Exposição é constrangedora e gera medo, diz repórter que aparece em propaganda
Jornalista xingada por Bolsonaro critica PSDB por usar sua imagem no horário eleitoral
A repórter que aparece em uma propaganda de Geraldo Alckmin (PSDB) sendo xingada pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) critica o uso de sua imagem pelo partido e diz ter medo de ser agredida na rua.
Manuela Borges, que na época do vídeo era repórter da RedeTV!, foi xingada de idiota por Bolsonaro após uma pergunta dela sobre a ditadura militar. O episódio aconteceu em 2014, na Câmara.
Mais de quatro anos depois, a hoje repórter da CNT afirma que não foi procurada pelo PSDB e que, como jornalista, não quer ser vinculada a nenhum partido.
"Muita gente não conhecia esse vídeo, porque a internet é limitada. Agora, está aparecendo de hora em hora no programa político do PSDB", disse à Folha. "É uma exposição muito constrangedora".
Na época em que a cena ficou conhecida, ela afirma que chegou a ser atacada em uma rede social. "Eu tenho medo de um desconhecido do nada me agredir", diz. "Estou com filho pequeno, nenenzinho".
Apesar disso, ela afirma, sobre o vídeo, que "a causa pode até ser nobre, que é mostrar que o Bolsonaro é truculento com as mulheres".
Manuela afirma que, na ocasião, em nenhum momento provocou Bolsonaro. Segundo ela, o parlamentar se irritou durante entrevista sobre os 50 anos do golpe militar.
"A pergunta que eu fiz, que ele me atacou de forma surtada, foi se não havia existido o golpe. Ele falou: você é uma analfabeta, ignorante, já foi na biblioteca da Câmara?, lembra. "Eu falei: olha, os livros de história dizem o contrário. Ele começou a surtar".
A propaganda do PSDB mostra o que aconteceu após a entrevista, em que Bolsonaro xinga a repórter de idiota e ignorante. Ela cogitou processar o deputado, mas disse que desistiu por não ter recebido apoio da RedeTV!.
A propaganda também mostra o deputado empurrando e xingando a deputada Maria do Rosário de vagabunda, em 2003.
Nas redes sociais, a peça gerou uma nova onda de ataques a Maria do Rosário, com simpatizantes de Bolsonaro afirmando que ela defendia um estuprador na ocasião em que foi filmada a discussão —o que ela sempre negou.
À Folha, Maria do Rosário disse que o vídeo mostra como Bolsonaro trata as mulheres: com desrespeito e violência. "Ele já foi condenado no STJ por danos morais contra a minha pessoa. Mas todas as semanas faz novos ataques a mim e a mulheres", afirmou ela. "E eu ando de cabeça erguida, pois combato seu machismo e violência."
Após o episódio, Bolsonaro passou publicar vídeos com mulheres em sua página. "O PSDB quer tutelar as mulheres. Maria do Rosário e Alckmin acham que um menor estuprador, de 16 ou 17 anos, é um pobre coitado que não pode ser responsabilizado, como adulto, pelos seus atos", afirmou nesta segunda-feira (3), no Twitter.
O PSDB foi procurado sobre as críticas de Manuela e afirmou seguir a lei. "Como estabelece a legislação eleitoral, o uso de imagens de domínio público, como as produzidas por programas jornalísticos, é livre, logo não é necessário autorização prévia para sua utilização", afirmou o partido.
A legenda afirmou ainda que a "campanha lamenta que a truculência e a violência dos adversários de Geraldo Alckmin levem medo às mulheres brasileiras como Manuela".
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