O orgulho voltou, com TITE no comando da seleção

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O orgulho voltou, com TITE no comando da seleção

O orgulho voltou

COMEMORAÇÃO Tite vibra com o gol do Brasil no jogo de 3 a 0 contra o Paraguai: líder que transcende o futebol

Fabíola Perez - ISTO É GENTE 

O treinador faz a seleção dar show, resgata o prestígio e a admiração entre os brasileiros, surpreende o mundo e inspira um país ferido pela crise política e econômica a recuperar a autoestima nacional.

A Seleção é a pátria de calções e chuteiras. A definição do cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) virou lugar comum por sintetizar o simbolismo e a relevância do futebol na vida do brasileiro. Há décadas, a bola em campo representa o estímulo ao convívio social, reforça laços entre as comunidades e funciona como um escape lúdico à dura realidade. 
Em 2014, porém, quando o País teve de engolir à força o trágico resultado de 7×1 na semifinal da Copa do Mundo jogada em casa, a paixão pelo esporte e a credibilidade da Seleção como símbolo de força nacional sofreram um duro golpe.
 O país do futebol não merecia mais a alcunha que lhe coube tão bem por anos. Na semana passada, menos de três anos após o estopim da crise que deixou explícita a insatisfação dos torcedores, era possível notar as camisas canarinho de volta às ruas.
 À medida que a hora do jogo se aproximava, torcedores mais ansiosos compartilhavam nas redes sociais imagens da Arena Corinthians prestes a receber a Seleção comandada por Adenor Leonardo Bachi, o Tite.
 Na terça-feira 28, a vitória de 3×0 contra o Paraguai não apenas tornou o Brasil o primeiro a se classificar para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, como marcou a oitava vitória em oito jogos, o resgate da confiança dos brasileiros na equipe e o surgimento de um novo momento da Seleção diante do País, semelhante aos tempos de prestígio em que éramos, de fato, os melhores do mundo. 
“Reforçamos a idéia de sermos novamente a pátria de chuteiras”, diz Maurício Murad, sociólogo do esporte. Mais: o futebol apresentado pelo time de Tite devolveu aos brasileiros a autoestima ferida nos últimos anos pelas intermináveis tragédias nacionais em diversos campos – na política, na economia e na segurança pública.
Resgate do futebol
A transformação não se deve apenas à melhora da qualidade técnica dos atletas, mas também à competência de Tite para organizar o grupo desde junho do ano passado, quando ele assumiu o comando da equipe. “Tite conseguiu implantar seu estilo de jogo e com isso os atletas têm mostrado o mesmo desempenho e rendimento apresentado nos clubes em que jogam”, disse à ISTOÉ o meio-campo Paulinho. “Além de se destacar pela técnica, é um incentivador, um motivador. 
A conversa com ele é sempre para cima, olho no olho.” As mudanças do dia a dia se refletem nos jogos. Logo que chegou, o treinador criou um esquema de comunicação diária com os jogadores, mesmo com a maior parte treinando em outros países. 
Além disso, o gaúcho é conhecido por valorizar o coletivo e não dar preferência a um atleta específico. “Ele teve de reestruturar os jogadores, arrumar a parte tática e melhorar o ambiente de treino”, diz Muricy Ramalho, ex-treinador multicampeão pelo São Paulo. 
Agora, vem a segunda parte do desafio. É valido lembrar que desde junho do ano passado a Seleção só enfrentou rivais sul-americanos e ainda não teve chances de testar as mudanças contra os europeus. “Nos próximos jogos, ele vai tentar alternativas táticas, experimentar outros jogadores e medir forçar com os melhores da Europa.”
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Tite é uma unanimidade tão grande entre torcedores e jogadores que brincadeiras na internet começaram a surgir na semana em que o Brasil se classificou para a Copa de 2018. A frase “Tite, organiza a minha vida”, exaltando o trabalho do técnico após modificar completamente a equipe que foi comandada por Luiz Felipe Scolari e Dunga, foi compartilhada nas redes sociais por milhares de brasileiros. Outro fato que mostra como a popularidade de Tite deslanchou foi a pesquisa realizada pelo Instituto Paraná entre os dias 25 e 27 de março, que apontou que 15% dos brasileiros votariam no treinador caso ele resolvesse se candidatar à Presidência da República. 
Com a sequência de oito vitórias em oito jogos, o gaúcho cravou a melhor marca de um treinador em todas as participações nas Eliminatórias, superando o recorde de João Saldanha, em 1970, de seis triunfos seguidos em seis partidas. A representação popular e o carisma de Tite diante da torcida também vem sendo comparados aos do técnico Telê Santana, que comandou a seleção de 1982, considerada a melhor de todos os tempos. Para se ter uma ideia, quando foi treinador do São Paulo, Telê optou por morar no próprio centro de treinamento do clube. “Há muito tempo não víamos algo assim: um profissional que não se reduz ao futebol. Ele passa a imagem de líder que abraça, festeja e comemora com os jogadores”, diz Murad. “Tite tem autoridade sem ser autoritário e é desse tipo de liderança que o Brasil precisa, que valoriza a coletividade e transmite confiança.”
O técnico da Seleção ocupou um espaço que há tempos estava vago no imaginário popular. Havia uma carência em relação a líderes de expressão popular e o gosto do brasileiro pelo futebol ainda era amargo. Historicamente, o esporte sempre ajudou a compensar os aspectos negativos da vida cotidiana. Os grandes eventos culturais são considerados uma válvula de escape coletiva. Nos tempos de ditadura militar, especialmente na década de 1970, o apogeu do futebol e da Seleção brasileira funcionou como uma compensação para uma realidade política altamente opressora e violenta. 
“Hoje, há outro tipo de sufocamento social. Vivemos uma crise política, econômica e moral que deixou o País em frangalhos”, afirma Murad. “O esporte mostra como podemos ser mais criativos.” A boa fase da Seleção desperta mais do que a admiração. “A paixão e o orgulho voltam e esses sentimentos despertam a sensação de pertencer a uma nação que teve o melhor futebol do mundo”, afirma o ex-jogador e atual comentarista Tostão. A mudança de comportamento da torcida é visível. “Conseguimos perceber a reação por onde passamos, nos aeroportos, hotéis e estádios”, diz o meia Paulinho. “Hoje, um jogador mostra raça, faz uma jogada bonita, a torcida reage, grita o nome dele e isso motiva qualquer um dentro de campo.”
Entretanto, o ex-jogador Zico explica que os torcedores deram um voto de confiança ao esporte e não à Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O desencanto dos brasileiros com a Seleção também foi motivado pela avalanche de problemas por trás da organização que opera o futebol no País. A entidade foi alvo de diversos escândalos de corrupção e desde o ano passado perdeu pelo menos cinco patrocinadores de peso em função do envolvimento em desvios. Em dezembro, a Justiça dos Estados Unidos indiciou o presidente Marco Polo Del Nero e o ex-chefe Ricardo Teixeira por mais de duas décadas sob a acusação de formação de quadrilha e recebimento de dinheiro indevido.

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