Devagar, quase parando...

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Devagar, quase parando...



Por Eden Jr.*

Quando o primeiro Relatório de Mercado Focus – elaborado pelo Banco Central com base na opinião semanal das principais instituições financeiras do país – foi lançado no início do ano, dia cinco de janeiro, a aposta era de que a economia crescesse 2,69% em 2018, isso depois de ter aumentado 1% no ano passado. Porém, a divulgação pelo IBGE, no final de maio, da expansão de apenas 0,4% no primeiro trimestre, colocou sérias dúvidas sobre a real capacidade de evolução do nosso Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Uma série de incertezas rondam o cenário, dificultando ainda mais os prognósticos otimistas para a nossa economia.
Os drásticos efeitos da greve dos caminhoneiros, encerrada no início de junho, não foram captados nessa última medição do PIB, mas seguramente terão severos efeitos sobre o desempenho do segundo trimestre, bem como sobre o ano como um todo. Por conta da paralização, o Banco Santander reduziu a expectativa de crescimento do PIB para o segundo trimestre de 0,8% para 0,2%. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas projeta um recuo de 0,2% da atividade econômica em 2018, em razão do movimento. O Banco Itaú crê que agora o país vá crescer 1,7% e não 2% como previa anteriormente.

O clima negativo vem contaminando o mercado de ações. O Ibovespa, indicador que reúne as ações mais negociadas da Bolsa de Valores de São Paulo, vem registrando sucessivas quedas. No ano, o Ibovespa caiu 6,5%, e entre os dias 14 de maio e 14 de junho, regrediu 16,2%, indicando que o ambiente se deteriorou no último mês. O ciclo de baixa das ações está diretamente ligado às perspectivas ruins para a economia brasileira, que se instalaram com força nas últimas semanas e reflete o pessimismo dos investidores. Fatores como: a manifestação dos caminhoneiros, possibilidade de greves em empresas públicas – como a da Eletrobrás –, alta do dólar e cenário incerto para as eleições, são apontados como determinantes para o desânimo do mercado, o que retroalimenta as incertezas e inibe novas possibilidades de negócios.  

A alta do dólar tem sido um capítulo à parte no drama brasileiro. É esperado que o ano eleitoral cause estresse e leve à oscilação na divisa americana. Desde o início do ano, o dólar vem se valorizando perante boa parte das moedas, mas nas últimas semanas, com a atmosfera pessimista que assola a nossa economia, esse processo tem se intensificado. De primeiro de janeiro até o dia 14 deste mês o real se desvalorizou cerca de 14,9% em relação ao dólar, e entre 14 de maio e 14 de junho, retrocedeu 5%. Essa dinâmica causa embaraços, pois acaba pressionando a inflação, porque boa parte dos produtos comercializados têm componentes cotados em dólar. Situação que pode levar a um aumento na taxa de juros básica da economia (Selic), atualmente em 6,5%, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, marcada para os dias 19 e 20 deste mês. Um movimento de alta nos juros, torna os empréstimos e financiamentos mais caros, fato que atrapalha as vendas, reduz a produção, o emprego e dificulta a retomada do crescimento.
No contexto do dólar, uma péssima notícia veio dos Estados Unidos nesta quarta-feira, dia 13. O Fed, o banco central americano, elevou a sua taxa de juros para o intervalo entre 1,75% e 2%. O procedimento foi para conter a inflação do país, que vem aumentado em razão da atividade econômica, que está em plena ascensão, inclusive o índice de desemprego dos EUA, de 3,8%, é o menor em 18 anos. Foi a sétima alta seguida dos juros estadunidenses desde 2015, e há perspectiva de mais duas elevações, o que pode fazer com que os juros americanos cheguem ao intervalo entre 2,25% e 2,50%. Este quadro agrava ainda mais a tendência de desvalorização do real, dada a fuga de dólares para aplicação numa economia mais sólida, como a norte-americana. E a escassez da moeda americana no Brasil provoca alta da cotação do dólar. O nosso Banco Central tem feito operações com swap cambial – equivalente à venda futura de dólar – para tentar brecar a subida do dólar. Só nesta quinta-feira o BC injetou US$ 4,5 bilhões para acalmar o câmbio, e pode colocar mais US$ 10 bilhões de dólares nos próximos dias, nessa empreitada de conter a desvalorização do real.

Contudo, é da esfera política que vem os sinais de maior instabilidade. Recente pesquisa divulgada pelo Datafolha revela o crescimento de Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) na corrida presidencial. Nomes que causam dúvidas quanto à implementação de um programa reformista, especialmente na área fiscal, em que os déficits se sucedem ano a ano. Bolsonaro tem um histórico parlamentar de rejeição a medidas de disciplina fiscal, que causam antipatia no eleitorado. Já Ciro apresenta comportamento político errático, indo do espectro da centro-direita à esquerda, na qual está mais ligado recentemente. Até ano passado, o político do PDT afirmava que não havia déficit previdenciário – apesar dos cálculos oficiais apontarem um rombo na Previdência de R$ 268 bilhões em 2017 (INSS mais Regime dos Servidores Federais). 

O presidente Temer, e seu entourage, são atingidos por acusações de corrupção quase que semanalmente. Circunstância que mina o arsenal de medidas de que podem lançar mão para alavancar a economia, dada a absoluta ausência de credibilidade de que dispõem. Como um dos últimos recursos para animar o cenário, esta semana o governo ampliou o saque das contas do PIS/Pasep, para colocar R$ 30 bilhões na economia. É pouco provável que resultados positivos venham rapidamente, tanto que agora as previsões apontam para aumento de apenas 1,5% do PIB em 2018. Muito aquém do que precisamos.   
   
*Doutorando em Administração, Mestre em Economia e Economista (edenjr@edenjr.com.br) 
 

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