Beija-Flor conquista o 13º título da sua história com enredo sobre Guiné Equatorial

RIO - A Beija-Flor de Nilópolis é a campeã do Grupo Especial do Carnaval 2015,
superando a polêmica do apoio recebido da Guiné Equatorial - país que vive sob
ditadura e que foi homenageado no desfile. Com o enredo "Um girô conta a
história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos
sobre a trilha de nossa felicidade", a escola apresentou-se luxuosa na
maior parte do desfile e teve como destaque, além do canto de seus componentes,
o casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorriso, que
ajudaram a agremiação a conquistar o topo do pódio.
Terceira
escola a entrar na Sapucaí na segunda-feira (16), segunda noite do Grupo
Especial do Rio, a azul e branca da Baixada Fluminense conquistou ontem seu 13º
título. O diretor de Carnaval da escola Laíla e o intérprete Neguinho da
Beija-Flor caíram no choro após a confirmação do título. Neguinho lembrou a
volta por cima da escola após o sétimo lugar no ano passado. "Aquele
sétimo lugar estava engasgado. Fizemos um desfile lindo. Eu estou muito
emocionado", disse o intérprete.
Cinco
mil pessoas lotaram a quadra da Beija-Flor comemorando o título, cantando sem
parar o samba que foi vencedor. Entre os mais empolgados estava o mestre de
bateria Rodinei Ferreira, 50 anos. "Merecíamos esse título, pois não
erramos praticamente nada este ano", afirmou Rodinei, que comemora seu
sétimo título à frente da bateria da azul e branca.
O
desfile - Em 2015, a Beija-Flor voltou a abusar do luxo e da tradição. Foram
poucas as inovações ou os recursos tecnológicos. A aposta maior foi na
perfeição técnica e na empolgação dos integrantes, que na avenida esqueceram o
sétimo lugar de 2014 para voltar a sonhar com um posto mais alto.
A voz
única e marcante de Neguinho da Beija-Flor, que completa 40 anos de escola, fez
do samba-enredo o ponto alto e manteve a empolgação dos 3.700 componentes,
distribuídos em 42 alas, sete carros e um tripé. O desfile teve alegorias e
fantasias impactantes e rebuscadas, com uma profusão de máscaras, carrancas,
búzios, plumas, palha e sisal.
A
comissão de frente veio sem elementos cenográficos. Munidos de lanças e
escudos, os bailarinos fantasiados de guerreiros formavam uma árvore na
avenida. Em formato de máscaras, os escudos causaram impacto ao trazer
movimentos de expressões faciais, comandados por controle remoto.
À
frente do abre-alas, um tripé trouxe uma escultura da imagem do diretor de
Carnaval na figura de um griô, velho sábio que conta as histórias antigas aos
mais jovens. O azul e o branco, cores da escola, apareceram somente no início
do desfile. Para mostrar a Guiné Equatorial ao público, predominou o verde das
florestas e da ceiba, conhecida como a "árvore da vida", um dos
símbolos da África Ocidental.
O
Sambódromo então foi tomado por uma explosão de cores para retratar ritos,
costumes e roupas usadas pelos habitantes do pequeno país africano ainda hoje.
As investidas dos exploradores europeus também foram lembradas, assim como o
tráfico de escravos. Um carro com cacau, diamante e petróleo exaltou as
riquezas do país.
Encerrando
o desfile, a mistura dos povos e a celebração da formação da nação brasileira e
o enlace entre o Brasil e a Guiné Equatorial.
Polêmica
- A Beija-Flor recebeu patrocínio da Guiné Equatorial, o país africano
homenageado no enredo, que é uma ditadura comandada há 35 anos por Teodoro
Obiang Nguema Mbasogo e tem como base da economia a exploração do petróleo. O
patrocínio gerou muita polêmica.
O
presidente da Beija-Flor, Farid Abraão, negou que o governo da Guiné Equatorial
tivesse investido R$ 10 milhões no Carnaval da escola, mas admitiu ter recebido
contribuição, sem, no entanto, informar o valor. "A gente pegou um enredo
para falar de um país africano, um país que até então muita gente não conhecia.
Nossa questão aqui é Carnaval. O regime não nos compete. Cuba era odiado pelo
mundo democrático e hoje está sendo abraçado", disse Farid. Representantes
da Guiné Equatorial acompanharam o desfile de um dos camarotes.
Apuração
- Diante de uma disputa acirrada - o Salgueiro lutou ponto aponto até o final -
representantes das 12 escolas do Grupo Especial acompanharam a apuração das
notas diretamente do Sambódromo. A cada envelope aberto, a emoção explodia
entre presidentes, puxadores, rainhas de bateria e todos que estavam na
Sapucaí.
Durante
a apresentação dos resultados no quesito Alegorias e Adereços, um momento de
tensão: o julgador Walber Ângelo não lançou a última nota da Unidos da Tijuca
e, segundo o regulamento, a escola recebeu um 10, a maior entre as três já
divulgadas na categoria. A decisão foi alvo de protestos e vaias.
Presidente
da União da Ilha, Ney Filardis comentou, antes do começo da apuração, a
expectativa em relação a novos jurados. Para ele, foi um Carnaval atípico, em
que cada décimo era precioso. Por conta da chuva da noite de domingo, ele
defendeu que nenhuma escola fosse rebaixada e que duas da Série A subissem,
tendo um Carnaval com 14 escolas em 2016. "Seria uma atitude que iria
reconhecer o sacrifício das escolas que desfilaram e tiraram seus carros do
barracão debaixo de muita chuva", afirmou ele.
O
presidente da Viradouro, uma das mais prejudicadas pela chuva, afirmou que a
escola gastou R$ 270 mil em plumas e que, por conta da chuva, o efeito delas
não foi esperado.
Classificação
Beija-Flor
- 269.9
Salgueiro
- 269.5
Grande
Rio - 269.0
Unidos
da Tijuca - 269.0
Portela
- 269.0
Imperatriz
- 268.9
Mocidade
- 268.5
São
Clemente - 268.4
União
da Ilha - 267.2
Mangueira
- 267.1
Vila
Isabel - 266.2
Viradouro
- 263.7 (rebaixada)
Confira as escolas que receberam notas máximas (com menor descartada) em cada quesito:
Harmonia: Mocidade, Salgueiro, Portela, Beija-Flor, Unidos da Tijuca
Fantasias: Salgueiro, Portela, Beija-Flor
Alegorias e adereços: Mocidade, Salgueiro, Beija-Flor, Unidos da Tijuca
Mestre-sala e porta-bandeira: Mangueira, São Clemente, Beija-Flor
Comissão de frente: Salgueiro, Grande Rio, Beija-Flor, Unidos da Tijuca
Samba-enredo: Viradouro, Mangueira, Salgueiro, Grande Rio, Portela, Imperatriz
Bateria: Salgueiro, Grande Rio, São Clemente, Beija-Flor, Unidos da Tijuca
Enredo: Mocidade, São Clemente, Portela, Beija-Flor, Imperatriz
Evolução: Grande Rio, Beija-Flor, Imperatriz
As seis primeiras escolas desfilam no próximo sábado na Sapucaí.
*Com colaboração de Laryza Nascimento e Rodrigo Trindade
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