A “guerra comercial”

java redirecionamento

Tecnologia do Blogger.

A “guerra comercial”




Por Eden Jr.*

As disputas comerciais, que começaram entre Estados Unidos e China, e resvalaram para boa parte do mundo, já ameaçam o desempenho da economia global. O G20, grupo que reúne as mais ricas nações do mundo, afirmou no último dia 22, ao encerrar a reunião de Buenos Aires, que as tensões comerciais impactarão negativamente a performance da atividade econômica do planeta e sugere o entendimento entre os países. Presente também no evento, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a escalada protecionista pode remover até R$ 430 bilhões de dólares da economia até 2020. 

Esses números devem fazer o PIB mundial cair 0,5% e o da América Latinar diminuir 0,6%. Nesta quinta-feira, dia 26, em Joanesburgo, durante a reunião dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, principais potências emergentes) foi assinada declaração de apoio ao livre comércio, condenando o unilateralismo e o protecionismo, isso em virtude das ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.  
  
As divergências comerciais começaram no início deste ano, quando a Casa Branca impôs tributos de importação para máquinas de lavar e painéis solares. Na ocasião, a China foi o país mais atingido, tendo em vista que exporta esses itens para os EUA. Entre março e maio os americanos taxaram o aço e o alumínio exportados pelos chineses. Ato contínuo, o governo de Pequim retaliou e instituiu barreiras a produtos americanos. Porém, a dita “guerra comercial”, só começou, de fato, no dia seis deste mês, quando Donald Trump taxou em 25% artigos chineses, que equivalem a 34 bilhões de dólares em importações. A China respondeu na mesma moeda, e estabeleceu barreiras contra às exportações americanas, em igual valor, e acusou os EUA de iniciar a “maior guerra comercial” da história.

As razões alegadas pelos americanos, para fixar restrições aos produtos da China, são a prática, pelos chineses, de furto de propriedade intelectual das firmas americanas; adoção de medidas que forçam companhias americanas a revelar segredos comerciais aos asiáticos – isso em troca de acesso ao mercado chinês – e desvalorização artificial da moeda chinesa, o yuan, o que torna o dólar mais caro e retira a competitividade dos produtos americanos.   
    
Não satisfeito, em 10 de julho, o governo americano implementou outra rodada de aumento de tarifas, dessa vez sobre 200 bilhões de dólares em importações chinesas (entre os itens estão roteadores, móveis e bolsas), elevando ainda mais a tensão sobre o comércio entre os dois países. Essa nova taxação, fez os chineses reclamarem à Organização Mundial do Comércio (OMC) – instituição que regula o comercio mundial. Na sequência, os americanos da mesma forma recorreram à OMC, contra China, União Europeia (UE), Canadá, México e Turquia, questionando tarifas aplicadas por esses países, em represália ao governo Trump ter subido o imposto de importação do aço e do alumínio.  

A UE entrou no imbróglio ao também decretar taxa extra de 25% sobre a importação de aço oriundo de qualquer país. O bloco justificou que a imposição de tarifas pelos americanos sobre o aço e o alumínio provocou mudança nas rotas comerciais, tendo como consequência o desvio de parte dessa produção para a Europa. Circunstância que causou danos às siderúrgicas e aos trabalhadores desse setor na região. 

Contudo, as medidas protecionistas têm gerado efeitos negativos para os próprios Estados Unidos. Montadoras de veículos informaram ao Departamento de Comércio dos EUA que as novas tarifas sobre carros e peças elevarão o valor dos automóveis em 83 bilhões de dólares a cada ano. Isso em virtude de toda a cadeia de fabricação sofrer aumento de preços – em razão dos novos impostos – o que ocasionará o corte de milhões de postos de trabalho. A fábrica da BMW, localizada no estado americano da Carolina do Sul, é a maior da marca alemã em todo o mundo e de onde sai grande parte da exportação de veículos dos Estados Unidos. Gera milhares de empregos na região, pois há dezenas de empresas fornecedoras que fabricam componentes, que além de serem usados na produção dos automóveis, são também exportados. Ademais, as taxações elevam o valor dos carros feitos na Carolina do Sul e induzirão outros países a estabelecer restrições aos veículos americanos. Tudo isso somado, levará ao desemprego de trabalhadores – muitos dos quais votaram em Trump – e à quebradeira de companhias.

                      Donald Trump destinou cerca de 12 bilhões de dólares para pecuaristas e agricultores que perderam espaço nas exportações para China, que revidou ao aumento de tributos determinado pelos Estados Unidos. O problema é que vários outros setores, como o petroquímico e o automobilístico, igualmente atingidos pela “guerra comercial”, vão querer o mesmo benefício, que será impossível de ser estendido a todos.   

Num episódio que trouxe alívio à disputa comercial, EUA e União Europeia chegaram a um acordo semana passada, para zerar momentaneamente barreiras, subsídios e tarifas. Além disso, os europeus comprarão bilhões de dólares de soja e gás natural dos norte-americanos. A trégua foi recebida com otimismo pelo mercado, e nesta quarta-feira, dia 25, as bolsas de Nova York e de São Paulo, subiram 0,68% e 1,34%, respectivamente, e o euro e o real sofreram forte valorização.

Importante notar, que a política protecionista implementada por Trump, que tem gerado toda essa confusão mundial, e inclusive ameaçado o emprego de milhões de americanos, é contrária às doutrinas econômicas liberais pregadas historicamente por seu partido, o Republicano. Fato que deve chamar atenção dos eleitores brasileiros no período de campanha, pois candidatos a presidente têm se apresentado como liberais, apesar de terem trajetória política ligada às causas protecionistas, corporativistas, intervencionistas e estatizantes.    
           
*Doutorando em Administração, Mestre em Economia e Economista (edenjr@edenjr.com.br)
 

0 comentários:

Postar um comentário

visualizações!