INCENDEIAM-SE AS VAIDADES REPRIMIDAS DOS NOSSOS PRODUTORES CARNAVALESCOS
Por Euclides Moreira Neto*
Com o fim do período carnavalesco ainda vivemos
um caloroso debate referente aos resultados dos diversos concursos
carnavalescos postos em prática na nossa ciedade. Observamos o que sempre é
constatado: um inflamado debate que foge ao bom senso e à razoabilidade de
opiniões provenientes dos mais diversos pontos atuantes da cidade, por meio de
pessoas comuns e por aqueles que se rotulam especialistas (entre os quais me
incluo). Confessamos que sob o peso dos nossos quase 60 anos, já vivenciamos
diversas experiências que hoje nos fazem rever os fatos da atualidade com mais
clareza, sem os impulsos de quando èramos mais jovem.
Temos em nossa história, marcas que foram
marcantes e que nos ensinaram muito na formação do nosso olhar e proceder
presente com mais firmeza. Podemos perceber melhor as entre linhas das palavras
e das ações de alguns atores do mundo cultural e carnavalescos como fragmentos
de verdades cristalizadas em um determinado momento, que quase sempre, o tempo
deixa cair por terras as juras de amor e fidelidade declaradas aos quatro
cantos da cidade. Afinal o carnaval é um mundo de faz de conta, de ilusão em
que as pessoas se deixam envolver como chamas e palavras que se vão ao vento.
É, pois, como uma redoma de certezas contidas
em cada mente, em cada pessoa, em cada opinião que podemos conceituar como uma
verdadeira “fogueira de vaidades” atuando em cada pessoas integrante desse
universo mágico, que se chama carnaval. Vemos as pessoas extravassando sua
falas e opiniões como se fossem caminhos da verdade, mas opinando como somente
a sua verdade fosse a única plenamente confiável, ficando as demais em um
descrédito sem precedente, pronta para ir ao lixão do descarte. As opiniões
parecem deixar as pessoas cegas, não permintindo-lhes um pouco de corencia; nem
dando-lhes a oportunidade do contrataditório. Só há valor aquelas opiniões que
são congruentes, caso contrario, morra-se.
A paixão pela torcida, pelo ser folião e por
pafticipar de um Bloco Tradicional, ou de uma Escola de Samba, de um Bloco
Afro, de um Bloco Organizado, etc., compara-se aos torcedores de times de
futebol, que organizados em patotas, não é permitido a invasão de torcedores de
outras nações culturais – que podemos até conceituá-las como “facções
culturais”, uma vez que o envolvimento chega a ser doentio, deixando como já
referenciamos acima, as pessoas quase cega de bom senso.
Nessa linha de raciocínio, queremos evidenciar
que essa maldita vaidade (que também podemos chamar de orgulho, ostentação,
presunção, futilidade, algo sem valor, soberba ou amor próprio) é o desejo de
atrair a admiração das outras pessoas, fazendo-as cumplices de suas opiniões
particulares, sem o direito do contaditório, que nos deixa refem do
radicalismo. E essa fogueira de vaidades incendeia-se e nos incendeia,
provocando os mais sórdidos sentimentos, muitas vezes revoltado por gestos
classaficados incoerentes, como as atribuições de notas aos quesitos em
julgamento nos diversos concursos postos em práticas.
Nós, na qualidade de investigador científico no
Programa Doutoral em Êstudos culturais na Universidade de Aveiro, Portugal, as
vezes ficamos pásmos com algumas notas atribuída a alguns grupos concorrente.
Como vamos citar algum fato ocorrido na apuração, vamos nos limitar em comentar
o universo dos Blocos Tradicionais do Maranhão – objeto de nossa investigação.
Por isso não entraremos no universo das Escolas de Samba e das outras
manifestações, considerando que somos ator também atuante nesses outros
segmentos.
Percebemos, por exemplo, que parte
significativa dos jurados são despreparados para julgar o que estava a julgar.
A revelação de notas consideradas viciadas, também classificadas com o “carta
marcadas”, prejudicou grupos de BTMs que passaram de maneira excelentente na
passaralea do desfile. Esse ato macula e machuca o trabalho dedicados de
dezenas de pessas doados a uma cuasa, que não há como remediar, senão deixando
a sensação de roubalheira, identicos aos assaltos à mão armada promovidos por
deliquentes e bandidos profissionais,
Como militante desse universo, percebemos que
nos dois dias de concurso dos Blocos Tradicionais, os grupos participantes
tiveram uma preocupação muito grande em superar as crise financeira por qual
passa nosso país e proporcionasse um salto de qualidade em todos os sentidos:
na confecção das fantasias, na escolha dos temas, na arrujmação dos grupo
durante os desfiles, na performance de suas baterias, na inclusão de elementos
surpresas durante o desfile, no cumprimento de horários, enfim, houve uma
decisão responsável para que os desfiles fossem melhorados.
