Mestre Júlio, líder da bateria da Favela do Samba, completa 30 anos à frente da bateria da agremiação
ALTERNATIVO
Três décadas de samba
Rodrigo Oliveira
Estagiário da UFMA
Estagiário da UFMA
07/02/2013 00h00
· .
“A Favela é uma parte da minha vida, cheguei com 18 anos aqui, não sou do Sacavém, mas fiz muitos amigos”. É assim que Júlio Machado, o Mestre Júlio, define os 30 anos em que está à frente da bateria Carcará da Favela do Samba. Em comemoração à data, haverá uma festa hoje, às 19h, com participação da bateria, do grupo Bandelícia e de artistas convidados, como Lindalva Lins, na quadra da agremiação (Av. dos Africanos).
Um dos mais respeitados mestres de bateria de escola de samba do Maranhão, Mestre Júlio iniciou sua carreira como instrutor da Banda La Roque, em setembro de 1980. Em visita à quadra da Favela em companhia de Mimoso, irmão de Screte, compositor da escola à época, Mestre Júlio foi convidado para fazer uma ala de passistas com pandeiros, em novembro do mesmo ano.
Em 1983, Mestre Paulo Nunes, que comandava a bateria da Escola, o chamou para tocar repique no grupo. Porém, Mestre Paulo precisou voltar para o Rio de Janeiro, sua cidade de origem. “Ele era sargento do Exército e veio passar um período no 24º Batalhão de Caçadores. Quando chegou o tempo de ir embora, ele me pediu para tomar conta da bateria”, explica Mestre Júlio.
Segundo o músico, era difícil liderar o grupo porque ele não era da comunidade do Sacavém, mas sim do Lira, bairro próximo à Escola Turma do Quinto, que apresentava muita rivalidade em relação à Favela do Samba, na época. “Em 1987, Mestre Paulo veio passar o Carnaval em São Luís e disse que poderia voltar tranquilo para o Rio porque a bateria estava em boas mãos”, relembra Mestre Júlio.
Durante as três décadas em que atua na Favela, Mestre Júlio fez consultorias para diversas bandas de fanfarra tanto do Maranhão quanto de outros estados.
Bateria – No início, a bateria era muito marcial, tocava reta, sem paradinha nas notas e não tinha evolução de bateria. Os instrumentos musicais eram rústicos, feitos de couro de bode ou de latão, de forma artesanal. “Isso era um problema, pois com a umidade os instrumentos de couro desafinavam e os de lata enferrujavam”, lembra.
Era trabalhoso fazer os instrumentos musicais. Comprava-se couro de bode no mercado, colocava de molho em água de dois a três dias para amolecer, depois cobria os instrumentos e colocava-os para secar de três a quatro dias. Após esse período, tirava-se o excesso de pelos e ainda tinha o problema do cheiro forte, que era amenizado com querosene ou azeite de dendê.
Segundo Mestre Júlio, a bateria Carcará melhorou muito. Hoje, as canções são mais elaboradas, permitindo as evoluções de bateria com coreografias durante os desfiles. “Atualmente, tem ritmistas que entendem de música. Tem gente que toca cavaco, violão, trompete, sax, violino etc. não apenas por causa da bateria, mas com pretensões profissionais. Alguns até já se apresentam por conta própria”, afirma Mestre Júlio, com satisfação.
A Favela do Samba já se apresentou na companhia de artistas famosos, como Neguinho da Beija-Flor, Paulinho da Mocidade, Dominguinho da Estácio de Sá e Beth Carvalho. As cidades de Caxias, Itapecuru, Codó, entre outras, já foram visitadas pela escola.
Para o mestre, uma das mais importantes contribuições da bateria foi o trabalho socialrealizado com ritmistas que estavam enveredando pela marginalidade. “Temos 18 adolescentes de 12 a 15 anos, que só participam se tiverem boas notas na escola”, assegura.
A comemoração dos 30 anos de Mestre Júlio à frente da bateria é apenas uma das três festas realizadas este mês. A primeira aconteceu terça-feira e homenageou o aniversário da professora Terezinha Rêgo, que foi tema do enredo da escola em 2001. Já no domingo, será a vez de celebrar o aniversário da médica Maria Aragão, lembrada nos versos do enredo do ano de 1989.
0 comentários:
Postar um comentário