Crescimento tímido, um longo caminho para a recuperação
Por Eden Jr.*
Conforme
majoritariamente esperado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgou no primeiro dia de março que a economia brasileira cresceu 1%
no ano passado. O resultado, apesar de não indicar um crescimento vigoroso, já
é um alento. Isso se considerando os dois últimos anos catastróficos do Governo
Dilma Rousseff (2015 e 2016), em que o nosso Produto Interno Bruto (PIB) recuou
em sequência 3,5% – fato somente verificado no biênio 1930/1931. Entretanto,
nesse período a queda foi de uma magnitude menor, 2,1% e 3,3%, respectivamente.
Em 2017 a
soma de todos os produtos e serviços produzidos no país atingiu um montante de
R$ 6,6 trilhões – o PIB do Maranhão deve estar em torno de R$ 80 bilhões, ou
seja, significa 1,2% da riqueza nacional. Os dois mais importantes propulsores
da expansão da atividade econômica foram o setor agropecuário (cresceu 13%) –
responsável por 70% da expansão do PIB – e o consumo das famílias (aumentou
1%). No que se refere à agropecuária, a supersafra de grãos verificada no
primeiro semestre do ano passado foi o grande motor do setor. Os incrementos
nas lavouras de milho (+55,2%) e de soja (+19,4%) produziram o desempenho
espetacular da área. Em relação ao consumo das famílias (que representa 60% do
PIB), o fator determinante para a retomada das compras foi a liberação das
contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e,
adicionalmente, a queda da inflação – que aumentou o poder aquisitivo das
pessoas – e o pequeno crescimento da massa salarial dos trabalhadores, tendo em
vista a discreta recuperação no mercado de trabalho, ante 2016. Contudo, tanto
a supersafra, quanto a liberação das contas do FGTS têm efeitos circunscritos
no tempo, situação que indica a necessidade de outros “mecanismos impulsionadores”,
para que o nosso crescimento seja consistente e duradouro.
Vários
índices apontam para a fragilidade da nossa retomada. O PIB do quarto trimestre
de 2017 aumentou somente 0,1% em relação ao período imediatamente anterior,
frustrando as expectativas que apontavam a melhora de 0,3%. Mesmo com as
performances destacadas de setores essenciais, como a indústria e os
investimentos, o certo é que o resultado decepcionante do quarto trimestre
acabou impactando negativamente as projeções para a expansão da economia. O
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro
reduziu sua projeção de expansão do PIB para este ano de 2,9% para 2,8%. A
Consultoria Austin Rating elaborou ranking do desempenho do PIB de 45 países em
2017 e constatou que o Brasil ficou em último lugar nesse conjunto de nações,
lamentavelmente o mesmo resultado obtido em 2016. China e Romênia foram os
líderes de crescimento em 2017, mas segundo a consultoria temos condições de
melhorar em 2018, levando em conta que a maioria dos países já consolidou seu
crescimento, e o Brasil está em aceleração.
Os
investimentos – medida que pauta as possibilidades de crescimento de longo
prazo, pois demonstra a confiança na economia, aumenta a capacidade de oferta e
previne episódios inflacionários – também tiveram resultado pífio no agregado
do ano passado (-1,8%). Tanto é que o nível dos investimentos no país atingiu o
patamar mais baixo desde 1996, ficando em 15,6% do PIB. Um bálsamo é que os
investimentos tiveram resultado positivo, pelo menos no quarto trimestre –
elevaram-se 3,8% – o primeiro número favorável depois de 14 trimestres seguidos
de queda. Porém, fatores estratégicos – como a normalidade na esfera política e
os compromissos de campanha dos principiais candidatos ao Planalto – que são
decisivos para garantir a previsibilidade de que os investimentos (renovação de
equipamentos industriais, construção de rodovias e edifícios) necessitam para
prosperar, até agora são uma interrogação. Dado que a decisão de investir
sempre requer previsibilidade duradoura nos ambientes político, econômico e
jurídico.
Mesmo com a
pequena regeneração de 2017, o Brasil vai levar tempo para se recuperar da
hecatombe econômica. A Gradual Investimentos calculou que apesar desse avanço,
nosso PIB está 6% menor do que o de 2014. O ex-presidente do Banco Central,
Affonso Celso Pastore, acredita que além da frustrada Reforma da Previdência,
precisamos de diversas reformas microeconômicas (simplificação tributária,
desburocratização para a abertura e fechamento de firmas, aperfeiçoamento nas
condições para o comércio exterior, medidas para reduzir os juros para o
consumidor...) para melhorarmos a eficiência e a produtividade do país. É, o
caminho da recuperação definitiva ainda é muito longo...
*Economista - Mestre em Economia (edenjr@edenjr.com.br)
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