Apoaindo-nos no que diz Canclini (2001, p. 153)
sobre a configuração que vêm sofrendo as cidades e seus bairros, quando
profundas reformulações são processadas em meio aos intensos fluxos e refluxos
socioculturais, políticos e econômicos, influenciados pelo processo de
globalização. Afirma Clanclini: “as cidades já não podem ser pensadas como
espaços monolíticos, homogêneos,
delimitados”, assim os BTMs nos mostra essa transformação, uma vez que
as cidades precisam ser concebidas “como espaço
de interação em
que as identidades
e os sentimentos
de pertencimento são formados com recursos materiais e simbólicos de
origem local, nacional e transacional”.
Por outro lado, na contramão dessa decisão
responsável dos gestores dos grupos carnavalescos, verificamos que o poder
público falhou muito, em não providenciar com antecedencia a produção do espaço
sagrado de desfile – a passarela do samba. Isso aconteceu somente na reta
final, não dando tempo de se produzir dignamente uma decoração ou ambientação
para a festa. Aliás, essa ambientação esteve ausente na cidade todas, pois não
havia uma simples máscaras nos postes como decaração, fato fundamental para
também motivar o público e os visitantes para serem participes da festa
carnavalescas. Este ano foi tudo à seco mesmo.
Voltando ao concurso dos Blocos Tradicionais,
permitam-me citar dois grupos que nos imprecionaram muito durante o seu desfile
em 2016: “Os Reis da Liberdade” e “Principe de Roma”, que inspirados em temas
bem regionais, ousaram na confecção de suas fantasias, fugindo às práticas
convencionais do imaginário lúdico venesiano (ou europeu), preferindo apoiar-se
no imaginário regional, utilizando personagens culturais locais como pai
Francisco e mãe Catirina (Reis da Liberdade) e a figura do Espantalho (Principe
de Roma), brindando o público com indumentária de alto bom gosto e esmerada
criatividade.
Ao citar os grupos “Os Reis da Liberdade” e
“Principe de Roma” não queremos desmerecer os demais participantes da festa
carnavalesca dos BTMs - não é isso. Queremos chamar atenção para o fator
criativo dos idealizadores desses dois grupos. Os demais grupos foram também
muito bons, por isso parabéns especial aos “Os Apaixonados” (BTM campeão do
grupo A), de quem eu espera mais, pelo amplo merchandisng feito previamente;
aos “Os Foliões”, pelo belo samba reeditado na avenida; aos “Feras”, aos
“Brasinhas”, aos “Tremendões”, “Fanaticos” e “Vampiros”, todos do grupo A,
pelas belas fantasias apresentadas, mais tudo dentro da normalidades. Nos
surpreendeu também o BTM “La Boêmios de Fátima”, pela ousadia de coreografar os
balizas.
No grupo B, ficamos impressionaod com “Os
Trapalhões” (BTM campeão do grupo B), pelo vigor da bateria e a fantasia
criativa; além dos “Vinagreiras Show”, pela singeleza da abordagem do tema; aos
“Boêmios do Rítimos”, que nos trouxe de volta a saudação do “Vai querer, vai
querer” para dentro da passarela .um hábito que está sendo esquecido…
infelizmente. Foram boas também as participações dos demais grupos, que ao
nosso ver sobressairam-se os grupos de BTMs “Dragões da Liberdade”, “Os Vigaristas”, “Companhia do Rítimo”, “Os
Vingadores”, “Os Coringas”, “Alegria do Rítimo”, todos realizando empolgantes
apresentações; e o “Principe da Meia Noite”, este último, talvez o mais carente
de recursos financeiros e que vem lá do distante bairro Jardim América
Giniparana, depois da Cidade Operária.
Para encerrar essa nossa reflexão sobre os
desfiles dos BTMs no carnaval ludovicense de 2016, lembramos que reflete
Canclini, sobre o reordenamento pelo qual alguns centros urbanos têm passado -
sobretudo regiões metropolitanas - se realiza ao compasso do capitalismo
contemporâneo. Ao nosso ver, esta formulação de Canclini ilumina o contexto da
introdução e expansão do movimento carnavalesco no Maranhão, considerando que
houve todo um reordenamento de valores,
que inclui a chegada, a distribuição que
o fez circular nos diversos segmentos sociais, a difusão, produção,
comercialização e aceitação identidária.
* O autor é Professor Mestre em
Comunicação Social na UFMA e Doutorando do Programa Doutoral em Estudos
Culturais na Universidade de Aveiro – Portugal.
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