Trajano Galvão
Hoje é dia de...Sebastião Moreira Duarte
31/10/2014
Daqui a três dias comemoraremos o sesquicentenário de Gonçalves Dias,
de sua chegada “ao infinito mar sem porto / que se alcança só depois de
morto”, ao mar infinito que foi uma das obsessões de sua poesia. Tomara
que não o esqueçamos. Tomara que a Feira do Livro de São Luís, que
está a iniciar-se, tenha se lembrado dele como o maior de seus patronos.
Como,
nesta esquina do jornal, já rendi meu dever de gratidão e
reconhecimento ao Maior Poeta do Brasil, peço-lhe licença para associar à
celebração de seus 150 anos o nome de outro seu conterrâneo e coevo:
Trajano Galvão de Carvalho.
“Nasceu, poetou e
morreu” – assim Raimundo Correia resumiu-lhe a vida, como a testemunhar
queTrajano Galvão entabulou simbiose com a cigarra, a da fábula e a
real, nascidas ambas para cantar e cantando até morrer. Mas uma cigarra
não descuidada de fazer-se formiga. Nascidoàs margens do rio Mearim, em
1830, o nosso poeta andou pela Europa, sem perder a impregnaçãode seus
pagos natais, de cujos ares encheu os pulmões e o pensamento, desde a
infância. Sílvio Romero, rigoroso na censura e temido pela verve
atrabiliária de sua crítica, esbanja parágrafos para destacar-lhe a
importância como uma das primeiras vozes, em nossa literatura, a
denunciar a ignomínia do cativeiro africano, que ainda tintava de sangue
os algodoais dos latifúndios maranhenses. Denúncia sentida e sincera,
registro próximo ao fato, diferente, por exemplo, do Navio Negreiro de
Castro Alves, composto quando já abolido o tráfico de escravos para o
Brasil.
A biografia de Trajano Galvão situa-se num
momento histórico de passagem entre dois centros de formação de nossa
intelectualidade. Alistado na leva já rarefeita da nobreza rural
maranhense que ainda mandava seus herdeiros estudar em Coimbra, fez-se,
de fato, bacharel pela Faculdade de Olinda. Entre o Maranhão e
Pernambuco, temperou-se do espírito libertário que insuflou as revoltas
da Balaiada, da Cabanada e da Praieira. Viveu apenas 34 anos.“Foi a
musa pálida das tristezas e do luto que o fez poeta um dia, no alvorecer
da idade; e, para o diante, até o termo de sua não longa existência,
foi ela ainda que melhor e mais vezes o inspirou” – diz ainda Raimundo
Correia.
Não nos escape, porém, destacar a veia
satírica de Trajano Galvão, de cuja espécie permanece, com pleno vigor
de mordacidade,seu poema O Nariz Palaciano, primor de ironia contra os
aduladores palacianos, e que não viria fora de propósito fosse relido
nestes dias em que um novo governante– sabe-se lá com que liberdade, ou
sob que pressões, de que frentes e influências – enfrenta o sacrifício
de montar nova equipe para dar exercício a seu mandato administrativo.
Trajano
Galvão reclamava um revival. Ao labor e aos lavores de Jomar Moraes, a
seu zelo incansável pelas coisas do Maranhão, devemos a homenagem que
já tardava, e agora se cumpre, com a republicação do conjunto de poemas
intituladoSertanejas, do Poeta, 116 anos depois da primeira edição.
E
nem me falte registrar que Trajano Galvão de Carvalho é o patrono da
Cadeira nº 20 da Academia Maranhense de Letras, atualmente ocupada pela
poetisa Sônia Almeida.
* * *
Por
falar em Academia, assinalo o privilégio que me cabe, de ser o
primeiro, entre os companheiros que assinam crônicas nesta coluna, a
saudar os novos confrades Turíbio Santos e José Ribamar Neres, eleitos
ontem para a Casa de Antônio Lobo, e que chegam à Augusta Companhia
irmanados pelas artes do magistério e pelo magistério das artes.
smduarte@elo.com.br
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