O perigoso fascínio das moedas digitais

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O perigoso fascínio das moedas digitais

Por Eden Jr
As notícias dos últimos meses têm sido angustiantes para aqueles que embarcaram na aventura das moedas digitais, ou criptomoedas, aplicando parte de suas economias nessa modalidade de “investimento”. A bitcoin – a mais famosa das cerca de 1,2 mil moedas virtuais existentes – experimentou perdas significativas neste ano, de 35% (até dia 22 de março). Isso depois de ter passado por fabulosa valorização de 1.400% em 2017.

A bitcoin foi criada pelo desenvolvedor de software Satoshi Nakamoto. Inicialmente esse japonês inventou um mecanismo de pagamento eletrônico sustentado em provas matemáticas, com a intenção de gerar uma “moeda independente” da interferência de bancos centrais e que pudesse ser transferida instantaneamente. Diferentemente das moedas tradicionais, as criptomoedas, não são impressas por um banco central, existindo apenas no mundo virtual. Elas são obtidas – “mineradas” – virtualmente, por uma comunidade aberta de usuários, que utilizam computadores de alto desempenho conectados pela internet. Essas máquinas tentam resolver equações matemáticas, que são lançadas na rede pelo software da bitcoin a cada dez minutos. O primeiro computador que conseguir solucionar a equação é premiado com um lote de 12,5 bitcoins. Segundo as regras – protocolo – da bitcoin, apenas 21 milhões de unidades dessa “moeda” podem ser criadas, fato que tende a valorizar seu preço, pois a torna limitada. No mundo há mais de um milhão de máquinas trabalhando freneticamente para resolver as questões e “minerar” bitcoins.
Para aqueles que não se predispõem a “minerar” bitcoins, podem comprar essas “moedas” em diversas bolsas virtuais existentes no mundo, inclusive no Brasil. Claro que quem decide “investir” nesse tipo de negócio tem que ficar atento para a reputação dessas operadoras. Sites como o “coinmap.org” apontam os estabelecimentos onde se pode comprar bens eletronicamente com bitcoins.
O sal, o gado e até mesmo ossos já foram utilizados como moedas. Com o tempo, as moedas foram sendo confeccionadas – por praticidade e segurança – em metal e em papel. As moedas tradicionais, como o real, o dólar ou o euro, têm três funções clássicas: “meio de pagamento” (são usadas na compra de bens e serviços); “reserva de valor” (preservam o poder de compra com o decorrer do tempo) e “medida de valor” (pela moeda pode-se medir o valor dos demais bens). A bitcoin, somente em parte é “meio de pagamento” (porque não é aceita em todas as operações de compra), apenas parcialmente serve como “reserva de valor” (pois devido à sua alta volatilidade pode se desvalorizar rapidamente) e dificilmente a ela pode ser atribuído o papel de “medida de valor” (já que somente um número restrito de bens pode ter seu valor expresso em bitcoin).
Uma das razões da valorização da bitcoin foi a possibilidade de se guardar anonimato nas transações, tendo em vista que ela não está submetida à fiscalização de órgãos estatais. Dessa forma, indivíduos que praticam atividades ilícitas, como narcotráfico e lavagem de dinheiro, se resguardam em criptomoedas. Nesse sentido, Christine Lagarde, chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), afirmou que na ausência de legislação, essas “moedas” tornaram-se “sistemas de lavagem de dinheiro e de financiamento do terrorismo”.
A espetacular apreciação da bitcoin nos últimos tempos chamou a atenção de várias autoridades internacionais, pois há riscos de perdas para os investidores menos informados. Janet Yellen, que foi presidente do “Federal Reserve” (FED) – o Banco Central Americano – até fevereiro deste ano, qualificou a criptomoeda como “altamente especulativa” e Ilan Goldfajn, mandatário do nosso Banco Central, afirmou que a “moeda não tem lastro, que as pessoas compram esperando apenas a valorização, num típico movimento de bolha ou pirâmide que existe na economia há séculos”. Em janeiro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira desautorizou que os fundos de investimento aplicassem em criptomoedas, sob a alegação que não se sabe ao certo a natureza dessas “divisas” e que inclusive “não podem ser qualificadas como ativos financeiros”.
Gigantes da internet, como Facebook e Google, também estão pessimistas com o futuro das criptomoedas, tanto é que neste ano proibiram anúncios desses “ativos” em suas plataformas. Atitude motivada pela progressiva preocupação em relação a golpes e escândalos envolvendo essas “moedas”. Uma bitcoin, que atingiu a cotação máxima de 19.300 dólares em 16 de dezembro de 2017, valia 8.700 dólares neste último dia 22 de março (coindesk.com). Números que demostram a forte queda da “moeda”, que se deu, entre outros fatores: pela extrema especulação que sofreu recentemente; pela possibilidade de regulação do setor – o que afasta aqueles que a utilizam para atividades ilegais – e também pela restrita rede de estabelecimentos que a aceitam para compra de mercadorias. Parafraseando Tom Jobim – que afirmou: “O Brasil não é para principiantes” – pode-se dizer também que operar com moedas digitais não é para amadores.

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