a conclusão, seguirá para Brasília para aprovação prévia ao processo de licitação”, informa o coordenador técnico dos Projetos do PAC Cidades Históricas, Rafael Arrelaro.
O primeiro relógio foi instalado no Largo em 1941, durante a administração do prefeito Pedro Neiva de Santana. Houve algumas intervenções, sendo a última modificação em 2006, na gestão do prefeito Tadeu Palácio. Em 2007, o equipamento de 1m de altura por 1m de comprimento voltou a funcionar por aquisição do Instituto Municipal de Paisagem Urbana (Impur), em substituição ao antigo. Não demorou muito para que ele deixasse de funcionar.
"Tanto a reforma da estrutura dele, quanto a recuperação/troca do mecanismo para que ele volte a funcionar, estão previstos no projeto que está em elaboração", Rafael Arrelaro, coordenador técnico dos Projetos do PAC Cidades Históricas
Na ladeira da Estrela
Os mais atentos devem perceber que na ladeira que separa a Rua da Estrela da Rua de Nazaré, próximo à Praça Pedro II, há dependurado um belo, mas castigado marcador de horas. O secular relógio instalado no anexo do prédio do Tribunal de Justiça do Maranhão é referência histórica de São Luís. A última restauração do relógio, segundo a assessoria do TJ, foi em 2012. Porém, não foi informado se há projeto de restauração concluído para o presente momento.
A relíquia – por mais sessenta anos – foi referência da hora certa para os ludovicences. Importado da cidade de Croyton, na região metropolitana de Londres, na Inglaterra, foi fabricada em 1911 pela empresa Gillett & Johnston e adotada como modelo de relógio pela Companhia de Telégrafos “The Western Telegraph” para os seus escritórios na América do Sul. Nas cidades de Florianópolis (SC) e Rio Grande (RS), há similares preservados.
O modelo combina com o imóvel em estilo neoclássico do anexo “Carlos César de Berredo Martins”, onde foi instalado, no mesmo ano em que a empresa companhia de telégrafos passou a funcionar na Praça Pedro II - a partir de 1º de maio de 1911 -, quando a avenida de mesmo nome ainda se chamava “Avenida Maranhense”.
A companhia – que começou a operar no país em 1873 – fechou as portas cem anos depois, em 25 de abril de 1973. A agência Western e os ingleses deixaram o Maranhão definitivamente, mas o relógio ficou para trás. Na década de setenta, o imóvel onde o aparelho está instalado foi anexado ao Palácio da Justiça e passou a pertencer ao patrimônio do Poder Judiciário, por iniciativa do desembargador Lauro de Berredo Martins, presidente do Tribunal de Justiça nos anos de 1972 a 1974, que solicitou a desapropriação do prédio ao governo do Estado.
Na época, apenas os mais abastados possuíam relógios de bolso. O imponente relógio do cabo submarino era uma referência na cidade e simbolizava a famosa pontualidade britânica.
E mais...
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