Turquia assusta

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Turquia assusta


Por Eden Jr.*

O mundo está mais imprevisível. Depois da erupção de distúrbios econômicos na Argentina, do ciclo de elevação dos juros americanos e do acirramento das divergências comerciais entre Estados Unidos e China, agora foi a vez da Turquia colocar em xeque a prosperidade global. Isso a despeito do Fundo Monetário Internacional (FMI) ter projetado, em julho último, que o crescimento global será de 3,9% neste ano.

O novo imbróglio planetário teve início com o anúncio feito pelo presidente americano, Donald Trump, de que dobraria as tarifas de importação do aço e do alumínio exportados da Turquia para os EUA, para 50% e 20% respectivamente. Existem duas versões para essa majoração de impostos. Uma oficial, de que a motivação teria o objetivo de dar um novo alento para a indústria americana de aço e alumínio, que vem perdendo competitividade perante seus concorrentes. E outra mais aceita – dado o perfil inconstante do mandatário americano – de que a elevação foi uma retaliação à prisão, pelo presidente turco Recep Erdogan, do pastor estadunidense Andrew Brunson, acusado de espionagem e terrorismo, atos ligados à tentativa de golpe de estado ocorrido em 2016 no país. Inclusive, nas últimas semanas o governo americano tinha agido para libertar o pastor.

As perturbações econômicas repercutiram logo na moeda turca, a lira, que tem enfrentado uma crise de confiança e passou por forte desvalorização em relação ao dólar e ao euro. Para defender a divisa local, o presidente Erdogan tem estimulado, sem muito sucesso, uma espécie de “cruzada nacional”, ao incentivar que os turcos troquem ouro e outras moedas pela lira, buscando assim, brecar a desvalorização da lira. Uma implicação imediata da queda da lira é que paira o temor de um amplo calote das empresas turcas, que estão com nível alto de endividamento, tanto perante os bancos locais quanto aos estrangeiros. Fato que redunda em pressão sobre todo o sistema bancário.


Fora isso, a economia turca padece de problemas que já vinham se acentuando recentemente, apesar do crescimento do país ter sido de 7,4% ano passado, o que a colocou entre as nações de mais forte expansão, juntamente com China e Índia. A inflação, que vem se acelerando e está na casa dos 16% em valores anualizados até julho, é uma dessas dificuldades. Para tentar brecar a escalada dos preços, o remédio mais recomendado seria a elevação dos juros pelo Banco Central local. Contudo, o presidente Erdogan indicou que os juros não vão subir, pois podem deprimir o crescimento, fato que deixa clara a falta de autonomia da autoridade monetária. A inflação deve ser retroalimentada pela queda da lira, pois ficará mais caro importar produtos indispensáveis, como petróleo, gás e energia elétrica. As contas públicas são outra fonte de dúvidas. O endividamento do governo sofre ampliação rapidamente nos últimos anos: saiu de 39% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 e atingiu 60%. Entretanto, Erdogan também já avisou que não adotará os impopulares cortes de despesas. E como cerca de 40% dessa dívida é em moeda estrangeira, vai ficar cada vez mais caro honrar esse compromisso, tendo em vista a desvalorização da lira. 

Outro flanco da Turquia é o comércio internacional. Os persistentes déficits nas transações comerciais com o resto do mundo causam perplexidade entre os analistas. O rombo turco com seus parceiros comerciais foi de 32 bilhões de dólares em 2015 para 47 bilhões em 2017, e ficou em 31 bilhões somente no primeiro semestre deste ano. Diante das atuais incertezas, não se sabe o que o país fará para continuar sustentando um comércio internacional cada vez mais deficitário.

O grande questionamento que se faz é até onde a turbulência da Turquia – que representa apenas 1,7% do PIB global e é tão-somente a 17ª maior economia do planeta – pode impactar o desempenho mundial. Os desdobramentos são de naturezas e magnitudes diversas. Na Argentina – que angaria desconfiança em razão dos abalos sofridos recentemente, com o peso desvalorizando 70% nos últimos 12 meses, que enfrenta déficits fiscal e no comércio exterior e previsão, para este ano, de queda no PIB de 1% e de inflação de 30% – o Banco Central alçou os juros a 45% ao ano (a maior taxa do mundo). Esse movimento do BC argentino vai dificultar a melhora econômica. 

Na Itália, os juros subiram pela possiblidade de revogação da “Lei Fornero” (que endureceu as regras de aposentadorias), o que pode resultar no aumento da já elevada dívida pública, além de haver questionamentos quanto ao vigor do sistema bancário. Especialmente do maior banco do italiano, o Unicredit, que tem altas somas emprestadas ao governo turco. O Banco Central Europeu (BCE) está receoso com a exposição de bancos europeus, como BBVA e BNP Paribas, que que têm significativas participações em instituições financeiras turcas. Bancos das cinco principais nações do continente – Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha – têm mais de 171 bilhões de euros aplicados na Turquia.

Já no Brasil, o real tem se depreciado. O dólar se valorizou mais de 20% neste ano, e na última semana rompeu a barreira dos quatro reais, atingindo a terceira maior cotação da história. Contudo, a alta da moeda americana no Brasil não tem relação somente com a crise turca, mas sobretudo, com os sucessivos déficits públicos e com o avanço da corrida eleitoral. Isso pois, as pesquisas divulgadas trazem como favoritos candidatos que não têm se mostrado comprometidos com reformas econômicas, circunstância que traz adversidades para o crescimento de longo prazo.  
*Doutorando em Administração, Mestre em Economia e Economista (edenjr@edenjr.com.br)

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