As invasões bárbaras

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As invasões bárbaras


Por Eden Jr.*

Quando na tarde da última quinta-feira, dia seis, chegaram as primeiras informações acerca do ataque sofrido pelo candidato à Presidência da República do Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, uma parte da população estava entre a incredulidade e a perplexidade. Uma outra – lamentavelmente hipnotizada por teorias conspiratórias nonsenses – fez chacota da tentativa de assassinato e até mesmo cogitou algum tipo de complô perpetrado pelos grandes grupos de comunicação, sob comando de forças americanas, para vitimizar Bolsonaro e assim selar sua vitória na corrida presidencial. Pelo menos não se pode reclamar de falta de coerência, pois quem acredita que auditores, policiais, promotores, juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores se mancomunam para perseguir um “inocente” ex-presidente da República, também admite que policiais, enfermeiros e médicos – de três hospitais distintos – podem engendrar um embuste para beneficiar um irascível candidato a presidente.  
 
Entretanto a realidade é que Adélio Bispo de Oliveira, que engrossa o contingente de mais de 13 milhões de desempregados do país, tentou tirar a vida do candidato do PSL com um golpe de faca durante ato de campanha realizado em Juiz de Fora/MG. A insanidade cometida por Adélio – que foi filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) entre 2007 e 2014 – foi mais um lance brutal da escalada inconsequente, sem regras e sem limites, em que se converteu a disputa política.

Em realidade, chegamos ao paroxismo, porque sucessivas circunstâncias de agressividade, de natureza e gravidade variadas, em nossa contenda política, foram toleradas ou mesmo menosprezadas, o que acabou descambando nesses abomináveis lances de violência física. A crítica, a benevolência ou o desdém para com os atos de selvageria passaram a depender da corrente política seguida por agressores ou agredidos. Falta uma mínima dose de serenidade. 

É simbólico que muitos tenham tratado como molecagem o incidente da “inofensiva bola de papel” arremessada em outubro de 2010 contra a cabeça do então presidenciável do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), José Serra, em evento de campanha no bairro de Campo Grande na cidade do Rio de Janeiro. Aí o que valeu não foi a intensidade, mas o gesto em si de descaso e de fúria para com o adversário – que para tantos se transformou em inimigo. 

Outros episódios – que foram agravados ou desprezados, a depender da simpatia partidária de quem os analisava, mas que na realidade deveriam ter sido todos repudiados contundentemente, isso se estivéssemos em um ambiente político civilizado – podem ser facilmente recordados. A bomba arremessada no diretório regional do Partido dos Trabalhadores (PT) no centro de São Paulo em 2015. A hostilidade cometida neste ano pelos petistas, Manoel Marinho e Leandro Marinho, contra o empresário Carlos Alberto Bettoni, no momento em que ele participava de manifestação contra o PT em frente do Instituto Lula, em São Paulo, e que resultou em traumatismo craniano. Os tiros disparados, em maio último, em ônibus da caravana do ex-presidente Lula, no Paraná – isso depois desse mesmo comboio ter sido alvo de ovos e pedras em Santa Catarina. A agressão ao professor aposentado José Carlos Pithan, de 71 anos, quando participava de manifestação contra o ex-presidente petista na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, em março deste ano.
 
Em uma democracia há certos princípios, como o absoluto respeito às decisões judiciais e à liberdade de imprensa, que são inarredáveis, mas que vêm, com certa frequência, sendo flexibilizados neste infame contexto político que vivemos. Foi o caso da Mesa Diretora do Senado, quando desobedeceu à sentença de dezembro de 2016 do ministro do STF Marco Aurélio Mello, que afastava provisoriamente Renan Calheiros da presidência da Casa. Episódio semelhante foi o descumprimento da determinação – diga-se tresloucada – de mandar soltar o ex-presidente Lula, expedida pelo desembargador Rogério Favreto, que atuava como plantonista do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4). O constrangimento a que foi submetida a jornalista da Globo, Míriam Leitão, que durante um voo entre Brasília e Rio de Janeiro foi hostilizada por militantes petistas. Ou mesmo a ofensa desferida neste ano por esquerdistas contra a repórter da TV Band, Joana Treptow, durante a cobertura da prisão do ex-presidente Lula no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo/SP. 

Não há de se justificar, nem de longe, o ataque covarde sofrido por Bolsonaro em razão do perfil belicoso e autoritário do candidato. No primeiro dia de setembro, Bolsonaro afirmou que iria “fuzilar a petralhada do Acre”, durante sua passagem pela capital acreana, Rio Branco. Uma declaração ignóbil, sem a menor dúvida. A situação está no STF, como deveria ser, e o candidato terá que se explicar pela fala e poderá ser punido pelo que disse. 
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É prematuro prognosticar as repercussões do ocorrido para o certame eleitoral. A última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada na quarta-feira, dia cinco, dava vantagem para Bolsonaro, com 22% das intenções de votos, seguido por Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) com 12%, Geraldo Alckmin (PSDB) com 9% e Fernando Haddad (PT) com 6%. Esse levantamento pouco captou a influência do recém iniciado horário eleitoral gratuito na TV e no rádio, bem como do indeferimento, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da candidatura de Lula. 

É necessário esperar que os fatos sejam depurados e aguardar como a sociedade vai absorver o sucedido. Porém, se tem como certo que qualquer presidente que seja eleito, só terá capacidade de remover o país da grave crise econômica e social em que está mergulhado, se conseguir, minimamente, conciliar a nação, superar o clima de conflagração e seguir as regras democráticas, sem surtos de autoritarismos e violência. 
    
*Doutorando em Administração, Mestre em Economia e Economista (edenjr@edenjr.com.br)

1 comentários:

heraldomgouveia disse...

Amigo Eden Do Carmo Soares Junior,fico muito feliz em ler seu texto, muito bem fundametado técnica e politicamente. Sem passionalismo partidários. Sabes, sou filiado ao PT, mas observo as idiossincrasias fundamentalistas em ambos os extremos (bem nas distais da esquerda e da direita conservadora), portanto sendo difícil conversar com alguns pares (por isso abandonei falar em redes sociais) de poucas leituras e de vivencias de jargões. Parabenizo-o Eden Do Carmo Soares Junior, como um grande intelectual da nossa terra e da nova geração. Seu texto impecável, num nível dos melhores do país que ficará como um correto registro histórico de análise político social do nosso convulsionado tempo.

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