Ministro nomeia jovem de 19 anos para fazer pagamentos de R$ 473 milhões

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Ministro nomeia jovem de 19 anos para fazer pagamentos de R$ 473 milhões



Mikael Tavares Medeiros está sempre de bom humor quando chega ao trabalho. No começo da tarde, ao adentrar o quarto piso do edifício-anexo do Ministério do Trabalho para um expediente que costuma durar algumas horas, distribui sorrisos e cumprimentos a seus subordinados e à sua secretária. Acomoda seu paletó na sala 444, onde, desde 28 de dezembro, coordena e autoriza os pagamentos a fornecedores da pasta – coisa de R$ 473 milhões por ano.

Mikael tem 19 anos. De idade, não de ministério. Até outro dia, fazia troça nas redes sociais por ter ficado de recuperação no último ano do Ensino Médio. “qm passa direito é busao kakakwkaka”, escreveu numa delas. Mikael estava desempregado; entrou há pouco na faculdade. Sua experiência profissional até ser nomeado no Ministério do Trabalho: vendedor de óculos numa loja, indicado pelo pai.
“CARREIRA” – Ele começou a trabalhar na pasta em outubro de 2017. Foi nomeado coordenador de documentação e informação pelo então ministro Ronaldo Nogueira, do PTB. Um cargo tão burocrático como o nome sugere. Mas que não paga tão mal: R$ 5,1 mil brutos, por mês. Dois meses depois, recebeu a missão de ser gestor financeiro de um setor fundamental do ministério. Tornou-se “responsável pelos atos necessários à execução orçamentária, financeira e patrimonial” dos pagamentos da Coordenação Geral de Recursos Logísticos. É a turma que libera dinheiro dos contratos da pasta. A atribuição da função de gestor financeiro foi assinada pelo então secretário-executivo da pasta, Helton Yomura. Yomura é ministro interino desde então. Foi apadrinhado por Roberto Jefferson desde que a nomeação da filha dele, Cristiane Brasil, naufragou.
Ninguém assume a paternidade da nomeação de Mikael, mas ela apresenta claramente conotações políticas. Seu pai, um policial, preside o PTB numa cidade próxima a Brasília. É aliado do deputado Jovair Arantes (GO), líder do partido na Câmara. Sua mãe, uma diarista, recebe Bolsa-Família.
PAI DELEGADO – O pai do rapaz é o delegado da Polícia Civil de Goiás Cristiomario de Sousa Medeiros. Ou “Delegado Cristiomario”, como se apresenta aos eleitores de Planaltina de Goiás e região.
A reportagem conversou com o delegado em seu gabinete na delegacia em Planaltina. Ele negou ter feito a indicação do filho para o cargo no ministério, disse que não teria problema em fazê-la e confirmou ter sido o responsável por apresentar Mikael aos próceres do partido:
– Não sei qual cargo ele ocupa lá. Sei que ele esteve passando por gabinetes e que participou de reuniões comigo no PTB. Eu inseria ele no partido. Sugeri a ele sair procurando. Talvez tenha conseguido alguma amizade – diz, acrescentando que a indicação pode ter partido de Jovair, o líder do partido na Câmara.
BOLSA-FAMÍLIA – A mãe de Mikael, que não vive mais com o pai do jovem, diz que pouco sabe sobre a vida profissional do filho. Luciana Tavares Dias afirma que a indicação deve ter partido do PTB. Na frente da casa dela no DF, na região do Varjão – um lugar pobre, mal iluminado e cheio de lotes baldios –, um carro estava com um adesivo do “Delegado Cristiomario”.
Até meses atrás, Mikael morava na mesma casa da mãe, segundo ela. Luciana tem outros três filhos e recebe R$ 163 por mês do Bolsa-Família. Se a renda do filho funcionário público for incluída, ela não tem direito ao benefício, de acordo com as regras do programa. “Eu tento tirar o nome dele há meses, porque ele não mora mais comigo e não me ajuda com dinheiro em casa. Eu preciso do Bolsa-Família. Faço diárias três vezes por semana. Estou ligando lá todo dia para excluírem ele”, diz a mãe do coordenador.
UMA NOVA VIDA – As mudanças na vida de Mikael foram muito rápidas. Em abril de 2017, quando foi levado à Justiça por policiais militares por portar 13,6 gramas de maconha, o garoto tinha 18 anos de idade e informou estar desempregado.
No dia 23 daquele mesmo mês, Mikael deveria ter comparecido à Justiça, conforme acertado em audiência que resultou na suspensão por três meses do processo por porte de droga para consumo pessoal. Não apareceu nem atendeu ao telefone. “acho que tô bebendo pouco, queria ter mais dinheiro para aumentar o ritmo”, escreveu numa rede social dias antes.
Com tantos pagamentos a liberar, as tardes de Mikael podem ser intensas. Ele participa de reuniões fora, recebe cumprimentos e afagos de funcionários mais velhos que ele. Sob a coordenação de Mikael, estão três divisões dentro da pasta. Quando o relógio aponta para 18h30, ele desce apressado com um amigo, rindo, com uma mochila nas costas e um andar meio adolescente. Passam pela entrada principal do ministério e fumam um cigarro pelo Eixo Monumental, até o ponto de ônibus. É o fim de mais um dia de trabalho.

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