O PT e os pistoleiros

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O PT e os pistoleiros

REINALDO AZEVEDO

Nessa toada, os destrambelhados a favor derrubam Dilma Rousseff antes que as ruas o façam

Esse negócio de que, mesmo antigos, devemos conservar, diante de tudo, o olhar de surpresa e de novidade típico da juventude é conversa mole. Como é mesmo? O diabo é diabo porque velho, não porque sábio. Mas não sou do tipo que deixa cair as bochechas, com as retinas cansadas. Aos 53, é dever não se assustar nem se prostrar. Mas eis que os poderosos de turno, a seu modo, fazem com que me sinta um recém-nascido. Produzem o inédito, falam o inaudito, acenam com o inesperado. A companheirada tem me permitido vivenciar a tábula rasa. Meu cérebro não tem prescrição para o que está aí. É como se eu tivesse chegado ao mundo deles sem experiência anterior.


Cid Gomes, até quarta ministro da Educação (nada menos!) de um governo em crise, afirmou haver no Congresso 300 achacadores e foi chamado a se explicar na Câmara. Em vez de buscar uma forma decorosa de se desculpar, deu um piti ridículo, à moda dos Gomes, e foi demitido em seguida. Quem exibiu a sua cabeça foi Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Casa. Cid saiu de lá dirigindo o próprio carro e foi aplaudido por uma claque de cearenses. Há ou não os achacadores? Em setembro de 1993, um certo Lula disse que havia "300 picaretas no Congresso". Em 2015, o PT é o protagonista do petrolão. "Boquirrotice" é lixo.
A cena momesca se deu um dia depois de ter vindo a público um documento da Secretaria de Comunicação da Presidência em que o governo reconhece usar os chamados blogs sujos para o serviço de pistolagem política. O documento prega a intensificação de uma parceria que parece ser comercial e criminosa. O texto sabe ser explícito: "A guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele". Munição? Soldados? Disparo? O plano anuncia ainda a intenção de pôr órgãos do Estado a serviço do proselitismo rasteiro e de usar a verba oficial de publicidade para a promoção pessoal de políticos, o que afronta a Constituição.

Como o ciclo do desatino nunca está completo sem Rui Falcão, o presidente do PT compareceu ao debate. Deixando claro o que entende por "controle social da mídia" --ou "regulamentação econômica"--, o homem quer que o governo corte verba oficial de publicidade dos veículos que, segundo ele, "incentivaram" ou "convocaram" as manifestações. Só fez uma ressalva: "A Record, que sempre teve uma simpatia maior por nós, no domingo, começou em rede aberta a convocar a manifestação. Foi uma briga por audiência. Nesse caso não foi nem má-fé". Entendi. É para privilegiar quem tem "simpatia por nós" e punir quem não tem.

No domingo, depois da maior manifestação política da história do país, dois ministros concederam entrevista coletiva. José Eduardo Cardozo (Justiça) defendeu uma reforma política rejeitada pelo PMDB, o maior parceiro do PT no governo. E Miguel Rossetto (Secretaria-Geral) criticou os manifestantes, tratando-os como golpistas. O país virou uma orquestra de panelas.

Vivendo e aprendendo. Nessa toada, os destrambelhados a favor derrubam Dilma antes que as ruas o façam. Ah, sim: espero que o Congresso honre as suas funções constitucionais e convoque os guerrilheiros da Secom para explicar a que custo o governo fornece "munição" para pistoleiros, chamados de "soldados de fora".

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