História da Medicina em São Luís é contada em livro de historiadora
Livro de Maria de Lourdes Lauande Lacroix será lançado nesta
segunda-feira, no Conselho Regional de Medicina
Depois de quase cinco anos de muitas pesquisas, viagens e conversas a
professora e historiadora Maria de Lourdes Lauande Lacroix lança neste
segunda-feira, às 19h, no Conselho Regional de Medicina (Renascença), o livro “História
da Medicina em São Luís. Médicos, enfermidades e instituições”. O trabalho,
produzido de forma independente e impresso pela Alumar, traz, por meio de um
viés histórico, fatos que vão desde a realidade da Colônia, passando pelo
século XIX, até chegar ao século XX.
A autora tem publicados os livros “Fundação Francesa de São Luís e seus
mitos” e “São Luís do Maranhão, corpo e alma”, entre outros.
Dividido em oito capítulos – “Doenças e práticas de cura na época
Colonial”, “Epidemias e endemias”, “Hospitais públicos e privados”, “Médicos do
século XIX”, “Jovens médicos e novos procedimentos”, “A expansão das
especialidades no século XX”, “O ensino superior da medicina em São Luís”, “Do
sacerdócio ao mercado” -, o livro traz ainda um índice onomástico e um rico
acervo iconográfico. Em entrevista exclusiva a O Estado a professora fala sobre
a obra, que tem Coordenação Editorial de Flávio Reis e Projeto Gráfico de
Nazareno Almeida e Flávio Reis. A capa é de Nazareno Almeida e Edgar Rocha.
O Estado - Suas últimas pesquisas são
sobre a cidade de São Luís. Por que um novo tema?
Maria de Lourdes Lacroix - Continuo estudando
a cidade, em outro viés, enfoque circunstancial, como ocorreu em outros
trabalhos. O médico coordenador de um Congresso Brasileiro de História da
Medicina que iria acontecer em São Luís, em 2012, sugeriu que eu fizesse uma
palestra sobre a história da medicina local. Aceitei o desafio, embora “nunca
por mares antes navegados”.
O Estado – Qual o enfoque do livro?
Maria de Lourdes Lacroix - Não é uma
pesquisa detalhada sobre a questão da saúde, sobre o funcionamento dos
hospitais ou o procedimento técnico dos médicos. É um levantamento histórico,
mostrando o que foi criado, as instituições e respectivas expansões, as
doenças, o ensino local da medicina, seus avanços, entre outros registros.
O Estado - Como a senhora planejou o
trabalho?
Maria de Lourdes Lacroix - Comecei pelos
primórdios, pelos séculos XVII e XVIII. A época da ausência de médicos e cujas
soluções buscadas por nativos, colonos e africanos combinavam práticas
empíricas usando vegetais, animais e minerais, associados ao apelo
sobrenatural. A população era assistida por jesuítas, curandeiros, curiosos,
ervateiros e velhas parteiras. Acompanhei o barbeiro cirurgião, antigos físicos
e cirurgiões até as primeiras escolas europeias de medicina, em ininterrupto
progresso. No século XIX, observei a atuação de maranhenses de volta da Europa,
Rio e Bahia, doutores de outras províncias, portugueses, franceses e ingleses,
todos, médicos generalistas, levando suas caixas de botica com medicamentos de
urgência para fazer cirurgias, sem anestesia. Médicos que dedicavam parte de
seu tempo ao trabalho gratuito em hospitais e filantrópico aos desvalidos,
auxiliados pelas irmandades. Aos poucos, as boticas foram substituídas pelas
casas de manipulação ou farmácias.
O Estado – E quais as novidades do
século XX?
Maria de Lourdes Lacroix - É o século da
medicina liberal, do predomínio do médico e das especialidades. Nas primeiras
décadas, os jovens clínicos gerais assumiram novos procedimentos com a novidade
de alguns aparelhos facilitadores do diagnóstico. Achei por bem ressaltar
algumas figuras de muita competência e humanidade, percorrendo a cidade, com
suas maletinhas a assistir os doentes, a domicílio ou consultando em salas
contíguas às farmácias. Só na década de 1930 chegaram especialistas com seus
consultórios, fase em que a demanda compeliu à organização de outros hospitais
e clínicas especializadas.
O Estado - A senhora reservou um
espaço para ensino da medicina no Maranhão?
Maria de Lourdes Lacroix - Claro. O ensino da
medicina em nosso estado foi bastante retardado. Um decreto de abril de 1813
previu a organização de academias médico-cirúrgicas na Bahia, no Rio de Janeiro
e no Maranhão, porém somente em 1957, a Igreja Católica fundou a Faculdade de
Ciências Médicas do Maranhão. Em 1966, a Faculdade foi incorporada à Fundação
Universidade do Maranhão, tomando nova nomenclatura (UFMA), em 1972.
O Estado - E os problemas?
Maria de Lourdes Lacroix - Nem a
expansão do ensino nem a criação de mais hospitais e clínica representaram um
ótimo atendimento à clientela. O déficit de leitos e consultórios não atende à
população crescida desordenadamente, a tecnologia abriu um abismo entre o
médico e o paciente, não há um tratamento humanizado e de boa qualidade pelas
próprias circunstâncias adversas também ao próprio médico. Percebemos a
profunda modificação nas condições em que se desenvolve a prática da medicina
em São Luís.
O Estado - A senhora é a patrona da
Feira do Livro de São Luís este ano. Como se sentiu com a homenagem?
Maria de Lourdes Lacroix – Muito feliz,
honrada pela homenagem que atribuo à mulher, a professora e à História.
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