Educação purificadora: entre excelências e achacadores a única solução para o Brasil permanece em standby.

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Educação purificadora: entre excelências e achacadores a única solução para o Brasil permanece em standby.


Prof. Pós-Doc. Eugenio Araújo. Dep. De Artes/UFMA.

Estamos presenciando cenas tragicômicas em Brasília e Curitiba, onde se desenrolam os principais atos do Petrolão. A ópera tem desdobramentos vários atingindo outros estados, cidades, contaminando todo governo e seu staff ministerial. O clímax da semana ficou por conta da “saída triunfal”do ministro da Educação Cid Gomes, do PROS/CE (Partido Republicando da Ordem Social), mais um dos partidos “nanicos” que infestam o congresso e com os quais o Poder Executivo tem que negociar para manter a governabilidade. 

No caso do PROS, com apenas 10 deputados na Câmara, o convite feito a Cid Gomes, demonstrou mais uma vez o desespero da presidente Dilma: cargo de tamanha importância pode “comprar” não só um ministro ou um estado, comotambém garantir 10 votos da bancada do PROS a favor do governo, seja lá para o que for. É o que se está chamando com muita propriedade de “democracia de cooptação”, onde o governo fica distribuindo cargos e verbas em troca de votos. Pois bem, desta vez o tiro saiu pela culatra mais rápido do que se esperava. Em menos de 3 meses o ministro deu no pé.


            Qualquer um que acompanhe a trajetória de Cid Gomes no Ceará sabe que ele não tem perfil para ocupar o Ministério da Educação. As referências mais marcantes da sua biografia são a de ter sido por duas vezes prefeito da segunda maior cidade do Ceará (Sobral) de 1996 a 2004, depois Governador do estado, de 2006 a 2014, tudo isso alavancado pelo irmão, tambémex-governador Ciro Gomes, que chegou a ser candidato à presidência em 1998, ficando em terceiro lugar. Os doisencarnam o típico político brasileiro oportunista e sem qualquer convicção ideológica, mudando várias vezes de partido, passando pelo PMDB, PSDB, PPS e PSB, para agora pousarem no PROS. 

Ambos já estiveram sob suspeitade desvio de dinheiro público. Ciro foi Ministro da Integração Nacional, do governo Lula (2003 a 2009), responsável pelo desenvolvimento regional e obras de infraestrutura, favorecendo repasses a prefeituras do Ceará, o que mais tarde foi objeto de uma investigação sobre o possível desvio de 300 milhões de reais dos cofres públicospara financiar campanhas políticas.  Portanto, a família tem o rabo preso, representando mais um exemplo de despotismo e coronelismo na política nordestina. 
Mas como Ciro defendeu Lula durante o processo do mensalão, manteve seu “vínculo empregatício” com o governo federal. Se talvez Cid não tenha perfil “ficha limpa” para qualquer cargo público, “perfil intelectual” para o ministério da Educação (como tradicionalmente requer o posto) é que ele mesmo nunca terá, pois é formado em engenharia na UFC. Como se tudo isso não bastasse, Cid caiu em desgraça com os professores do Ceará em 2011,por não pagar o piso salarial nacional. Durante uma greve da categoria que durava 20 dias, o político afirmou que os professores deveriam trabalhar por amor, e não por dinheiro. “— Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário.
 Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado” — afirmou na época. Tal declaração reverberou negativamente por todo Brasil. Pois foi este senhor que Dilma chamou para assumir o Ministério da Educação. A presidente não quis saber nada disso, só pensou nos 10 votos a mais no congresso. E num ministro “bem mandado”, que desde que assumiu só tem cortado verbas da educação, cumprindo ordens de Dilma.
O projeto “Pátria educadora” do PT foi o primeiro a sofrer cortes de verbas quando o cinto apertou. Recentemente sofri isso na pele, quando precisei passar o ano no Rio, fazendo meu pós-doutorado.Apesar de projeto de pesquisa aprovado e reconhecido oficialmente, fui informado que agora o professor em tal situação (culminância de uma carreira de estudos) não faz mais jus, através da universidade, a nenhuma bolsa ou ajuda de custo, nem sequer às passagens aéreas. Enquanto isso os deputados querem passagens para suas esposas e amantes. Essa é a Pátria Educadora do PT.
Voltemos ao ministro trapalhão: outra declaração mais recente (27/02/2015), durante uma visita à Universidade Federal do Pará, acabou sendo o estopim para sua demissão. Na ocasião, o então ministro afirmou que “a direção da Câmara será um problema grave para o Brasil, tem lá (na Câmara) uns 400 deputados, 300 deputados, que quanto pior, melhor para eles. Eles querem é que o governo esteja frágil, porque é a forma de eles “achacarem” mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas” — disse. (ZH online).
 Não que Cid Gomes esteja errado. A palavra, hoje pouco usada, causou estranheza. No dicionário, constam como sinônimos de ACHACADOR, vigarista, ladrão, gatuno, atividade de extorsão... Bem, isso é realmente o que vemos, não só no Congresso comonos palácios e restaurantes de Brasília. Mas a liturgia do cargo não permite que se fale tais verdades. Lá, os achacadores se tratam por “Vossa Excelência”. Mais da metade de deputados não tem sequer formação universitária, alguns nem segundo grau completo, mas exigem ser tratados por “Vossa Excelência”, mesmo quando respondem inquéritos criminais. Quando batem boca nas sessões do Congresso e nas CPIs da vida, o que se ouve é “- Vossa Excelência pra cá, Vossa Excelência pra lá...”Até atrás das grades ressoam os gritos de “Vossa Excelência”. Recorrendo também ao dicionário podemos ver que a palavra tem 3 principais sentidos - “EXCELÊNCIA: 1 Qualidade de excelente. 2 Superioridade de qualidade. 3Tratamento dado a pessoas nobres ou de elevada situação social”. Vereadores, deputados e senadores, quando vociferam nas câmaras públicas a usam no terceiro sentido, um pronome de tratamento arcaico, que nem mesmo assim cabe bem neles, posto que não são nobres e sua suposta “elevada situação social” é temporária, delegada pelo povo. Os políticos e gestores deveriam recuperar os dois primeiros sentidos, que traduz JUÍZO DE VALOR, boas notas, bons conceitos, algo que certamente poucos deles conseguiram obter nos bancos escolares (se é que os frequentaram!). Já disse em outra oportunidade que nossos representantes são pouco educados, mal educados, ou até mesmo semi-analfabetos. O Tribunal Eleitoral já teve que instituir até uma prova para aferir se os eleitos realmente sabem ler e escrever. Que país é este que entrega a administração pública a desqualificados, com a simples desculpa da democracia? Como esperar lisura e competência de tal gente? Nossos representantes parecem encarnar o pior de tudo que existe no Brasil, em termos de material humano. Ali, a deseducação aliou-se à desonestidade. Qual a saída para isso? Mas uma vez repito, educação de qualidade para a população em geral, e educação específica para os futuros gestores e classe política, que deveriam passar por cursosespeciais de formação. A democracia brasileira deve ser purificada, e o caminho para isso é a educação. Caso contrário, continuaremos a ver cenas lamentáveis como estas e nossas riquezas escorrendo pelo ralo da estupidez.


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