SÃO LUIS, UMA CIDADE SEM RUMO
Nonato Reis -Jornalista - Jornal Pequeno
A fama de Ilha Rebelde, somada à inércia de seus gestores, impõe a São Luís um pesado ônus. A cidade é o retrato do fracasso administrativo. Reflete a um só tempo a incapacidade do poder público de fazer frente a suas demandas e as marcas de uma política perversa que privilegia os interesses de grupo e deixa de lado o que realmente interessa.
Há um entendimento de que, alinhados, governo do Estado e prefeitura poderiam resgatar São Luís do marasmo. É uma meia verdade. A conjunção política em si não garante na prática administrações exitosas. Fosse assim, nos anos de chumbo da ditadura, quando governadores biônicos tinham a prerrogativa de nomear os próprios prefeitos das capitais, São Luís teria vivido um ciclo duradouro de progresso, e o retomado mais recentemente, com a vitória da oposição em 2006.
Isto não ocorreu porque não basta juntar prefeito e governador numa só corrente política. Mais do que afinidade de interesses, é importante haver comprometimento, competência para administrar, coisa que não se tem verificado com o correr dos anos. Na verdade, usa-se a propalada divergência política como álibi para justificar os maus resultados no plano municipal.
Sem dúvida São Luís precisa de uma conjugação de esforços, que ultrapassa o plano rasteiro de interesses subalternos. Paralelo, precisa também de bons gestores. As marcas da inércia estão por toda parte, especialmente em sua malha viária, limitada e obsoleta. Quase inexistem investimentos em infraestrutura, o que é um absurdo para uma cidade que ultrapassou a marca de um milhão de habitantes.
Vista de um plano geral, com aquele quadro de verticalização que tomou conta das áreas nobres, São Luís pode ser confundida com uma cidade de grande porte. Os problemas começam a surgir quando se ajustam as lentes sobre aspectos específicos e aí se pode ver o quanto ela carece de serviços. Não há uma única obra física de vulto em construção. E as intervenções de menor escala em curso caminham com uma lentidão que beira à paralisia.
Estão aí a Via Expressa e a Avenida do IV Centenário, ambas de responsabilidade do Estado, que parecem intermináveis. Havia a expectativa de que, em razão do processo eleitoral, essas obras fossem entregues até o mês de setembro. Nem as eleições conseguiram acelerar o ritmo dos trabalhos, e uma e outra deve ser mesmo concluída lá pelo final do ano.
Sem uma política de ocupação do solo e pela completa omissão do poder público, São Luís se expandiu na base do improviso, avançando sobre áreas de preservação ambiental, ocupando os espaços sem levar em conta a oferta de serviços públicos. O resultado são as inúmeras invasões que pontificam a paisagem urbana, a maioria sem rede de água e esgoto, pavimentação, coleta de lixo, equipamentos de uso coletivo.
Ao invés de crescer, a cidade inchou, e isto não pode ser debitado apenas na conta da retaliação política. A cidade tem sido vítima de gestores incapazes que, via de regra, limitam-se a tocar a rotina administrativa, cuidando apenas de manter em dia o pagamento do funcionalismo e efetuar pequenas intervenções no traçado urbano, ancorados na alegação de falta de dinheiro.
Ainda que houvesse caixa de sobra, a situação poderia não ser muito diferente. Uma boa gestão se faz, em primeiro lugar, com planejamento, para que os recursos públicos sejam aplicados naquilo que é prioritário. Também precisa saber se relacionar com as diversas instâncias de poder, não apenas no âmbito estadual, mas principalmente federal, onde se localiza o maior volume de recursos. E depois elaborar bons projetos, a fim de que possam passar pelo crivo dos agentes financeiros.
Decerto a discriminação do Estado, em face da questão política, é um complicador, e isto é algo abominável, mas não dá para fazer disso um argumento para justificar a própria incompetência. Porque antes de se elegerem, candidatos contrários aos interesses do Palácio dos Leões pregam o discurso de que é possível administrar a cidade sem depender da ação de seus desafetos. Após assumirem mudam o tom e passam a culpar os adversários por seus próprios erros. O Estado pode (e deve) somar esforços em favor de São Luís, mas é o Município que tem a prerrogativa legal de enfrentar os problemas e apresentar soluções.
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