Rompimento de barragem em Mariana causou mortes em Minas, lama atingiu rio Doce, até Espírito Santo

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Rompimento de barragem em Mariana causou mortes em Minas, lama atingiu rio Doce, até Espírito Santo

Mineradora engavetou plano para alertar vizinho de barragem em MG

Um plano para monitorar 24 horas as barragens da Samarco e alertar os moradores de Mariana (MG) em situações de emergência foi encomendado pela mineradora em 2009, seis anos antes do rompimento que devastou a região e provocou um desastre ambiental que já chegou ao litoral do Espírito Santo.

Mas ele acabou sendo engavetado –segundo a empresa responsável pelo documento, devido à crise econômica.

A falta de um plano de contingência adequado é apontada como um dos agravantes da tragédia, que deixou ao menos oito mortos (11 pessoas ainda estão desaparecidas e quatro corpos aguardam identificação), além de ter destruído a fauna e a flora na passagem do "tsunami de lama".


Conforme a Folha revelou no sábado (21), os planos de emergência entregues pela mineradora aos governos federal e de Minas não previam estratégia para avisar moradores de Bento Rodrigues, em Mariana, na hipótese de rompimento das barragens, em desacordo com a legislação.

A consultoria RTI (Rescue Training International), que atua há mais de 30 anos com programas de segurança e que tem sede em Bragança Paulista (SP), revelou, porém, ter sido contratada pela Samarco em 2009 para preparar uma estratégia que serviria para todas as suas barragens.

Clique e veja o infográfico especial "Rastro da lama"
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A existência desse plano completo –que não foi posto em prática pela mineradora que pertence à Vale e à BHP– foi revelada nesta terça (24) pelo jornal "Estado de Minas".

O diretor da empresa, Randal Fonseca, disse à Folha que a estratégia apresentada à Samarco previa monitoramento permanente das estruturas por meio de telemetria (processamento e transmissão de dados a distância) e visitas diárias de funcionários.

Após as avaliações, um comitê técnico teria de se reunir mensalmente para emitir relatórios e planejar simulações de situações de emergência com moradores da região e com funcionários.

Todos os avisos de emergência seriam feitos por uma central de telecomunicações.
Fonseca afirma ainda que esse plano previa estudos que levassem em conta a quantidade de rejeitos acumulados para que fosse possível construir diques que freassem a lama em caso de rupturas.

"Quando se constrói uma barragem, se constrói uma emergência. Tenho que monitorar as comunidades próximas, saber se tem gestante, se tem cadeirante. Tenho que saber de tudo minuto a minuto."

De acordo com Fonseca, as ações não foram cumpridas porque "alegaram que estavam com problema da crise". "O plano foi parar na gaveta."

Questionada, a Samarco não comentou sobre por que deixou de implantar esse plano completo para casos de emergência. Disse apenas que teve seus planos aprovados por órgãos de fiscalização.

Em 2012, de acordo com Fonseca, a Samarco voltou a contratar a RTI para desenvolver um Centro de Telecomunicações de Emergências Médicas, para atender os funcionários em risco operacional, mas não as comunidades vizinhas das barragens.

Questionado sobre os custos para pôr esse plano em ação, ele disse que cláusulas do contrato impedem informar os valores. "Não tenho como estimar de pronto quanto custaria. Mas posso asseverar que não representa décimos de milésimos do que está custando lidar com os efeitos, sem considerar aquilo que custará a recuperação em dezenas de anos."

Segundo ele, os planos que costumam ser apresentados pelas mineradoras aos órgãos de fiscalização não seguem padrões internacionais e são feitos para "cumprir tabela".

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